Brasília - O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, está prestes a sair do cargo. Nomeado há apenas um ano e meio para substituir Antonio Patriota, Figueiredo perdeu o lugar com a decisão da presidente Dilma Rousseff, influenciada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de fazer o governo brasileiro retomar os caminhos do comércio exterior.
Com um déficit nas contas externas de US$ 4 bilhões, o Brasil precisa voltar, de novo, os olhos para a promoção comercial - uma área com a qual o ministro não tem qualquer familiaridade.
Figueiredo só não sai se Dilma não conseguir nenhum substituto, o que seria improvável, apesar de nenhum nome forte circular no momento. Mais do que isso, pela primeira vez, desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi chanceler do governo de Itamar Franco, o cargo pode voltar às mãos de um político, se vencer a tese que está sendo defendida por Lula, de onde vem a maior pressão pela substituição de Figueiredo sem que haja, no entanto, um forte candidato.
Lula, que tem sido o principal interlocutor de Dilma na montagem do próximo governo, acha que ao ministro faltam iniciativa e preparo para lidar com questões comerciais - avaliação compartilhada por Dilma - e que um nome político forte traria ao Itamaraty o prestígio que hoje lhe falta. Dentro do próprio ministério, essa é uma vertente que ganhou força nos últimos meses. Apesar de há anos defenderem um chanceler de carreira, diplomatas vêm um nome político como uma solução para a falta de voz do ministério no governo de uma presidente que tem pouca vocação internacional.
Caixeiro-viajante
O ex-presidente tem afirmado a Dilma que a situação atual é semelhante à de quando ele próprio assumiu o governo, em 2003, sendo necessário mostrar ao mercado a decisão pela estabilidade econômica, como foi feito com a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. E também de compromisso com a indústria brasileira.
O ministro das Relações Exteriores precisa ser, segundo o ex-presidente, um “caixeiro-viajante” e retomar a política de “vender o Brasil” da mesma forma como ele e seu chanceler, Celso Amorim, o fizeram. É preciso também, na perspectiva de Lula, retomar cooperações com a África, Oriente Médio e América Central.
A avaliação do ex-presidente é compartilhada com outros setores, especialmente a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mostra desânimo com a falta de apetite pela promoção comercial, não só no Itamaraty, mas em outros setores do governo.
A confederação chegou a se unir à Associação dos Analistas de Comércio Exterior, funcionários de carreira do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) para propor a criação de uma adidância de promoção comercial nas embaixadas brasileiras - ideia já descartada pela presidente por considerá-la “desnecessária”. A contraproposta do governo, até agora, é dar mais peso aos setores de promoção e defesa comerciais das embaixadas com diplomatas experientes.
Aptidão
Desde o início de seu governo, Dilma deu pouca atenção ao lado diplomático do governo.
Sua frase mais conhecida entre os diplomatas, ao tratar de encontros internacionais é “o que nós vamos ganhar com isso”. Em seu governo, o Itamaraty, pela primeira vez em mais de uma década, sofre não apenas com a falta de espaço, mas com a falta de recursos até para participar de encontros e negociações internacionais. .