Em depoimentos à PF em 29 e 30 de outubro, o executivo afirmou que a Petrobras era culpada pelos aditivos contratuais nas obras, principalmente modificações de projeto durante as construções de empreendimentos que levavam de três a cinco anos. Essas mudanças acabavam “interferindo negativamente no andamento da obra, gerando assim a necessidade de aditivos”. Ele afirma que, entre as “interferências” supostamente negativas feitas pela petroleira, havia “mudanças de projeto”, “falta de informações técnicas” e “atraso na entrega de equipamentos que eram da responsabilidade da Petrobras”. Na avaliação de Mendonça, todas as discussões da empresa por aumentos de preço tinham fundamento, mas a estatal “não queria pagar a conta inteira”. Os riscos, disse o delator, ficavam para o contratado, porque o valor a ser acertado só era conhecido no fim da obra.
Segundo narrou Mendonça, esse clima era aproveitado pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), morto em setembro de 2010, pelo apadrinhado Paulo Roberto e pelo doleiro Alberto Youssef para exigir propinas e “atrapalhar menos”.
No contrato da Repar, o esquema mordeu duas vezes e de duas maneiras diferentes. “Acertou-se um valor referente ao contrato e posteriormente outro valor referente ao aditivo”, explicou Mendonça. O consórcio formado pela Mendes Júnior, MPE e SOG, do grupo Toyo, executava uma obra de R$ 2,4 bilhões em 2008. Por ela, foram pagos R$ 70 milhões em propinas, um terço por empresa.
Duque, ligado ao PT, e Janene, do PP, cobraram subornos em separado. “José Janene e Renato Duque também exigiram cada qual, de forma independente, a sua parte consistente em propina”, contou Mendonça aos policiais.
O executivo diz ter sofrido em “reuniões de intimidação e ameaças” convocadas por Janene. Num dos encontros, no escritório do ex-deputado em São Paulo, ele relatou o que considerou parte das “demonstrações de poder” do pepista. “Janene sai agredindo ‘um outro cara’ de lá de dentro e ‘botando o cara para fora do escritório’”, descreveu o escrivão da PF ao ouvir o relato do executivo da Toyo.
A Mendes Júnior disse que não vai comentar inquéritos em andamento. A reportagem não localizou a MPE.
COMPERJ Um bom exemplo dos aumentos de preço está na construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), a maior obra da estatal no Brasil. Com 70 aditivos, o grupo de nove gigantes empreiteiras aumentou seus ganhos em R$ 1,1 bilhão. Isso significa acréscimo de 7% sobre o valor da estimativa de custos prevista pelos técnicos da Petrobras, apesar de os contratos inicialmente assinados preverem o contrário: uma redução de 4%. O “clube vip” do Comperj é formado pelas gigantes Odebrecht, OAS, Engevix, Queiroz Galvão, Iesa Óleo e Gás, UTC, Mendes Júnior, Toyo Setal e Galvão Engenharia.
As empreiteiras – acusadas pelos delatores de pagarem subornos em troca de contratos bilionários – receberam pelo menos R$ 11,8 bilhões da Petrobras para a construção do complexo. Com apenas 10 contratos assinados, o “clube da propina” mordeu, até o momento, 49% de todo o atual custo do complexo, de acordo com levantamento da reportagem em lista de negócios fechados para a construção da unidade. Elas foram escolhidas diretamente pelos gestores da Petrobras ou por dispensa de licitação ou por “convite”, quando a estatal escolhe aleatoriamente três fornecedores para disputar a construção de um empreendimento.
Juiz sob holofotes
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