Empreiteira envolvida em cartel na Petrobras vai pedir recuperação judicial

João Valadares Célia Perrone
Brasília – Integrante do cartel montado na Petrobras para direcionar licitações de obras bilionárias da estatal por meio do pagamento de propina, a empreiteira OAS, com dívidas que chegam a R$ 7,7 bilhões, vai entrar com pedido de recuperação judicial.
Ainda não existe confirmação oficial de quando o procedimento será iniciado. No entanto, a expectativa é de que a construtora tente judicialmente a reestruturação dos débitos nas próximas duas semanas. Especialistas alertam que subempreiteiras contratadas pela OAS devem sentir o impacto da medida e, provavelmente, seguir o mesmo caminho.


Os principais executivos da construtora já foram demitidos. Credores da empreiteira formaram um comitê para tentar chegar a um acordo. A recuperação judicial é uma medida para evitar a falência de um grupo empresarial. É pedida no momento em que a companhia perde a capacidade de honrar suas dívidas. O objetivo é que a empresa consiga manter a produção, o emprego dos funcionários e os interesses dos credores.

“É difícil falar, neste momento, em efeito dominó em relação às outras grandes empreiteiras envolvidas nessa operação (Lava-Jato).

Posso dizer que o impacto será sentido mais rapidamente nas subcontratadas da OAS. São empresas com menos estrutura, mais vulneráveis”, analisou o consultor e ex-presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) Rui Coutinho.  O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, e o vice-presidente do Conselho Administrativo, Mateus Coutinho de Sá Oliveira, continuam presos.

Rebaixamento


A agência de classificação de risco Fitch anunciou ontem o corte das notas de crédito de empreiteiras envolvidas nas denúncias da Operação Lava-Jato, que investiga o desvio de dinheiro público por meio de contratos da Petrobras. A lista de companhias que tiveram as notas reduzidas inclui Queiroz Galvão, Galvão Participações, Galvão Engenharia e Mendes Júnior Trading e Engenharia (MJTE).

A Fitch manteve viés negativo (que indica a perspectiva de novo rebaixamento) sobre as três primeiras companhias. No caso da MJTE, a observação foi removida. Já o rating global da Mendes Júnior passou de B- para CC, faixa considerada como grau especulativo.

Ao explicar os motivos do rebaixamento, a agência citou o impacto financeiro que as empresas deverão sofrer pelo fato de concentrarem boa parte de suas atividades em projetos do governo, enfatizando a incapacidade de certas companhias do setor de participar de projetos futuros com entidades do setor público.

“A Petrobras baniu temporariamente 23 grupos empresariais envolvidos na investigação Lava-Jato de participar de licitações”, ressaltou nota distribuída pela Fitch. Também pesaram na decisão as “potenciais suspensões, demoras ou baixas contábeis parciais de recebíveis existentes junto à Petrobras”.

Virene Maresco, professora de macroeconomia da Fundação Getulio Vargas, explicou que o rebaixamento deve dificultar e tornar mais cara a contratação de empréstimos pelas empreiteiras. Além disso, a medida causa prejuízos intangíveis. “A imagem pública de uma empresa é um bem de grande valia”, salientou. Para ela, os negócios no exterior também serão prejudicados.

O Ministério Público de São Paulo abriu investigações para apurar se o doleiro Alberto Youssef, alvo da Operação Lava-Jato, intermediou o pagamento de propinas a agentes públicos em contratos de obras no estado. A suspeita surgiu a partir de planilha localizada, em março, pela Polícia Federal no escritório de Youssef. Havia indicação de projetos da Sabesp, do metrô e de refinarias da Petrobras em São Paulo.

 

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