Jornal Estado de Minas

Crise na Petrobras abala segundo mandato de Dilma

Líderes petistas temem que denúncias envolvendo Graça Foster comprometam o segundo mandato de Dilma e cobram faxina no comando da empresa no bojo da reforma ministerial

Amanda Almeida Grasielle Castro
Brasília – A manutenção da presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, e da atual diretoria da Petrobras pode deslegitimar o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff e fazê-la queimar um capital político que ela não tem.
Esse foi o recado dado por lideranças petistas na noite de sexta-feira ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e ao ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, em Brasília. A avaliação é endossada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


“O recado já foi dado à presidente. Ela tem de tomar uma decisão sob pena de trazer, para si, uma crise que até o momento atrapalhava o governo mas tangenciava o gabinete presidencial”, disse um aliado. Dilma, que comemora hoje, em Porto Alegre, 67 anos, foi avisada de que a base governista está “se debatendo no Congresso para imputar à oposição a pecha de querer deslegitimar uma vitória nas urnas”. E que, por isso, não pode dar combustível para os oposicionistas aumentarem a fogueira na qual o governo arde há tempos.

A demora para um desfecho da situação, na opinião de petistas, é que todos sabem – inclusive a presidente – que não basta uma simples troca de nomes na diretoria. “A empresa precisa passar por um processo de refundação interno e externo, pois está com a imagem completamente destruída perante os investidores”, declarou um petista.

A presidente esbarraria ainda na dúvida sobre quem colocar caso Graça Foster seja de fato destituída.

Segundo a Globonews, na última quarta-feira – dois dias antes, portanto, da reportagem do jornal Valor Econômico com as acusações feitas pela ex-gerente executiva Venina Velosa da Fonseca –, Graça Foster conversou com a presidente e colocou o cargo à disposição, mas Dilma teria dito que não havia nada contra a executiva e amiga pessoal. Mas as denúncias feitas por Venina mudam a crise de patamar, na opinião de petistas, porque, pela primeira vez, as acusações partem de alguém que está “limpo” no processo, e não de pessoas que participavam do esquema de pagamento de propina a partidos políticos e resolveram contar o que sabiam em busca do benefício da delação premiada.

Uma saída seria a presidente aproveitar o bojo da reforma ministerial que deve ser realizada ao longo da semana para substituir a atual diretoria da Petrobras. “Ela é a presidente, pode fazer o que quiser. Governo novo, ideias novas, equipe nova”, defendeu o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP).

Aniversariante de hoje, Dilma viveu nos últimos 30 dias um verdadeiro inferno astral (veja abaixo). O período, que culminou com a denúncia de Venina, começou com a sétima fase da Operação Lava-Jato, em 14 de novembro, com a prisão do ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque e de executivos de empreiteiras envolvidas no esquema. No ano passado, o inferno astral da presidente não foi diferente. Ele começou com a decisão do Supremo Tribunal Federal de expedir os primeiros 12 mandados de prisão dos mensaleiros.

A presidente resolveu comemorar a data em Porto Alegre, para onde viajou na sexta-feira, longe dos problemas e ao lado da filha Paula, do neto Gabriel e do ex-marido, Carlos Araújo. Embora o período conhecido como inferno astral se encerre no dia do aniversário, no caso da presidente pode ser que a crença popular não se confirme. Além de a operação da PF se aproximar da fase de investigação de políticos, o que deve atingir o PT, ela ainda volta a Brasília com a missão de acabar de montar o quebra-cabeça da reforma ministerial.

Inferno astral de Dilma

No último mês, a presidente recebeu praticamente uma má notícia por dia. Confira os principais eventos que abalaram o humor da petista nesse período:

14/11  O ex-diretor de serviços da Petrobras Renato Duque e chefes de empreiteiras são presos.
No mesmo dia, Julio Camargo, da Toyo Setal, disse que os pagamentos eram feitos na conta de uma empresa de Duque. Na época, aliados pediram a saída de Graça Foster.

17/11  O Banco Central tentou controlar, mas o dólar bateu R$ 2,60.

19/11  Advogado do lobista Fernando Baiano, Mário Oliveira Filho diz que não se põe um paralelepípedo no Brasil sem fazer acerto. A oposição acusa Foster de mentir na CPI.

20/11  Presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco recusa convite para Fazenda e a oposição pede afastamento de Graça Foster.

22/11  Uma revista publica que o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa avisou à presidente, então ministra da Casa Civil, em 2009, por e-mail, sobre duas obras que teriam sido usadas como fonte para desvio de recursos e pagamento de propina.

24/11  Petrobras admite que é alvo de investigação nos EUA.

28/11  Ministro da Agricultura, Neri Geller é citado, em depoimentos colhidos pela Polícia Federal, em suposto esquema de fraude com terras da reforma agrária.

3/12  O empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto e o executivo do grupo Toyo Setal, Julio Camargo, afirmaram ter pago suborno em obras da Petrobras e que parte do dinheiro foi repassada em doação eleitoral ao PT.

5/12  PIB é revisado e previsão de crescimento passa de 2% para 0,8% em 2015.

8/12  Técnicos do Tribunal Superior Eleitoral recomendaram a rejeição de contas da campanha de Dilma.

12/12  Dólar fecha em R$ 2,67. Maior valor desde 2005.

13/12  Jornal publica que a ex-gerente-executiva da área de Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, alertou a atual direção da estatal sobre ilegalidades em contratos da empresa.

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