A oposição ao governo federal vai apresentar pedido de instalação de nova Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar casos de corrupção na Petrobras no início da nova legislatura, em fevereiro. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) avaliou nesta quinta-feira, 11, que o Congresso precisa retomar as apurações do escândalo com acompanhamento direto da "opinião pública" para impedir que uma nova comissão tenha o mesmo "fim melancólico" da CPMI que estava encarregada do caso.
Na quarta-feira, 10, o relator do colegiado, deputado federal Marco Maia (PT-RS), apresentou documento com a conclusão das investigações sem pedir o indiciamento de nenhum dos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção. Para Aécio, o relatório foi um "desfecho vexatório" da comissão, que, de acordo com o tucano, foi "blindada" pela maioria do governo federal no Congresso.
"Infelizmente a base do governo permitiu que assistíssemos a um fim melancólico da CPMI. Já estamos colhendo assinaturas para instalar uma nova CPMI a partir do início de fevereiro porque o Congresso Nacional não pode privar-se de estar também ali, com os instrumentos e as prerrogativas que tem, avançando nessas investigações. Até porque, ao que parece, isso vai envolver também parlamentares", afirmou o senador, após reunir-se com parlamentares aliados em Belo Horizonte.
Mesmo Aécio ressaltou ainda que, apesar de impedir o aprofundamento da apuração no Congresso, o governo federal "não conseguiu blindar as investigações que continuam ocorrendo, agora já em outros países". Ele espera e acredita que a atuação da Polícia Federal (PF) e de outros órgãos no caso resultará na "punição exemplar de todos os envolvidos no maior crime de corrupção da história brasileira".
Em entrevista coletiva, Aécio negou ter sofrido qualquer pressão para esvaziar a atual CPMI. Documentos apreendidos pela PF no escritório da UTC participações em São Paulo indicam que o tucano teria sido "pressionado" pela Construtora Norberto Odebrecht para "não aprofundar" as apurações e que o senador, que preside nacionalmente o PSDB, teria indicado correligionários para "fazer circo" na CPMI. "É só ver os fatos. Se existe CPMI é por causa da ação da oposição, talvez em especial a minha liderança. E colocamos os parlamentares mais aguerridos na CPMI. Infelizmente, a maioria do governo abafou (as investigações)", frisou.
Extrema direita
Aécio Neves rejeitou alinhamento com setores da extrema direita e com grupos contrários à presidente petista Dilma Rousseff que pedem intervenção militar no País, a exemplo do que ocorreu em manifestação em São Paulo no último sábado, dia 5. O senador ressaltou que manterá uma "oposição vigilante", papel "tão digno quanto ser governo", mas sempre "no campo da democracia".
"Nossa oposição, nossa história, é muito clara e coerente. Vamos fazer essa oposição em favor do Brasil e dos brasileiros. Se existe algum sentimento saudosista, ele se manifestará longe de nós", declarou, sem fazer referência direta a grupos que defendem medidas como o impeachment de Dilma ou a volta da ditadura militar. "Não tem absolutamente nenhuma vinculação com a oposição democrática que fazemos no Congresso e que temos que fazer nas ruas também. Vamos fazer uma oposição vigorosa, dentro das regras democráticas. E cada um defende as teses que acha mais adequadas", completou.
André Vargas
O presidente nacional do PSDB comemorou também a cassação do mandato do ex-deputado federal paranaense André Vargas (sem partido) pela Câmara. Para Aécio, a decisão da maioria da Casa foi resultado do fim do voto secreto de parlamentares nesse tipo de votação. Vargas é suspeito de manter relações com o doleiro Alberto Youssef, preso acusado de participar de esquema de corrupção e desvio de verbas da Petrobras. "Não sei se com o voto secreto teria o mesmo resultado", disse Aécio. "Mas foi um momento importante para o Congresso Nacional e espero que outros que tenham cometido o mesmo tipo de crime, e outros que venham a cometer, recebam o mesmo tipo de sanção", concluiu.