Após disputas por ministérios, partidos cobiçam vagas no segundo escalão

Grasielle Castro

Novo ministro da Integração Nacional, Occhi (E) cumprimenta seu sucessor na pasta de Cidades, Gilberto Kassab, que lutará para pôr aliados do PSD sob seu comando - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil


Brasília – Mal acomodou os partidos nos 39 ministérios disponíveis na Esplanada, a presidente Dilma Rousseff – que só retorna do descanso na Base Naval de Aratu (BA) amanhã – já se depara com as queixas dos aliados pelas vagas no segundo escalão. O quinhão vai desde nomeações de secretários das pastas até indicações para autarquias, estatais e superintendências regionais. Uma imensidão de cargos disputados com afinco pelas siglas da coalizão partidária.

São tantos os problemas, que os partidos não se contentam em brigar entre eles. Brigam internamente também. Por exemplo, no Ministério da Agricultura. A ministra Kátia Abreu acertou com a presidente Dilma Rousseff – madrinha de seu casamento, que ocorrerá no início de fevereiro, em Palmas (TO) – que teria liberdade para nomear os demais cargos da pasta, o que, tanto na política quanto no meio rural, convencionou-se chamar de porteira fechada. “Ela quer preencher os cargos com nomes técnicos, de excelência”, disse uma aliada de Kátia.

- Foto: Mas a presidente licenciada da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que já não conta com a simpatia de parte da própria legenda, só aumentará as resistências internas se cumprir o que planeja.
A pasta hoje está fracionada entre o PMDB de Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul. Desalojar esse pessoal não será tarefa fácil. A opção por nomes técnicos não ajuda no convencimento. “Técnico? Paulo Roberto Costa é técnico, Nestor Cerveró é técnico. De que adiantou? De nada”, esbravejou um interlocutor peemedebista, em uma alusão aos dois ex-diretores da Petrobras investigados na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.

A propalada autonomia de Kátia para nomear seus auxiliares não é regra na Esplanada. A orientação dada aos demais ministros é que toda e qualquer indicação deverá passar pelo crivo da presidente Dilma Rousseff e do chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o que deverá arrastar o processo de substituição por meses. “Os bancos públicos deverão ser nomeados com celeridade. Os demais escalões tendem a esperar”, confirmou um interlocutor palaciano.

Entenda-se por “bancos públicos” as presidências do Banco do Brasil (BB), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica Federal (CEF). Nos dois primeiros casos, as sucessões já estão sendo aguardadas pelo mercado: Paulo Caffarelli (ex- secretário-executivo da Fazenda e ex-vice presidente do Banco do Brasil) assumiria o BB, e Alexandre Abreu, vice-presidente de varejo do Banco do Brasil, diretor de varejo do Banco do Brasil, seria nomeado presidente do BNDES.

Em relação à Caixa Econômica Federal, que financia programas como o Minha Casa, Minha Vida, existe uma dúvida quanto à permanência de Jorge Hereda na presidência ou sua substituição pela ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior. “Ela comandou o Minha Casa e tem experiência com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Seria um ótimo nome”, elogiou um aliado da presidente.
Mas a presença de um nome com perfil político forte poderá atrapalhar a estratégia de abertura de capital da Caixa, prevista, inicialmente, para 2016.

BANCOS Se a cúpula dos bancos públicos será preservada de indicações partidárias, o mesmo não acontece com o segundo escalão das instituições financeiras. De saída do Ministério da Educação, o petista Henrique Paim, formado em economia, deverá ser indicado para uma das diretorias do BNDES.

Para os demais cargos, ainda há uma franca batalha campal. O futuro do setor elétrico, por exemplo, ainda está indefinido. Com a saída do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) do Senado, há uma disputa pela herança do senador na principal holding do setor, a Eletrobras. O PMDB também quer saber se a Infraero, hoje comandada pelo PT e responsável por 51% do controle dos aeroportos brasileiros, será incorporada à Secretaria de Aviação Civil. “Eles estão reclamando do quê? Terão 150 aeroportos regionais para administrar”, devolveu um petista empedernido.

Os petistas, tão malvistos pelos demais partidos da coalizão, também não estão nada satisfeitos com as mudanças promovidas pela presidente Dilma Rousseff no primeiro escalão. Como perderam pastas relevantes, como o Ministério da Educação e o comando da equipe econômica, o partido da presidente Dilma Rousseff não demonstra qualquer disposição em abrir mão dos cargos que já possui e ainda pretende avançar nos espaços vagos destinados à outras legendas.

O novo ministro das Cidades, Gilberto Kassab, lutará para colocar aliados sob seu comando. Seu antecessor e novo ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, recebeu como prêmio de consolação a escolha da presidência do Banco do Nordeste, já que não terá liberdade para mexer nas demais indicações partidárias.
Ao assumir o ministério ontem, Kassab fez um discurso prometendo o apoio de seu partido, o PSD, a Dilma para garantir a governabilidade.
Porém, afirmou que “apoiar também é divergir construtivamente”. Em entrevista, Kassab desconversou sobre as articulações da base aliada no Congresso e disse que esse tema agora é tratado pelos líderes do PSD no Legislativo.

Crítica a vetos

Líderes da oposição no Congresso criticaram os vetos da presidente Dilma Rousseff à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2015. Para os parlamentares, ao barrar itens como a obrigação de divulgação na internet dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e vetar 43 pontos propostos pelo Congresso, a presidente demonstra que pretende manter a política de “queda de braço” com o Legislativo e que não priorizará a transparência. Com uma base governista mais enxuta, os líderes Mendonça Filho (DEM-PE) e Antonio Imbassahy (PSDB-BA) preveem a derrubada dos vetos. “Os vetos constrangem o Congresso, mas sua base aliada saberá reagir a tanta intolerância”, afirmou o tucano.


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