Jornal Estado de Minas

Confira retrospectiva do "turbilhão" na política brasileira em 2014

Brasil viveu um de seus períodos políticos mais intensos este ano, marcado por série de reviravoltas na acirrada campanha eleitoral e escândalo de corrupção na Petrobras

Flávia Ayer
Antes de começar, 2014 já se anunciava como um ano de fortes emoções por reunir dois eventos marcantes: a Copa do Mundo no Brasil e as eleições presidenciais.
Mas, apesar do prenúncio, nem as mais ousadas previsões dariam conta de antever o que este 2014 de acontecimentos superlativos reservava à política nacional. De janeiro a dezembro, brasileiros testemunharam desde o desenrolar do escândalo da Petrobras, maior esquema de corrupção investigado no país, até a eleição presidencial mais acirrada da história, que contou com a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) e culminou com a reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). Não por acaso, cientistas políticos consideram que as repercussões não se encerrarão com o ano novo.


Nesse entremeio, ainda houve fatos inusitados, como a aposentadoria do senador José Sarney (PMDB-AP), de 84 anos. Primeiro presidente da República na redemocratização, Sarney, alvo de diversas denúncias de corrupção, pôs fim a 60 anos na política. Quem também se despediu da vida pública foi o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, de 59, relator do processo do mensalão. Em julho, o ministro, protagonista de brigas e discussões no STF, deixou a Corte, 11 anos antes da aposentadoria compulsória. Há 11 anos no Supremo, ele disse no discurso da despedida estar de “alma leve”.


As eleições rendem capítulo à parte.

Um ano depois de os brasileiros irem às ruas nas manifestações de 2013, candidatos assumiram o discurso da mudança, mas o processo eleitoral acabou, na prática, acentuando a histórica polarização entre o PT de Dilma e o PSDB do candidato derrotado, o senador Aécio Neves. “Isso gerou um debate político mais acalorado e, com todos os componentes, gerou prolongamento do debate eleitoral até depois do pleito”, afirma o professor do Departamento de Ciências Políticas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Manoel Leonardo Santos.

Ao longo da campanha, eleitores ficaram chocados com a morte do candidato Eduardo Campos (PSB), ex-governador de Pernambuco, vítima de acidente aéreo em Santos, no litoral paulista. Apresentado como uma “terceira via”, em oposição ao PT e ao PSDB, ele foi substituído pela vice, a ex-senadora Marina Silva. Em dois meses, Marina teve chances reais de se tornar presidente e, ao mesmo tempo, sofreu queda avassaladora nas pesquisas de intenção de voto e acabou fora do segundo turno. “Mas, pela primeira vez, houve uma terceira força com maior chance de vitória”, afirma a cientista política Maria do Socorro Braga, professora da Universidade Federal de São Carlos.

PROTESTOS A vitória apertada de Dilma sobre Aécio, com a diferença de apenas 3 milhões de votos, fez emergir também um movimento de direita conservador. Manifestantes foram às ruas pedir o impeachment da presidente e até o retorno da ditadura militar. “Esse ressurgimento de alas mais conservadoras chamou a atenção. Isso precisa ser tratado. É preciso discutir temas que envolvem escolhas éticas mais complexas, como a legalização do aborto, a pena de morte, o casamento entre pessoas do mesmo sexo”, reforça Manoel Leonardo.

Deflagrada em março, a Operação Lava-Jato da Polícia Federal também marcou o ano e desvendou esquema de lavagem de dinheiro e propina na Petrobras, a maior estatal brasileira, que movimentou cerca de R$ 10 bilhões, segundo a PF. Até agora, já são 39 denunciados pelo Ministério Público (MP), entre eles políticos, empresários e executivos de empreiteiras. “Esse escândalo leva a classe política a repensar aspectos de financiamento político-partidário”, afirma Maria do Socorro. “Pela primeira vez, estamos vendo também a classe alta sendo responsabilizada. Isso tem que ser valorizado.
Só assim partidos poderão fazer reflexão para a democracia brasileira ter suas instituições aperfeiçoadas”, diz.

2014
Principais momentos políticos deste ano envolveram os brasileiros em momentos de surpresa, tristeza, comoção e revolta. Para especialistas, ecos de alguns eventos não acabarão com a chegada do ano novo.

Janeiro

Aliança entre o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) e a ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade, partido ainda informal, começa a ganhar forma.

Março

PF deflagra a Operação Lava-Jato e desmonta esquema corrupção na Petrobras. Entre os presos, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa.

Abril

A presidente Dilma Rousseff sanciona o projeto que estabelece o Marco Civil da Internet. O texto pretende manter o caráter aberto da rede. Regulamentação será discutida com sociedade.

Junho

Aos 84 anos, 60 deles na política, o senador José Sarney (PMDB-AP) anuncia que não será candidato e que vai se aposentar.

Julho
O então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, deixa a Corte, aos 59 anos.

Agosto
O candidato à Presidência da República pelo PSB, Eduardo Campos, de 49 anos, morre em acidente aéreo em Santos. Velório reúne dezenas de políticos.

Setembro
Favorecida pela comoção gerada pela morte de Eduardo Campos, Marina Silva, que assumiu a candidatura à Presidência da República pelo PSB, tem crescimento meteórico nas pesquisas de intenção de voto.

Outubro

Nas eleições presidenciais mais disputadas da história, o senador Aécio Neves (PSDB), em terceiro lugar nas pesquisas na maior parte da campanha, desbanca Marina Silva (PSB) e vai para o segundo turno com a presidente Dilma Rousseff (PT).

Dilma Rousseff é reeleita com 54 milhões de votos

Aécio Neves termina em segundo, com 51 milhões de votos

Novembro

Em nova fase da Operação Lava-Jato, a PF prende mais de 20 pessoas, a maioria executivos de empreiteiras que têm contratos com a Petrobras.

Grupos de manifestantes vão às ruas pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Protestos contam com a participação de defensores do retorno da ditadura militar.

Dezembro
A ex-gerente da Petrobras Venina Fonseca afirma ter alertado por e-mail e em conversas pessoais, em 2009, a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, de irregularidades em contratos com empreiteiras.

Comissão Nacional da Verdade (CNV) entrega relatório final a Dilma com informações sobre torturas durante a ditadura militar e responsabiliza
377 pessoas.

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