Ministros assumem com discurso afinado com Dilma

Pelo menos 15 titulares assumiram suas pastas e divulgaram planos para os próximos quatro anos. Educação, Comunicação e Defesa terão papel de destaque no novo mandato de Dilma

Maria Clara Prates
Cid Gomes prometeu anunciar na semana que vem o novo piso salarial do magistério - Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

Um dia depois da solenidade de posse do segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), nessa sexta-feira foi a vez de os ministros que compõem a equipe da petista assumirem suas pastas e divulgarem seus planos para os próximos quatro anos, afinados com o discurso feito pela presidente na véspera. Pelo menos 15 dos 39 titulares trabalharam normalmente depois do feriado de fim de ano. Em sua fala no Congresso Nacional, Dilma anunciou que o lema de seu segundo governo será “Brasil, pátria educadora”, e, na esteira do tema, o novo ministro da Educação, Cid Gomes (Pros), anunciou uma reforma no ensino médio das escolas brasileiras que leve em conta as diferenças culturais dos estados. Gomes também aproveitou para anunciar que o piso salarial para os professores este ano será definido na próxima semana, sem, no entanto, falar em valores.

Para promover a reforma do currículo, o ministro disse que ela será debatida com diversos setores da sociedade antes de ser implementada, num prazo de dois anos. Para ele, os estudantes têm que ter contato maior com matérias que possam embasar os cursos que pretendem seguir nas universidades. “Temos como grande meta melhorar a qualidade do ensino fundamental. No ensino médio, além de ampliar o acesso, reformar o currículo, compreendendo as características regionais de cada estado”, afirmou. E aproveitou mais uma vez a importância dada por Dilma à pasta: “O Brasil, nos últimos 12 anos, teve grande êxito com políticas sociais e de segurança alimentar, permitindo que o país saísse do mapa da fome.
Agora, o novo desafio é o da inclusão pelo saber. A educação é o caminho certeiro para o desenvolvimento humano”, disse Gomes.

Cid Gomes ainda aproveitou a posse para tentar aliviar uma certa insatisfação dos professores com o ministro em razão da declaração de que eles “devem trabalhar por paixão, e não por dinheiro”, quando ainda era governador do Ceará. “O que eu disse é que qualquer servidor público, seja ele vereador, governador, médico, deputado, professor, antes de qualquer coisa, precisa ter vocação. É um espaço que você tem por natureza, a posição de sacrifício pessoal. Claro que você tem que ter boa remuneração. Eu nunca disse que não. Seria um contrassenso, porque sou filho de professores. Até por experiência pessoal sei da importância de ter boa remuneração”, afirmou. Disse ainda que, antes de definir o piso salarial, quer “conversar com representantes de quem vai receber e de  quem vai pagar antes de anunciar publicamente”.

Feridas

Diante de oficiais das Forças Armadas, Jacques Wagner defendeu 'conciliação nacional' - Foto: valter Campanato/Agência Brasil O novo ministro da Defesa, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner (PT), optou por um discurso conciliador ao tomar posse. O petista disse que os militares não pensam em ruptura da democracia, defendendo a “conciliação nacional” quando lembrou das “feridas deixadas” pelo período de ditadura. “Eu acho que as pessoas precisam colocar no tempo e no lugar cada coisa.
Aquele momento correspondeu aos militares que estavam lá naquele momento, que não necessariamente são os militares que estão aqui hoje, com outros desafios, com outra cabeça. Eu não acredito que hoje, na cabeça de nenhum militar, esteja presente que a ruptura da democracia possa ajudar o desenvolvimento do país”, defendeu o petista. Disse ainda: “Eu não vim aqui com nenhuma lanterna na mão para procurar o passado. Eu vim aqui olhando para a frente. 99,9% da minha preocupação é fazer futuro”.

Mesmo com o discurso conciliador, Jaques Wagner disse que não vai ignorar as recomendações da Comissão Nacional da Verdade (CNV) – que apurou as violações de direitos humanos durante o regime militar –, mas ressaltou que elas serão “processadas internamente pelo ministério”. Comprometeu-se ainda a se empenhar no cumprimento das sugestões. “Estamos distantes 50 anos do fato e não há por que a gente ficar colocando nenhum tipo de obstáculo ao que a gente tem pela frente para o Brasil. Então, elas serão processadas. Eu digo que a verdade e a transparência não machucam ninguém”, declarou

Mídia

Em seu discurso, Ricardo Berzoini tocou em tema polêmico: a regulamentação da mídia - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil Ricardo Berzoini, outro colaborador da presidente Dilma Rousseff no primeiro mandato, quando comandou a pasta de Relações Institucionais, e tido como hábil negociador do PT, assumiu o cargo de ministro das Comunicações, tocando num tema polêmico: a regulamentação da mídia. Ele afirmou que o governo vai encaminhar proposta para o Congresso Nacional, depois de “abrir um debate” para colher sugestões sobre o tema.
“Quem regulamenta é o Congresso. O Poder Executivo pode, no máximo, apresentar suas propostas. Mas pode também fomentar a discussão e fazer com que as pessoas compreendam de maneira bastante clara o que já está na Constituição e o que é necessário para que se tornem esses direitos constitucionais efetivos”, afirmou. Segundo ele, o ministério vai ouvir os setores empresariais, sindicais e organizações sociais para formular a proposta final de regulamentação econômica da mídia.

Durante toda sua fala, no entanto, o petista tratou de afastar qualquer possibilidade de censura à imprensa. Berzoini disse que, no processo de regulamentação, a liberdade de imprensa será preservada, como também determina a Constituição. Ele defendeu maior difusão de conteúdo, não apenas o oferecido pelas empresas de comunicação. “Quanto mais avanços de tecnologia, mais essa liberdade de expressão está assegurada, porque há novos meios tecnológicos para que não apenas grandes corporações possam se expressar, mas para que o cidadão também possa se organizar para ter a sua comunicação”, garantiu. (Com agências).