Evitando criar desconfortos na Esplanada logo na primeira semana do ano, Patrus classificou a definição de latifúndios como uma “questão técnica”. “Prefiro trabalhar com o conceito de que nós temos no Brasil grande propriedades”, explicou. Também fez questão de falar da importância do agronegócio para o Brasil, e que “grande parte” das maiores terras “está sendo explorada” economicamente. Com a cabeça de volta à pasta que ocupa, observou que, por outro lado, o país ainda abriga áreas improdutivas e passíveis de desapropriação para a reforma agrária.
Por outro lado, ao discursar na hora de assumir a pasta da Agricultura, na última segunda-feira, Kátia Abreu não pronunciou o termo “latifúndio” uma única vez. Assim como Ananias, falou em “pequenas, médias e grandes propriedades”, enquanto pedia um “ambiente institucional favorável à produção”. Uma das mais importantes representantes da agricultura empresarial no Brasil e presidente desde 2008 da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu havia negado a existência de latifúndios no Brasil em entrevista à Folha de S.Paulo, na véspera de assumir o ministério.
Responsável pela implementação do Bolsa-Família, à frente do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome durante sete dos oito anos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Patrus falou ontem para uma plateia de petistas e representantes de movimentos do campo, como o MST.
Adequar os direitos de propriedade a outros direitos fundamentais não é uma opção, alerta Diamantino Silva Filho, advogado especializado em direito agrário há quase 50 anos. “Desapropriar pela improdutividade, tudo bem; mas revisar o conceito de propriedade, isso não. Ele é cláusula pétrea da Constituição Federal”, observa.
Sobre a polêmica da existência do latifúndio, Diamantino diz que a afirmação de Kátia Abreu “é uma piada”. “O latifúndio é definido pela área, independentemente de ela ser explorada ou não economicamente”, explica..