O advogado Antônio Augusto Figueiredo Basto, que defende o doleiro Alberto Youssef na Operação Lava-Jato, afirmou ontem que seu cliente não conhece nem mandou entregar dinheiro para o ex-governador de Minas Gerais e senador eleito Antonio Augusto Anastasia (PSDB). Ele confirmou que entrará até quarta-feira com uma petição na Justiça Federal do Paraná – onde corre o processo sobre suposto esquema de desvios de recursos na Petrobras para pagamento de propinas a políticos – isentando o político de envolvimento com seu cliente. Figueiredo Basto admitiu que o doleiro pediu que uma mala com R$ 1 milhão fosse entregue em Belo Horizonte em 2010, mas não especificou qual foi o destinatário.
O ex-governador de Minas foi mencionado em depoimento do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o “Careca”, como destinatário de recursos distribuídos por Youssef. Ele afirmou ter entregue, na campanha eleitoral de 2010, R$ 1 milhão ao tucano, que foi reeleito governado de Minas Gerais. Jayme Alves é acusado de atuar como entregador de recursos a mando do doleiro, foi preso em novembro, no âmbito da Lava-Jato, e solto no mês seguinte. Ele está afastado da PF por ordem judicial.
Nessa segunda-feira, o advogado de Anastasia, Maurício Campos Júnior, solicitou audiência com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandoswski. Ele quer conhecer todo o teor das declarações do policial Jayme Alves à Polícia Federal. Segundo o advogado, Anastasia pretende tomar providências que esclareçam rapidamente a denúncia. Ele lembrou que a diplomação do senador eleito fixa foro especial para o tucano e, apesar de a Operação Lava-Jato estar a cargo da Justiça Federal do Paraná, apenas o Supremo tem competência para autorizar investigações contra parlamentares. O ex-governador está fora do país, mas se dispôs a participar até de acareação com o policial.
Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo, o advogado de Youssef, por sua vez, afirmou ainda que o doleiro não teve relação com o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – candidato à Presidência da Câmara dos Deputados –, que também foi citado pelo policial como beneficiário do esquema de corrupção que envolveu a estatal. “Isso é uma criação e não tem relação com meu cliente. Youssef não conhece o Anastasia nem o Eduardo Cunha e não fez negócios com os dois. Ele nunca deu dinheiro para Cunha nem para Anastasia. Se alguém deu, não foi ele. Agora, se Jayme Careca tem alguma coisa a informar, de que o destino do dinheiro foi para o Anastasia, cabe a ele provar isso. Ele falou de coisas sobre as quais nós não podemos nos manifestar, de que Youssef não tem conhecimento nem pode se responsabilizar”, afirmou Figueiredo Basto.
O doleiro Alberto Youssef é apontado como um dos líderes do esquema investigado na Operação Lava-Jato e está preso desde o ano passado, quando decidiu colaborar com a Justiça e firmar um acordo de delação premiada. Por meio desse instrumento, o acusado se compremete a revelar nomes de outros envolvidos e fornecer informações que levem à sua punição. Em troca, recebe penas mais brandas. Os benefícios podem ser suspensos se o delator mentir em seus depoimentos.
Até agora, nove pessoas aceitaram colaborar com as investigações e fizeram acordos de delação. Entre elas, Youssef, o lobista Fernando Baiano, suposto operador do PMDB no esquema, e o executivo Júlio Camargo, da empresa Toyo Setal, também acusada de participar no desvio de verbas da Petrobras. O policial Jayme Alves não faz parte do grupo beneficiado com a delação premiada. (Com agências)