Brasília – Apontado como o grande responsável pelo “projeto falho” que embasou a decisão da presidente Dilma Rousseff na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi preso preventivamente na madrugada de ontem, no momento em que desembarcava no Rio de Janeiro. Ele só foi demitido da BR Distribuidora, uma subsidiária da petroleira, em março do ano passado, oito anos após a polêmica negociação de Pasadena. Quando foi surpreendido por agentes da Polícia Federal, no Aeroporto do Galeão, Cerveró regressava de Londres, onde passou Natal e ano-novo com parte da família. A prisão acendeu o sinal de alerta no Palácio do Planalto, que teme novas revelações sobre o esquema de corrupção na Petrobras, investigado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
A prisão preventiva do ex-dirigente foi pedida pelo Ministério Público Federal (MPF). No entendimento da instituição, “Cerveró continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras”.
De acordo com informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão subordinado ao Ministério da Fazenda, encaminhadas à Polícia Federal, o ex-diretor pediu, em dezembro, resgate de uma aplicação no valor de R$ 500 mil. Para sacar o dinheiro, Cerveró teria um prejuízo de R$ 200 mil. Os recursos, segundo o MPF, seriam transferidos para a filha de Cerveró, mesmo com as perdas detectadas.
O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirmou à imprensa que a movimentação financeira levantou suspeitas. “As operações realizadas indicam que não é alguém preocupado com investimentos financeiros, mas alguém que estava tentando obter liquidez com rapidez. Poderia ser uma fuga ou uma tentativa de blindar o patrimônio que ainda não tenha sido bloqueado”, afirmou. Em nota oficial, a Polícia Federal ressaltou que “monitorou as contas e as aplicações financeiras do investigado e verificou que, recentemente, foram realizadas transações imobiliárias de forma subfaturada. Também foram observadas solicitações de resgate de aplicações financeiras com grande prejuízo pessoal”.
Os agentes da PF cumpriram ordens de busca em três imóveis no Rio de Janeiro e um Itaipava (RJ), todos vinculados a Cerveró. Após a prisão, pouco depois da meia-noite, o ex-diretor foi transferido para Curitiba. Chegou às 9h20 de ontem para ser ouvido pela Polícia Federal. A Justiça Federal do Paraná determinou a abertura de novo inquérito para apurar todas as movimentações suspeitas.
Manobras
A Procuradoria listou outras manobras do ex-diretor. “Cerveró também transferiu recentemente três apartamentos, adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores nitidamente subfaturados: há evidências de que os imóveis possuem valor de mais de R$ 7 milhões, sendo que a operação foi declarada por apenas R$ 560 mil. Para o MPF, a custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas concretas do caso”, atestou.
Após fazer a doação dos imóveis a filhos numa tentativa de evitar o possível bloqueio de bens – cujo julgamento foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) após pedido de vista do ministro Aroldo Cedraz –, Cerveró tentou transformar a casa de veraneio, em Itaipava, em bem de família. Dessa forma, de acordo com a legislação brasileira, o imóvel torna-se impenhorável. Em 15 de outubro, ele publicou, no jornal Tribuna de Petrópolis, um edital em que comunica a intenção. O imóvel conta com área de 2,7 mil metros quadrados.
Memória
Entrega de passaportes
À frente dos processos referentes à Operação Lava-Jato, o juiz federal Sérgio Moro proibiu em novembro que 11 investigados viagem ao exterior e determinou que entregassem seus passaportes. Todos os nomes da lista são de pessoas presas na sétima fase da operação e posteriormente soltas, a maioria funcionários de empreiteiras. Antes, já haviam entregue os passaportes acusados que fecharam acordo de delação premiada e foram postos em liberdade, como o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Nestor Cerveró, no entanto, não faz parte de nenhuma das duas listas. Ele só foi denunciado em dezembro e sua primeira prisão ocorreu ontem, quando voltava de Londres. Havia a preocupação de ele tentasse fugir pois tem cidadania espanhola, além da brasileira, e realizou movimentações financeiras suspeitas no exterior.