Candidatos à presidência da Câmara lançam iscas para fisgar deputados

Enquanto Eduardo Cunha e Arlindo Chinaglia priorizam promessas corporativistas na corrida pelo cargo, Júlio Delgado tenta emplacar um discurso de valorização do trabalho parlamentar

Amanda Almeida Naira Trindade
Brasília – Na briga pelo poder de ditar os rumos da Câmara dos Deputados – o que inclui colocar na pauta de votações projetos importantes para o país –, os dois candidatos favoritos à Presidência da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), preferem promessas corporativistas a reivindicações da população.
Para fisgar os colegas, que escolherão o mandatário no mês que vem, os dois repetem juras de construir mais um anexo para aumentar os gabinetes parlamentares e de equiparar o salário dos deputados ao dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).


Ambos da base aliada do governo Dilma Rousseff, Cunha e Chinaglia aproveitam o recesso parlamentar para rodar o país em busca do voto dos colegas. Nas conversas, eles prometem dar prioridade à votação de projetos que atendam a base eleitoral dos companheiros, mas frisam que vão brigar para tirar do papel demandas antigas dos deputados. É o caso da construção do Anexo 5 da Casa. A promessa de ampliar os espaços da Câmara é tão antiga que esteve até na lista da campanha do próprio Arlindo Chinaglia em 2007. Foi repetida nos anos seguintes pelos concorrentes ao posto.

Cunha largou na frente e distribuiu aos colegas um folheto com 10 propostas no início de dezembro, quando lançou a candidatura. A maioria dos itens diz respeito diretamente à rotina dos parlamentares, e não da população, que tem o presidente da Câmara como o segundo cargo na linha de sucessão presidencial, atrás apenas do vice-presidente da República. Além da construção do Anexo 5, Cunha promete expandir o trabalho da TV Câmara aos estados dos deputados.

A ideia também é antiga.

Diante da repercussão negativa de notícias relativas aos deputados, o entendimento de parte dos parlamentares é que a TV Câmara pode ajudar a melhorar a imagem da Casa. Cunha tem investido também em propostas específicas para as frentes parlamentares da Câmara. Aos parlamentares da bancada ruralista, por exemplo, prometeu colocar na pauta a proposta que transfere ao Congresso o poder de analisar a demarcação de terras indígenas. O projeto foi arquivado pelo fim da legislatura, mas deve ser reapresentado.

Em relação ao que interessa diretamente à população, ambos prometem dar prioridade às reformas política e tributária, mas não detalham as propostas. Ficaram de fora da discussão, por exemplo, temas reivindicados nas manifestações de junho de 2013, como a melhoria nos serviços públicos e o combate à corrupção. Cunha e Chinaglia não mencionaram como tratarão casos de parlamentares investigados pelo Conselho de Ética da Casa, que, em geral, são analisados com lentidão. Os dois foram procurados pela reportagem e não atenderam às ligações.

Assim como Cunha, Chinaglia tem dito aos colegas que vai defender a equiparação salarial aos ministros do STF. Hoje, os deputados têm reajuste salarial de quatro em quatro anos, ao fim de cada legislatura, enquanto os ministros da Suprema Corte têm aumento anual. Assim, embora larguem com salário igual ao dos ministros (R$ 33,7 mil), se a regra continuar a mesma, os deputados da próxima legislatura estarão ganhando menos do que eles em 2018.

Alternativa


Com discurso de ser alternativa aos quadros tradicionais do Congresso, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) critica a proposta dos colegas, mas não entra em detalhes sobre seus compromissos. “Estou percorrendo os estados com os discursos dos presidentes eleitos nas quatro últimas eleições para Presidência da Câmara. São as mesmas promessas: Anexo 5, outra dinâmica para TV Câmara, equiparação salarial. Se não tiraram do papel antes, por que vão tirar agora?”, questiona.

Ele diz que sua proposta de mandato é valorizar o trabalho parlamentar.
“Tenho conversado com deputados que foram eleitos pela primeira vez. Reforço que foram eleitos pelo sentimento de mudança expresso pela população. Os novos têm essa responsabilidade de fazer diferente. Mudar a prática política”, diz, acrescentando que vai dar prioridade para grandes temas, como a reforma política.

Nessa terça-feira (13), Chinaglia aproveitou a campanha em Teresina para alfinetar Cunha. Ele rebateu a promessa do peemedebista de apoiar a criação de mais uma CPI da Petrobras. “Defender uma CPI de forma genérica é uma tentativa de se credenciar. Não preciso disso. Por que alguém defende tanto uma CPI? Já teve senador muito eloquente pedindo CPI, que depois foi flagrado na Operação Cachoeira”, ironizou o petista, referindo-se a Demóstenes Torres, que acabou cassado. Em depoimento à Polícia Federal no ano passado, o agente da PF Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como “Careca”, disse que entregou dinheiro para o peemedebista a pedido do doleiro Alberto Youssef.

O PMDB marcou reunião da executiva do partido hoje para anunciar formalmente o apoio a Cunha e a Renan Calheiros, que tentará a reeleição no Senado.
O movimento ocorre numa tentativa de evitar o enfraquecimento das duas candidaturas. No caso de Cunha, o receio é pela citação do nome dele na Lava-Jato. Já o apoio a Renan ocorre em meio a notícias de que o PSDB pretende lançar o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) como candidato à Presidência da Casa.

 

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