O monumento, concebido pelo artista e arquiteto Ricardo Ohtake, tem seis metros de altura por 12 metros de comprimento e é formado por diversas chapas de aço. Algumas dessas chapas foram pintadas de branco e nelas estão os nomes de 436 mortos e desaparecidos políticos de todo o país. As demais, de aparência enferrujada, significam os diferentes pontos de partida e trajetórias dos militantes. Transpassando a obra, uma lança perfura as hastes e representa as vidas perdidas durante a ditadura.
“A ditadura foi um movimento irracional, particularmente na questão de direitos humanos. E essa coisa irracional e caótica da ditadura causou a morte de 463 brasileiros. Pusemos os nomes desses brasileiros na placa branca, que é a luz de toda paisagem”, explicou o artista.
Presente ao evento, a ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, disse que o monumento “resgata a memória e a verdade” sobre o período. “Todo esse resgate é de fundamental importância para todos aqueles que não vivenciaram o momento.
Um dos nomes é o de Antônio Raymundo Lucena, pai de Adilson de Oliveira Lucena. “Meu pai tombou em combate no dia 20 de fevereiro de 1970, em Atibaia (SP). Ele está desaparecido até hoje. Não conseguimos recuperar os restos mortais, uma das lutas da família”, contou Adilson, que também foi preso político e chegou a viver exilado em Cuba. Segundo ele, o pai era militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e desapareceu após tiroteio em Atibaia. Adilson ainda espera que os torturadores sejam punidos pelos crimes. “Eles têm de pagar pelo que cometeram”, revelou.
“Este é um momento muito importante, porque é um resgate da história do país para as novas gerações. É um símbolo para todos aqueles que lutaram pela democracia”, disse Adilson sobre o monumento.
Outro nome é o de David Capistrano da Costa, desaparecido desde 1974. Ele militava no Partido Comunista Brasileiro. “Ele desapareceu em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul. Desde então, nunca tivemos notícias dele”, informou Cristina Capistrano, filha de David. Para ela, o pai foi preso em Uruguaiana, levado para São Paulo e, depois, para o Rio de Janeiro. “Talvez o corpo dele tenha sido incinerado na Usina de Cambaíba, em Campos, no Rio de Janeiro, após de ter passado pela Casa da Morte, em Petropólis”, ressaltou.
Conforme Cristina, o monumento é importante para resgatar a “memória dos acontecimentos e da ditadura militar” e para “para que a população, principalmente a mais jovem, saiba o que ocorreu”.
“O monumento é um marco histórico e também um compromisso de que a luta continua, porque a Comissão Nacional da Verdade não informará onde estão os corpos e quem os matou e nem responsabilizará os que mataram.
Para o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, a instalação do monumento é representativa. “Muitos órgãos de repressão se instalaram na região do Ibirapuera, que, talvez, seja o parque mais visitado da cidade de São Paulo. É um gesto importante lembrar o que aconteceu em período relativamente recente da história do Brasil e evitar, definitivamente, que nossa liberdade seja comprometida. Esperamos um estado cada vez mais democrático, participativo, livre e que os cidadãos sejam cada vez mais críticos, participativos e soberanos. Para isso, só com eleições periódicas e imprensa livre”, acrescentou o prefeito.
Durante o discurso de Haddad, algumas pessoas, que vivem na região do Parque dos Búfalos, na capital paulista, protestaram contra aprovação de um empreendimento imobiliário no local. Eles pediram uma audiência pública, com a presença do prefeito, para discutir o projeto. Os manifestantes informaram que a construção destruirá o meio ambiente e as nascentes do Parque dos Búfalos.
Fernando Haddad adiantou que audiência será realizada na próxima segunda-feira (15). Moradores da Favela do Moinho também protestaram durante a inauguração do monumento e cobraram a presença do prefeito na área. Eles reivindicaram instalação de redes de luz, água e esgoto e a reocupação organizada do terreno. Haddad se comprometeu a visitar o local na próxima semana.
Também participaram da inauguração Paulo Vannuchi, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), senador Eduardo Suplicy e Rogério Sottili, secretário municipal de Direitos Humanos, além de vereadores, deputados e membros das comissões municipal e estadual da verdade.
Com Agência Brasil .