A pressão por cargos no segundo escalão e a insatisfação dos aliados com relação ao espaço que conquistaram na Esplanada levaram o governo a reagir. Nessa quinta-feira, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, foi escalado para amenizar publicamente os ruídos causados entre os partidos que apoiam a presidente Dilma Rousseff (PT) com as queixas. De acordo com Vargas, a composição do governo levará em conta três princípios: capacidade de gestão, histórico de probidade administrativa e equilíbrio entre as siglas da coalizão. A declaração do ministro abriu espaços para interpretações sobre a possibilidade de perda de espaço dos partidos que já possuem cargos em estatais, diretorias e superintendências e não querem abrir mão de suas fatias.
Um dos que mais têm reclamado é o PMDB. O partido terminou o ano rachado. A bancada no Senado, que costumava ser fiel à presidente, promete dar trabalho no início dos trabalhos legislativos. A ameaça de se tornar independente e de analisar cada proposta separadamente tem servido como munição para garantir a permanência dos cargos que o partido já ocupa e angariar mais espaço. Entre os governistas, entretanto, há a avaliação de que a legenda não tem motivo para reclamar, pois conseguiu os seis ministérios que lhe foram prometidos.
Por outro lado, também há partidos insatisfeitos, que têm acusado o governo de dar muito espaço para os peemedebistas. A mesma briga para proteger os cargos conquistados e o temor de perder espaço também são quesitos que fazem parte da rotina de outros partidos. Um dos motivos que deram mais combustível para os partidos agirem na defensiva foi a possibilidade de assumirem as pastas sem carta branca. No Planalto, a informação é de que não há ministério com porteira fechada, jargão que indica que o chefe da pasta terá liberdade para fazer indicações para todos os cargos. A decisão sobre cada nome será discutida pela presidente com a ajuda de auxiliares, como o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
O PP, por exemplo, ao deixar o Ministério das Cidades e assumir a Integração Nacional espera abarcar a pasta inteira. Apesar da expectativa, o ministro Gilberto Occhi deve levar apenas o comando do Banco do Nordeste. Já o PR se esforça para retomar o controle do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit). No meio do ano passado, o partido fez uma forte pressão e conseguiu emplacar um ministro do Transporte que melhor representasse a legenda. Na época, caciques do partido diziam que a mudança no comando do Dnit viria junto, mas o órgão segue chefiado pelo auditor da Controladoria-Geral da União (CGU) Tarcísio Gomes de Freitas, substituto desde agosto do ano passado.
Estados cortam cargos
Governadores de pelo menos 11 estados anunciaram redução de cargos de confiança e de secretarias, mas os cortes efetivos de gastos não são imediatos. A maioria prevê diminuir despesas este ano, mas o detalhamento das medidas não foi divulgado. Em tempos de baixo crescimento econômico e com o governo federal adotando medidas de maior rigor fiscal, governos estaduais procuram demonstrar austeridade nesse início de mandato. O governador reeleito do Amazonas, José Melo (PROS), por exemplo, disse querer economizar R$ 700 milhões do orçamento de R$ 15,6 bilhões para 2015 e que vai extinguir secretarias, mas não especificou detalhes dessas medidas.
Apesar de não anunciar corte de secretarias, o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou medidas como o contingenciamento de 10% das medidas discricionárias do orçamento para 2015, equivalente a R$ 6,6 bilhões. Decisão semelhante tomou Luiz Fernando Pezão (PMDB) no Rio. Ele quer cortar R$ 1,5 bilhão em despesas e determinou às 25 secretarias – número igual ao do mandato anterior – que definam os cargos a serem extintos.