Futuro ministro da Defesa, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), teve como último ato público antes da transmissão do cargo para seu sucessor, Rui Costa (PT), na próxima quinta-feira, dia 1º, a solenidade que marcou a entrega do relatório parcial da Comissão Estadual da Verdade (CEV-BA).
No documento, recebido por Wagner nesta segunda-feira, 29, os participantes da comissão defendem a revisão da Lei de Anistia, para ter acesso aos dados militares, e punições a quem tenha praticado crimes contra os direitos humanos, como a tortura. Além disso, pedem que o governo estadual crie um projeto de lei de prevenção à tortura e que o currículo de escolas públicas e instituições de formação militar seja alterado.
"Crimes contra a humanidade não prescrevem", defendeu o jornalista Carlos Navarro Filho, integrante da comissão encarregado de entregar o relatório a Wagner. De acordo com ele, as alterações na formação dos estudantes de escolas públicas e instituições militares tem como objetivo a "reconstrução da verdade histórica".
Prestes a assumir o Ministério da Defesa, Wagner reconheceu a importância da investigação do grupo, que envolveu, até agora, entrevistas com 69 vítimas da ditadura no Estado e a coleta de cerca de 700 documentos. Ele também e prometeu colaborar com a Comissão Nacional da Verdade, mas evitou possíveis controvérsias sobre o tema e recomendou "cuidado e parcimônia" na condução dos trabalhos.
"Um projeto político não pode conviver com a falta da verdade - e a verdade histórica tem de ser reconhecida", argumentou o governador. "Mas essa página não tem retorno. O ministério da Defesa é um transatlântico, que não permite cavalo-de-pau. Precipitação não contribui (com o processo)."
Wagner também defendeu as Forças Armadas, ao dizer que "é preciso falar das pessoas" que cometeram violações dos direitos humanos - apesar de não ter explicitado defender o fim da anistia - e ao lembrar dos setores da sociedade civil que apoiaram e se beneficiaram da ditadura.
O futuro ministro da Defesa estudou em colégio militar, no Rio, mas foi perseguido pelo governo militar quando presidia o diretório acadêmico do curso de Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). Por isso, foi forçado a se mudar para a Bahia, onde iniciou a carreira política, como dirigente sindical do Pólo Petroquímico de Camaçari..