Pereira Barreto - O nome do padre Maximiano Pelarin Neto está na boca do povo de Pereira Barreto, cidade de 25 mil habitantes a 600 km de São Paulo. Passou a ser santo para uns e herege para outra parcela da população por causa do sermão feito nas missas de fim de ano sobre um caso de corrupção local investigado pelo Ministério Público.
"Eles criaram cargos de confiança e ainda forjaram controle de frequência para constar presença dos servidores que não compareciam ao trabalho", disse o promotor Robson Alves Ribeiro, autor das ações, que cobram R$ 1,6 milhão.
Apesar de padre Maximiano afirmar que não citou nomes e nem acusou nenhum dos vereadores de relação com fantasmas desde o altar da Igreja São Francisco Xavier, seu castigo caiu como um raio sobre sua cabeça. Nove dos 11 vereadores da Câmara aprovaram uma moção de repúdio endereçada ao bispo que o chefia, pedindo sua punição, por acusá-los sem provas e de fazer discurso político em local impróprio.
Aos céus ele roga e dos inquisidores ele se defende, reforçando que orar sempre foi também uma forma de fazer política, desde Confúcio e Brahma, quando Jesus nem pensava em pescar. "Quem está com a investigação é o Ministério Público, mas também é minha missão como sacerdote, colocar a população a par da situação", justificou o padre.
O presidente da Câmara, Laerte Venâncio Alves (PR), não entende assim. Ele diz que a moção é pelo fato de o padre "falar de política em um lugar destinado à oração". "Ele deveria esperar a sentença para dizer que os vereadores são desonestos e que há corrupção na Câmara", aconselhou Alves, embora a Justiça tenha exonerado 11 assessores e bloqueados os bens dos acusados para garantir o ressarcimento ao erário.
O bispo de Jales (SP), dom Luiz Demétrio Valentini, disse que vai esperar o padre retornar das férias para ver o que houve.
Enquanto isso, os moradores se mobilizam. Centenas deles fizeram uma carreata, poucos dias atrás, de apoio ao padre. "O padre tem toda a razão de falar sobre esse assunto com seus fiéis", defendeu o comerciante Roberto Oliveira, dono de uma pequena loja no centro da cidade.