Jornal Estado de Minas

Ditadura: Lula depõe na Comissão da Verdade nesta segunda-feira

Ex-presidente deve falar sobre seu envolvimento na luta pela redemocratização do Brasil e relembrar prisão em São Paulo

André Shalders
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será ouvido amanhã pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), em São Paulo.
Lula deve comentar o período em que esteve preso na sede do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo, entre 19 de abril e 20 de maio de 1980, após organizar greves operárias na região do ABC Paulista. A maior estrela petista também vai relembrar sua militância na luta pela redemocratização do Brasil, na década de 1980. Segundo informações da assessoria da CNV, o local e o horário exato do depoimento não foram divulgados. A oitiva também será fechada à imprensa. Lula é o segundo ex-presidente a prestar informações. No fim de novembro, o colegiado ouviu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

No fim de seu segundo governo, Lula enviou ao Congresso o projeto de lei que criava a Comissão Nacional da Verdade. Entretanto, os depoimentos dele e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não serão incluídos no relatório final da comissão, que será apresentado à presidente Dilma Rousseff e aos presidentes da Câmara e do Senado nesta quarta-feira.
As informações repassadas pelos dois ex-presidentes integrarão o acervo criado pela Comissão Nacional da Verdade, que ficará disponível no Arquivo Nacional.

“Fernando Henrique é o responsável pela criação e pela instalação da Comissão Nacional Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, em 1995. E o ex-presidente Lula enviou ao Congresso o projeto de lei que deu origem à Comissão Nacional da Verdade”, disse o presidente do colegiado, o jurista Pedro Dallari, ao blog do jornalista Roldão Arruda. Dallari também destacou o envolvimento do tucano e do petista na luta pela redemocratização.

A prisão de Lula, em 1980, ocorreu depois que ele, então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, ajudou a organizar uma das maiores greves da história do país até então. Na ocasião, cerca de 140 mil trabalhadores metalúrgicos do ABC Paulista cruzaram os braços durante 41 dias. O movimento se iniciou em 1º de abril. No dia 19, Lula foi preso. Dois dias antes, a greve havia sido considerada ilegal pelo Ministério do Trabalho do então presidente, o militar João Figueiredo (1918-1999). Enquanto esteve preso, Lula chegou a fazer greve de fome durante seis dias. Ele só foi liberado depois de um mês, em 20 de maio, por ordem do então diretor-geral do Dops, Romeu Tuma, falecido em 2010..