Brasília, 10 - Generais da ativa e da reserva consultados nesta quarta-feira, 10, foram unânimes em repudiar o trabalho desenvolvido pela Comissão Nacional da Verdade. O principal argumento é o de que o grupo cometeu uma imensa injustiça. A avaliação é a de que as conclusões do trabalho foram duras e desproporcionais, contaminadas pelo viés ideológico e em que se acusam injustamente mortos que não podem se defender.
Para essas fontes, os estragos ainda estão sendo contabilizados e o momento é de controle dos danos. A ideia é, primeiro, fazer avaliação do que aconteceu e uma leitura atenta do relatório para depois começar a articular ações judiciais de indenização moral por acusações, segundo eles, sem provas.
Um dos generais da ativa ironizou a conclusão do relatório da Comissão da Verdade que considerou "até certo ponto, muito positivo", no ponto em que a CNV responsabiliza a cadeia de comando pelos crimes cometidos durante o regime militar, e o Palácio do Planalto endossa a tese. No relatório, lembrou o general, a Comissão acaba por defender a tese do "domínio do fato", defendida pelo então relator do mensalão, no Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que foi tão criticada pelo governo, que sempre disse desconhecer que qualquer irregularidade estivesse sendo cometida. Para ele, isso significa, então, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff podem ser responsabilizados pelo mensalão e pelos desvios da Petrobras, seguindo o mesmo raciocínio usado para acusar os comandantes militares.
O ex-ministro do Exército general Leonidas Pires Gonçalves, 93 anos, que foi responsabilizado por ter sido chefe do Estado-Maior do I Exército de 1974 a 1976, a quem era vinculada a chefia do Centro de Operações de Defesa Interna (CODI), classificou como "hipocrisia" e uma "injustiça" a inclusão do seu nome nesta lista. "Eu já desafiei e desafio de novo que alguém tenha sido torturado neste período em que o DOI CODI estava sob minha responsabilidade. Este comportamento não é ético", declarou o general Leonidas. "O problema é que quem está no poder cria a sua verdade, que normalmente não é a verdade verdadeira e se nós fôssemos criar uma Comissão da Verdade, com certeza a história seria outra", comentou.
"Não se trata de defender quem violou direitos humanos. Também não aceitamos isso. Mas a comissão precisava tratar os dois lados de forma imparcial porque, do nosso lado, também houve mortos e direitos humanos é para todo mundo", disse o presidente do Clube Militar, general da reserva Gilberto Pimentel, que fala em nome do pessoal da ativa, que não pode dar declarações. "Ao enumerar 400 pessoas na lista, eles perdem a credibilidade porque conheço muita gente que está lista e não tem nada com isso", desabafou ele. O general Pimentel repudiou ainda a proposta de revogar a lei de anistia. "Isso é inaceitável", declarou.
Divisão
O relatório também serviu para acirrar os ânimos nas Forças Armadas. Houve muitas críticas ao atual comandante do Exército, general Enzo Peri, que, segundo militares, deveria ter assumido a postura de líder e se posicionado antes da publicação do relatório, condenando o que já se apresentava. A postura serviria como uma resposta para o público interno, que está se sentindo "aviltado" com as acusações. Agora, acreditam que perdeu-se a oportunidade e que qualquer manifestação posterior não terá mesmo efeito, já que teria uma postura defensiva e de reação a uma ação. Esta decepção não significa que poderá ocorrer qualquer tipo de quebra de hierarquia. Neste momento, a unidade em torno do comandante é considerada fundamental. Há apenas uma avaliação de que se perdeu a oportunidade de responder aos "ataques inverídicos", sob a alegação de que cada militar está se sentindo atingido.