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Estado de Minas

Dilma escala cinco ministros como conselheiros

Pressionada por problemas de interlocução, presidente reedita conselho político de Lula


postado em 05/01/2015 06:00 / atualizado em 05/01/2015 07:15

Brasília – A presidente Dilma Rousseff vai resgatar o conselho político do governo, modelo adotado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao longo dos oito anos de mandato no Palácio do Planalto. Dilma foi convencida a ampliar a interlocução e o debate interno das ações do Executivo e, sobretudo, a criar mecanismo para atenuar eventuais crises políticas em um ano que se desenha, nas palavras de um aliado, “muito difícil”. Segundo apurou o Estado de Minas, farão parte desse colegiado os ministros Pepe Vargas (Secretaria de Relações Institucionais), Aloizio Mercadante (Casa Civil), Jaques Wagner (Defesa), Miguel Rosseto (Secretaria-Geral da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Justiça).


A periodicidade das reuniões do conselho ainda não foi decidida. Durante o governo Lula, elas aconteciam todas as segundas-feiras, para traçar o cenário político que o Planalto enfrentaria ao longo da semana. Lula foi obrigado, ao longo do mandato, a corrigir uma distorção que se repete na composição do atual grupo: a participação exclusiva de ministros petistas, desprezando outras legendas aliadas, sobretudo o PMDB.

A formação do grupo atende a vários objetivos. O primeiro deles é não deixar Pepe Vargas – elogiado pela capacidade de diálogo, mas um neófito nas articulações políticas mais amplas – sozinho com a missão de negociar com um Congresso hostil. “Ele vai precisar de ajuda, porque, sozinho, não vai dar conta do recado”, disse um petista graduado do Congresso, apontando o Salão Nobre do Palácio do Planalto. “Quando muito, viemos nós, petistas (para a posse de Vargas). Onde estão os líderes de outros partidos?”, questionou o parlamentar.

Durante o discurso de transmissão de cargo na última sexta-feira, Ricardo Berzoini, que assumiu o Ministério das Comunicações, exaltou o sucessor Pepe. “Ele foi prefeito duas vezes (de Caxias do Sul). Por ter sido prefeito, ele sabe a necessidade das articulações políticas para que uma administração seja exitosa”, elogiou Berzoini. “Eu conheço o trabalho dele no Congresso e no Ministério do Desenvolvimento Agrário. Pepe é muito hábil”, garantiu o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antonio Augusto de Queiroz.

Caciques peemedebistas, contudo, acreditam que a troca será ruim, já que Berzoini tinha muito mais cancha política – ele foi ministro três vezes e presidente do PT durante o pior momento vivido pelo partido, em 2005, com a eclosão da CPI dos Correios no Congresso. “Ele corre o risco de transformar-se em um novo Luiz Sérgio (primeiro ministro da coordenação política de Dilma, em 2011) e ser um mero anotador de recados”, disse um parlamentar da cúpula do PMDB.

Outro objetivo de se formar uma estrutura colegiada de coordenação é evitar que Pepe fique à mercê do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Considerado homem forte do novo mandato da presidente, ele é visto com desconfiança e ciúmes por outros integrantes do governo, pelo livre trânsito que tem junto à presidente Dilma. Pior: mesmo sendo um nome histórico do partido, é considerado excessivamente voluntarioso na articulação política.

Segundo aliados do governo, a presidente Dilma já foi alertada que os superpoderes concedidos ao chefe da Casa Civil podem ser perigosos. “Ele pensa exatamente como ela. Não que o chefe da Casa Civil possa ter um comportamento autônomo. Mas eventuais discordâncias são fundamentais para se corrigirem rumos do governo”, defendeu um ministro que terá assento no conselho político. Além disso, muitos petistas lembram, de maneira jocosa, o dia em que Mercadante, líder do governo no Senado, tuitou que deixaria o cargo de maneira irrevogável. Mudou de ideia após uma conversa com o então presidente Lula.

Defesa

O Conselho Político também é uma forma de a presidente manter próximo o novo ministro da Defesa, Jaques Wagner. “Além de ter gostado de ser nomeado para a pasta, por considerá-la estratégica, ele recebeu a promessa de que integrará o núcleo de decisões palacianas”, disse um aliado do ministro baiano. Wagner chegou a ser cotado para diversas pastas — a Casa Civil, de Aloizio Mercadante; a Secretaria de Relações Institucionais, de Pepe Vargas; e até o Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior, de Armando Monteiro. Ficou na Defesa, mas, ainda assim, terá voz ativa ao longo dos próximos quatro anos.

Miguel Rossetto, que também integrará o Conselho Político, destacou o seu papel durante a transmissão de cargo na última sexta-feira. “Me sinto muito honrado por ter sido nomeado ministro e por ter ajudado a compor a coordenação política do governo da presidente Dilma Rousseff.” Além deles, será convidado para os encontros o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que permanecerá no governo por, pelo menos, mais um ano, para evitar a imagem de turbulência nas investigações da Operação Lava-Jato.

Mutação constante nos tempos de Lula


A coordenação política do governo Lula foi se alterando à medida em que o governo do petista começava a enfrentar as crises políticas. Inicialmente, o grupo era formado pelo chefe da Casa Civil, José Dirceu; pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci; e pelo ministro da Secretaria de Comunicação, Luiz Gushiken. Responsáveis pela eleição de Lula em 2002, o triunvirato discutia os rumos do Executivo, mas as divergências de opiniões se intensificaram, levando os aliados próximos a comparar os encontros semanais à instabilidade da Faixa de Gaza.

Quando a crise do mensalão eclodiu, e Dirceu teve que deixar o ministério para defender o mandato na Câmara – acabaria sendo cassado no fim de 2005 –, Lula, percebendo a gravidade do caso, ampliou o núcleo político, agregando o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner; o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; e o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. As reuniões passaram a ser diárias, sempre às 8h, no quarto andar do Palácio do Planalto.

Lula tornou-se grato ao grupo por ajudá-lo a atravessar os momentos de turbulência. Foi de Márcio Thomaz Bastos a ideia de afirmar que o mensalão se tratava, na verdade, de caixa dois de campanha. Ciro Gomes, que já angariara a simpatia de Lula em 2002, quando, no dia seguinte ao início do segundo turno, declarou apoio ao petista, também foi um dos porta-vozes da defesa do ex-presidente Lula.

Ao longo do segundo mandato, Lula ampliou ainda mais o grupo, trazendo oficialmente o PMDB para a coordenação política, já que a legenda apoiou formalmente a campanha de reeleição do petista ao Planalto.

 


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