Brasília - Acusado de "pedalar" as contas do governo durante todo o ano, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, acordou bem cedo na manhã deste domingo para correr. Ele conseguiu fazer os 5 km oficiais da prova - ou 4 km e 770 metros na marcação do GPS de um dos participantes - em 35 minutos e 28 segundos.
Colegas de Esplanada, os dois estavam entre os 600 participantes da 1ª Corrida do Tesouro Nacional. A competição, que teve R$ 83 mil de patrocínio da Caixa, arrecadou duas toneladas de alimentos, que serão doadas a instituições de caridade.
Arno é criticado dentro e fora do governo pela gestão fiscal, marcada por manobras contábeis para garantir o cumprimento das metas. Entre as mais conhecidas está a "pedalada", prática de adir despesas, mesmo obrigatórias, para obter um resultado melhor no presente, apesar de a conta sempre ficar para ser quitada no futuro.
Ao longo de 2014, o governo atrasou os repasses do Tesouro Nacional para que os bancos, principalmente a Caixa, pagasse benefícios previdenciários e sociais, como o Bolsa Família. Houve represamento de recursos para o pagamento de até mesmo programas vitrines de Dilma Rousseff, como o Minha Casa Minha Vida.
Arno tem o apoio de Dilma e pode ocupar o cargo de assessor especial da Presidência na segunda gestão. O economista de 54 anos, filiado ao PT desde a fundação do partido, começou a correr há um ano e meio, depois que parou de fumar, a convite do subsecretário de Planejamento e Estatísticas Fiscais, Cleber de Oliveira.
Na largada, às 8h30, na frente do Ministério da Fazenda, Arno parou para acertar o próprio cronômetro antes de dar o pique. Não ficou, claro, no pelotão de frente, mas manteve o ritmo durante quase toda a prova, cujo trajeto partia da Fazenda, passava por todos os ministérios, descia à Praça dos Três Poderes e terminava no local onde Arno trabalha todos os dias, de terno e gravata.
A parte mais difícil, contou o próprio secretário, foi a subida do Palácio do Planalto, onde a presidente despacha, para o Congresso Nacional. Tarefa tão árdua quanto a aprovação da proposta que liberou o governo de cumprir a meta fiscal. Depois quase 19 horas de sessão e muita confusão, os parlamentares aprovaram, no início deste mês, o projeto que permite ao governo fechar as contas deste ano. Na prática, a meta de ao menos R$ 81 bilhões deixa de existir e as contas podem até mesmo ficar no vermelho.
Depois de cruzar a linha de chegada, a reportagem do Estado perguntou ao secretário o que ele considerava mais difícil: correr 5 km ou entregar a meta de superávit primário. "É mais fácil correr a meia maratona", respondeu ainda ofegante e com a camisa encharcada de suor. Com tanta disposição, disseram que ele já poderia pensar na São Silvestre, prova com 15 km em tradicionais pontos da região central de São Paulo. Rápido no gatilho, ele revidou: prefere a meia maratona de Nova Iorque (21,1 km).