Novo governo em Minas faz prefeitos sonharem com mais verbas

Logo nos seus primeiros dias no Palácio Tiradentes, o governador Fernando Pimentel (PT) deve se preparar para as reivindicações dos prefeitos das principais cidades do interior do estado. Os chefes de Executivo do PT e de outros partidos que estiveram na campanha de Pimentel – como é o caso do PMDB – já preparam a “fatura”, acreditando que poderão ser mais ouvidos na hora que o governo for decidir o destino dos investimentos. Por outro lado, prefeitos que não apoiaram o petista em 2014 afirmam que pretendem estabelecer “um relacionamento republicano” e esperam um tratamento igualitário, que, na prática, significa a liberação de recursos para construção de hospitais, asfaltamento de ruas e outras obras.

O prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz, é filiado ao PRB, partido da base de Pimentel. Porém, na campanha eleitoral do ano passado, apoiou o candidato a governador derrotado Pimenta da Veiga (PSDB). Muniz tem como principal oponente o deputado estadual Paulo Guedes (PT), nomeado secretário de estado do Desenvolvimento do Norte de Minas e dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Guedes foi derrotado pelo atual prefeito na disputa do segundo turno da eleição municipal de 2012 e já anunciou que concorrerá novamente à prefeitura em 2016. Nos últimos dois anos, o petista influenciou o grupo de oposição na Câmara, que conseguiu impedir a votação de vários projetos de interesse do Executivo.

Ruy Muniz disse esperar que a disputa local não seja levada em conta pelo governador do estado na hora de definir os investimentos para os municípios. “O governador Fernando Pimentel teve 65% dos votos em Montes Claros e agora terá que olhar quais são as necessidades do município. Teremos que estabelecer uma boa relação da cidade com o governo do estado”, argumenta o prefeito. “Logo tentarei marcar uma audiência com o governador”, acrescenta. Ele revela que já tem pronta uma relação de reivindicações a ser encaminhada a Pimentel, com sete ações prioritárias. A primeira delas é a construção do Hospital Regional de Montes Claros, projeto já licitado pela gestão estadual anterior e que está orçado em R$ 100 milhões.

Situação parecida é encontrada em Varginha, de 131 mil habitantes, no Sul do estado, onde o atual prefeito, Antônio Silva (PTB), tem como principal adversário o ex-prefeito Eduardo Carvalho (PT). Em 2012, o petista concorreu à reeleição e foi derrotado por Carvalho. Em 2014, Antonio Silva apoiou a candidatura a governador do tucano Pimenta da Veiga, que levou a melhor contra Pimentel em Varginha. O PTB declarou oposição ao atual governador na Assembleia Legislativa. No entanto, o chefe do Executivo de Varginha acredita que nada disso vá interferir nas relações entre o município e o estado. “Não estamos numa campanha política. A minha expectativa é de que, dentro de uma política moderna, Varginha terá um tratamento republicano, à altura do que merece. Não haverá discriminação e os projetos em andamento terão continuidade”, comenta. Entre as reivindicações a serem apresentadas pelo município à nova gestão estadual, Antonio Silva destaca a duplicação do trecho de acesso à Rodovia Fernão Dias, de 18 quilômetros, cujo projeto já foi elaborado.

Trilhos

O prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB), não só apoiou a candidatura de Fernando Pimentel como também coordenou a campanha do atual governador na região do Triângulo Mineiro no ano passado. Ele entende que a situação econômica do estado “não é muito positiva”, mas espera receber benefícios por parte da nova administração estadual. “Compreendemos as dificuldades financeiras de Minas. A minha expectativa é de um governo de mudanças e de que o estado seja colocado nos trilhos. Como apoiamos politicamente o Pimentel, consideramos que isso é um fator importante para que Uberaba também possa ser contemplada com recursos do governo do estado”, avalia o Paulo Piau.

Entre as principais reivindicações de Uberaba, ele cita a criação do projeto da Região Metropolitana do Triângulo e Alto Paranaíba e a construção do aeroporto internacional da região. Segundo Piau, a disputa entre Uberaba e Uberlândia para decidir qual município deve sediar o empreendimento não existe mais. “Não vamos brigar por isso. Já abrimos mão dessa disputa.”

Fernando Pimentel também recebeu o apoio do prefeito de Juiz de Fora, Bruno Siqueira (PMDB). A reportagem tentou e não conseguiu contato com Siqueira. Mas, conforme a assessoria da Prefeitura de Juiz de Fora, o atual prefeito vive a expectativa de receber importantes benefícios do governo, sobretudo por conta da sua boa relação com o vice-governador Antônio Andrade (PMDB). Entre outras obras, a prefeitura espera recursos estaduais para concluir a construção e equipar o Hospital Regional. Cerca de 70% das obras do hospital já foram feitas e a previsão é que a parte física seja concluída em 2015.

Minoria nos gabinetes Os partidos da coligação que elegeu Fernando Pimentel governador (PT, PMDB, PCdoB, PRB e PROS) têm pouco menos de um terço dos 853 prefeitos mineiros eleitos em 2012. De acordo com os números do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), juntos, eles somam 264 prefeitos, com a seguinte divisão: PMDB (117), PT (113), PCdoB (20) e PRB (14). Apesar da minoria, PT, PCdoB e PMDB administram a segunda, a terceira e a quarta maiores cidades mineiras, respectivamente Uberlândia, com o prefeito Gilmar Machado (foto); Contagem, com Carlin Moura; e Juiz de Fora, com Bruno Siqueira. Na lista do TRE não consta nenhum chefe do executivo do PROS. Dos partidos da oposição, o PSDB é a sigla com maior número de prefeitos (136), seguido do PP (73), DEM (64) e PPS (29).