Brasília – Oposição e base aliada se unem nas inúmeras citações a políticos constantes em documentos apreendidos e depoimentos em delação premiada na Operação Lava-Jato. Uma amostra do que está contido nos autos da investigação revela a presença de mais de 40 políticos nessa situação. PT, PMDB, DEM, PP, PTB, PSDB, SD e PSDC tiveram nomes fornecidos pelos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, pelo policial Jayme “Careca” Alves, pelos registros nos inquéritos policiais e nas planilhas da empreiteira Camargo Corrêa, cujos executivos também foram denunciados por corrupção em obras superfaturadas na Petrobras.
O vice-presidente da República, ex-deputado Michel Temer (PMDB), aparece em uma planilha apreendida pela Polícia Federal na Camargo Corrêa. O documento relaciona obras públicas, a situação em que se encontra e os valores estimados do projeto e do edital. Também vincula cada empreendimento a um parlamentar e a outro valor. Temer é relacionado a duas cifras de US$ 40 mil cada uma por uma obra de canalização em Araçatuba e outra de duplicação de rodovia em Praia Grande, ambas cidades em São Paulo. Ele negou as suspeitas de favorecimento e disse que, quando parlamentar, nunca fez emendas para esses projetos.
O deputado Luiz Argôlo (SD-BA) e o parlamentar cassado André Vargas (sem partido) são mencionados nos próprios inquéritos da Polícia Federal, que foram remetidos ao Supremo Tribunal Federal. O primeiro é suspeito de receber recursos ilícitos de Youssef. O segundo, de atuar em negócio dele no Ministério da Saúde. Vargas acabou perdendo o mandato por quebra de decoro.
Outros casos
A listagem de citados poderia ser ainda maior. Só uma relação de doações eleitorais de 2012 feitas pela Camargo Corrêa, segundo apreensão nos escritórios da empreiteira, menciona mais 35 nomes. Mas não se sabe se são contribuições de campanhas lícitas ou de caixa dois. Alguns nomes estão escritos a caneta.
A PF ainda apura a real participação dos citados na Lava-Jato. Boa parte das investigações, incluindo as relacionadas ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), vai ser aberta pelo Supremo a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O caso de ex-governadores e ex-parlamentares será analisado em primeira instância. Todos os acusados que se pronunciaram até o momento negaram a participação em crimes ou atos ilícitos, alguns admitindo apenas o relacionamento com os delatores.