Brasília – A Executiva Nacional do PMDB lançou, na manhã dessa quarta-feira, nota em defesa da candidatura do deputado Eduardo Cunha (RJ) à presidência da Câmara. Sem citar nomes, o documento diz que o partido apoiará os candidatos escolhidos pelas bancadas da Câmara e no Senado. O anúncio, feito pelo vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), logo após uma reunião fechada do partido, ocorre dias depois de o policial federal Jayme Alves de Oliveira, o Careca, ter dito que entregou dinheiro para Cunha a mando do doleiro Alberto Youssef, investigado no âmbito da Operação Lava-Jato.
Segundo presentes na reunião, a medida se justifica pelo “conflito aberto” instalado na base governista desde que o Planalto decidiu “encampar” a candidatura do petista Arlindo Chinaglia (SP), principal adversário de Cunha. A cúpula do PMDB não incluiu na nota qualquer crítica à candidatura de Chinaglia, embora, esta semana, o petista tenha feito críticas a Cunha, o que irritou parte da sigla.
Os deputados presentes à reunião queriam explicitar o nome de Cunha na nota para fortalecer o candidato, mas os senadores divergiram porque não queriam incluir o nome de Renan – já que o presidente do Senado não confirma oficialmente sua candidatura. Os peemedebistas acabaram optando por não mencionar o nome de Cunha, numa estratégia para preservar as articulações de Renan.
“Historicamente, a Executiva não marcava posição porque os conflitos nunca chegavam nesse nível”, disse o peemedebista Darcísio Perondi (RS), após a reunião. Também estiveram presentes os senadores José Sarney (AP) e Valdir Raupp (RO).
O ex-ministro Geddel Vieira Lima (BA) – que fez campanha para o tucano Aécio Neves em ouubro – foi o responsável por dar o recado mais direto ao governo. Disse esperar que o Palácio do Planalto respeite as indicações do PMDB para presidir o Congresso. “Espero que o governo não se envolva contra uma candidatura de um partido que lhe dá sustentação”, afirmou o peemedebista. Gedel declarou ainda que o PMDB vai olhar “com lupa” se o governo vai tratar o partido como aliado ou não. E ameaçou: “O governo tem que tomar cuidado para que isso (o apoio ao candidato do PT) não represente uma divisão que lhe possa ser prejudicial em um futuro próximo, quando reabrir o Congresso”.
Durante a reunião da executiva, deputados reclamaram da força dos ministros, Educação, Cid Gomes (Pros), e das Cidades, Gilberto Kassab (PSD), dentro do governo. Os dois articulam a criação de novos partidos, o que é interpretado no PMDB como estratégia para enfraquecer a legenda no Legislativo. “Eu manifestei que estou preocupado com essa dobradinha Cid-Kassab na criação de novos partidos. Isso não engrandece o país”, disse Darcísio Perondi. A insistência do Planalto com o tema da reforma política é outro fator de descontentamento dos peemedebistas.
Insatisfeito com a nova configuração da Esplanada dos Ministérios, o PMDB reclama também de que pode não ter a chamada “porteira fechada” (referência a loteamentos de cargos e áreas a determinado partido) dos ministérios, ficando sem indicações de segundo escalão e correndo o risco de perder espaço de afilhados em postos como o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs)
‘ALOPRAGEM’ Eduardo Cunha nega qualquer envolvimento com Youssef e classifica as notícias de “alopragem” para prejudicar sua candidatura. No início da semana, a defesa do doleiro Alberto Youssef isentou Cunha de envolvimento com seu cliente.
Quem participou da reunião negou que o partido tratou da prisão do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que teria sido indicado na cota da legenda. “Isso não é um assunto que caiba ao PMDB comentar. É um problema da Justiça, do Ministério Público e do governo, que o indicou. Não foi tratado por nós”, reforçou Geddel Lima. (Com agências)
Convite negado
O vice-presidente da República e presidente do PMDB, Michel Temer, ontem, após participar da reunião da Executiva, que o partido tenha feito um convite para que a senadora Marta Suplicy (PT-SP) se filie à legenda. Uma das fundadoras do PT, Marta sinalizou que poderia deixar o Partido dos Trabalhadores após ter concedido, em entrevista, tece críticas ao PT e ao governo Dilma Rousseff. Marta procura uma saída política para tentar concorrer, novamente, à Prefeitura de São Paulo, que esteve sob seu comando entre 2001 e 2005. O PT deve apoiar a reeleição do atual prefeito Fernando Haddad. “Ela não falou com o PMDB", afirmou Temer.
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