Brasília – O anúncio de que pretende deixar o cargo acompanhado de críticas ao modelo de fiscalização das empresas estatais, sobretudo de economia mista, como a Petrobras, feito pelo ministro-chefe da Controladoria-Geral da União (CGU), Jorge Hage, evidenciou a crise interna do órgão por causa da Operação Lava-Jato. Nessa segunda-feira, o ministro reiterou que, após 12 anos de CGU, sendo oito no comando do órgão, a intenção é passar o bastão: “Já cumpri meu dever. Está na hora de descansar”. No lugar dele entra o atual secretário executivo da Casa Civil, Valdir Simão.
Nessa segunda-feira, o ministro ressaltou que é preciso que as estatais e as empresas de economia mista invistam em sistemas de controle interno. “É preciso trazer as estatais para o foco do controle porque atualmente elas têm sistema de licitação próprio”, disse. Segundo ele, esses contratos só não estão fora do alcance por causa das auditorias anuais de contas, “procedimento basicamente formal-burocrático, de baixa efetividade para fins de controle”.
Durante o seu discurso, Hage defendeu ainda a reforma política e a reforma do processo judicial, que é hoje “intoleravelmente moroso”. O ministro elogiou ainda a parceria entre a CGU e outros órgãos de investigação e fiscalização como a Polícia Federal, o Ministério Público e o Tribunal de Contas da União. Em entrevista após o evento, Hage informou que já pediu ao juiz federal Sérgio Moro a cópia da lista das 747 obras presentes em planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef, investigado pela Operação Lava-Jato e que está colaborando com a Justiça. A lista inclui várias obras públicas em diversos setores, além daquelas da Petrobras. Parte delas é tocada pela administração federal.
O ministro reclamou dos cortes orçamentários que a CGU sofreu nos últimos anos. “A Controladoria já tinha historicamente um orçamento pequeno. Representamos um peso ínfimo no orçamento federal, sobretudo se comparado com o que se evita em desperdício e desvios”, argumentou.
Hage assumiu a CGU em junho de 2006, ainda no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2010, quando montava seu primeiro escalão, a presidente Dilma Rousseff chegou a articular a troca de Hage. A petista convidou Maria Elizabeth Rocha, ministra do Superior Tribunal Militar, que recusou.