Jornal Estado de Minas

Força-tarefa do MP denuncia grupo ligado ao PMDB por corrupção na Petrobras

MP quer ação contra o ex-diretor da estatal Nestor Cerveró e outros três por corrupção na compra de navios. Decisão cabe a juiz que transformou ontem mais 10 executivos em réus

Eduardo Militão
Nestor Cerveró, ex-diretor da estatal, é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro - Foto: Evaristo Sá/Reuters - 2/12/14
Brasília – O Ministério Público denunciou por corrupção um indicado do PMDB na Petrobras, acusando-o de receber propinas por autorizar gastis diretos de R$ 3,22 bilhões em afretamento de navios da Samsung no exterior. O ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró foi denunciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, assim como o lobista Fernando “Baiano” Soares, que opera para o partido, de acordo com o executivo Júlio Camargo e com o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. A denúncia, realizada no âmbito da Operação Lava-Jato, ainda precisa ser aceita pela Justiça Federal. Ontem, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Criminal do Paraná, abriu ações contra 10 executivos de duas empreiteiras elevando para 19 o número de réus da sétima fase da operação.


Moro aceitou denúncia contra quatro diretores da Galvão Engenharia e seis da OAS. No grupo da Galvão estão o presidente Jean Alberto Luscher Castro, o diretor de Negócios, Erton Medeiros Fonseca, e os executivos Dario de Queiroz Galvão Filho e Eduardo de Queiroz Galvão. Os diretores da Galvão Engenharia terão que devolver aos cofres públicos R$ 256,5 milhões por desvios nas obras das refinarias da Comperj, no Rio, e da Repar, no Paraná. No grupo da OAS, estão o presidente da empresa, José Aldemário Pinheiro Filho e os funcionários João Alberto Lazzari, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Fernando Augusto Stremel Andrade, José Ricardo Nogueira Breghirolli e Mateus Coutinho de Sá Oliveira.

Também foram acusados o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e o dono da MO Consultoria, Waldomiro de Oliveira, que já haviam sido transformados em réus na sexta-feira, com outros cinco acusados. A maioria deles está presa.

Os depoimentos foram marcados para o início de fevereiro. Os acusados responderão por corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro.

Na denúncia do Ministério Público, por sua vez, a força-tarefa de procuradores da Operação Lava-Jato pede a condenação de Camargo por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e crimes financeiros e do doleiro Alberto Youssef, por lavagem. A Procuradoria pede que R$ 296 milhões retornem aos cofres públicos, por meio do confisco de R$ 140 milhões já bloqueados em bens e contas correntes e de R$ 156 milhões em ressarcimento por prejuízos causados.

Executivo da Toyo Setal e um dos operadores do esquema, Júlio Camargo afirmou, em delação premiada, que bancou propinas para garantir à Samsung a contratação de dois navios-sonda em 2006 e 2007: o Petrobras 1000 e Vitória 10000 custaram US$ 586 milhões e US$ 616 milhões, respectivamente. Ele disse que, a pedido de Baiano, fez os pagamentos em contas no exterior indicadas pelo lobista: US$ 15 milhões e US$ 20 milhões.

Parte do dinheiro seguiu para os bolsos de Cerveró, segundo análise da Procuradoria. Atas da Petrobras mostram que ele propôs a contratação direta da Samsung. No primeiro negócio, Camargo fez 35 pagamentos para contas indicadas, mas “uma dessas contas era diretamente controlada” por Cerveró, disseram os nove procuradores da força-tarefa. “Não há qualquer dúvida de que Fernando Soares repassou parte deste valor ao então diretor da área internacional, Nestor Cerveró”, garante o grupo coordenado por Deltan Dallagnol. O MP entende que o ex-diretor agiu de maneira ilegal ao contratar a Samsung diretamente, sem abrir concorrência.

Além de depósitos no exterior, na segunda contratação, Camargo recorreu ao doleiro Alberto Youssef para pagar os subornos à dupla Baiano e Cerveró, de acordo com a Procuradoria. Para isso, o doleiro teria feito 17 operações de lavagem.

Ilações

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse ao Estado de Minas que o Ministério Público exagerou porque Camargo “jamais acusou diretamente” Cerveró. Ele classificou a acusação de “açodada” e negou que seu cliente tenha recebido propinas.
“A denúncia espelha, apenas, ilações do Ministério Público Federal despidas de provas”, criticou. Ribeiro admite a contratação direta, mas afirma que foi legal. Diz que havia falta de sondas para águas profundas à época.
A advogada de Camargo, Beatriz Catta Preta, afirmou que, como seu cliente fez acordo de delação premiada, é natural ser denunciado. Ela espera que ele obtenha o benefício da redução da pena.

Procurada em seus escritórios no Rio de Janeiro e fora do país, a Samsung não esclareceu ao jornal qual o valor médio das comissões pagas a seus representantes. A Petrobras e o advogado de Fernando Baiano não prestaram esclarecimento ao jornal até o fechamento desta edição. Os advogados de Alberto Youssef não foram localizados  nessa segunda-feira.

 

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