Governo federal pausa nomeações do segundo escalão

Grasielle Castro

Brasília – Um dia depois de o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, dizer que o governo não interfere em questões administrativas da Câmara dos Deputados, como a disputa pela presidência da Casa, aliados do Planalto receberam a sinalização de que a nomeação de cargos do segundo escalão somente sairá depois do resultado da eleição.

Os governistas também contam com o apoio de ministros com trânsito no Congresso, como Cid Gomes (PROS), da Educação, e Gilberto Kassab (PSD), das Cidades, para ajudar a evitar que o favoritismo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se confirme. Além de Cunha, os deputados Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG) são candidatos a comandar a Câmara pelos próximos dois anos.

O entendimento dentro do Planalto é que uma das prioridades do governo é conseguir domar o Congresso em 2015. Interlocutores da presidente Dilma Rousseff dizem que ela sabe da importância que cada um dentro da Câmara e do Senado terá para não tornar o ano, marcado pela crise econômica, ainda mais difícil e permitir que ela toque as reformas que considera essenciais para o segundo mandato. “A presidente sabe que esse governo não pode errar”, afirma um interlocutor palaciano. Segundo ele, o governo vai fazer tudo que estiver ao alcance para evitar a vitória de Eduardo Cunha. A fama dele de dar trabalho ao governo, assim como a forte lembrança de já ter anunciado outra vezes independência na Casa com relação a matérias em votação no plenário, pesam na decisão do governo de reforçar o combate à candidatura do peemedebista.

Nos bastidores, há a interpretação de que uma das armas que o governo tem em mãos para negociar apoio com os partidos são os cargos do segundo escalão. Por outro lado, o governo investiu na formação de uma Esplanada com nomes de peso no trânsito no Congresso para facilitar o diálogo com os parlamentares.
A habilidade política pesou na escolha de Eliseu Padilha para a Secretaria de Aviação Civil e de Jaques Wagner para a Defesa, além de Cid Gomes e Gilberto Kassab. Também entram nessa conta a permanência de ministros como Aloizio Mercadante, da Casa Civil, Miguel Rossetto, realocado na Secretaria-Geral, e Ricardo Berzoini, agora nas Comunicações.

Na avaliação de aliados, Cid e Kassab despontam pelo trânsito político e fidelidade. Ambos articulam a criação de uma frente de sustentação ao governo. Uma das estratégias de aliados é fechar um acordo de rodízio com os peemedebistas. Nesse caso, o partido ajudaria a eleger o PT no primeiro biênio e os petistas fariam o mesmo por Cunha em 2017. Embora há quem diga que o peemedebista daria ainda mais trabalho ao governo nesses dois primeiros anos, essa jogada também ajudaria a garantir a paz no Planalto. A justificativa é que, como ele não sabe o futuro, ficaria mais calmo. Outra possibilidade seria a de trocar o candidato do PMDB por um nome mais amistoso ao Planalto.

Defensores da candidatura de Cunha reagem a essa proposta. “A candidatura do PMDB foi construída ao longo do tempo. Não pode ser trocada. São características pessoais que estão em jogo, é uma pessoa que cumpre compromisso e respeita o regimento”, diz um peemedebista articulador do correligionário. Na opinião dele, não há manobra capaz de tirar Cunha da disputa.


Reunião ministerial

A presidente Dilma Rousseff reuniu ontem o grupo de ministros que integra a chamada coordenação de governo. No encontro, a presidente manifestou a intenção de fazer a primeira reunião ministerial do segundo mandato no dia 27. Participaram do encontro, os ministros da casa Civil, Aloizio Mercadante; da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto; de Relações Institucionais, Pepe Vargas; da Justiça, José Eduardo Cardozo; da Defesa, Jaques Wagner; e das Comunicações, Ricardo Berzoini. A reunião ministerial será no Palácio do Planalto e precederá a viagem presidencial para a Costa Rica, onde participará da cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), dia 28.

 

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