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Estado de Minas

Defesa de Cerveró é contra a delação premiada

Advogado descarta qualquer possibilidade de o ex-diretor da Área Internacional da estatal fechar acordo com a Justiça para contar tudo o que sabe sobre o esquema de corrupção


postado em 17/01/2015 06:00 / atualizado em 17/01/2015 07:50

João Valadares

Justiça negou ontem pedido de habeas corpus de Cerveró, detido na Superintendência da PF em Curitiba (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil - 16/4/14)
Justiça negou ontem pedido de habeas corpus de Cerveró, detido na Superintendência da PF em Curitiba (foto: Antônio Cruz/Agência Brasil - 16/4/14)
Brasília – A defesa do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró descartou, na tarde de ontem, qualquer hipótese de acordo de delação premiada. “Não há a menor chance de isso prosperar. No caso dele, não cabe. Chance zero. A gente nem sequer trata desse assunto. O meu cliente está inconformado com a prisão”, atestou o advogado Edson Ribeiro. No meio político, no entanto, informações de bastidores apontam que o ex-executivo da estatal estaria disposto a colaborar com as investigações para tentar redução de uma possível pena. Para isso ocorrer, ele teria que mudar de advogado. Cerveró, que tinha trânsito livre em gabinetes de deputados e senadores em Brasília, guarda mágoas da presidente Dilma Roussseff, que o apontou como o grande responsável pelo “projeto falho” que embasou a decisão para a polêmica compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006.

Em dezembro do ano passado, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos referentes à Operação Lava-Jato, aceitou denúncia contra Nestor Cerveró por corrupção e lavagem de dinheiro. De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o lobista Fernando Soares, mais conhecido como Fernando Baiano, e Cerveró receberam US$ 40 milhões de propina entre 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda destinados à perfuração de águas profundas na África e no México. No depoimento prestado à Polícia Federal na quinta-feira, Cerveró negou ter recebido qualquer suborno de Baiano e também que valores tivessem sido oferecidos.

Ontem, o advogado Edson Ribeiro explicou que o ex-diretor está tranquilo, porém, indignado com a prisão. Ainda ontem, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre, negou o pedido de habeas corpus a Nestor Cerveró, que se encontra na sede da Polícia Federal (PF), em Curitiba.

Ribeiro explicou que a defesa anexou à petição um parecer técnico, elaborado pelo escritório Saddy Advogados, atestando que a responsabilidade exclusiva sobre a negociação da refinaria de Pasadena é do Conselho de Administração, presidido, na época, pela presidente Dilma. O negócio gerou um prejuízo de US$ 792 milhões à Petrobras.

O criminalista ressaltou que anexou aos autos depoimentos que o ex-diretor prestou no ano passado na comissão interna da Petrobras, no Congresso Nacional e todas as cartas em que se colocou à disposição dos órgãos de investigação para falar do caso Pasadena. O advogado salientou que já pediu à Justiça que seu cliente seja ouvido de maneira detalhada sobre todo o processo de negociação de Pasadena. No depoimento que prestou à Polícia Federal, na quinta-feira, o tema não foi abordado.

‘Amizade’

Ontem, a Polícia Federal afirmou que a carceragem no Paraná possui duas alas com celas destinadas a presos provisórios. Em uma dessas alas, estão abrigados o doleiro Alberto Youssef, Fernando Baiano e Nestor Cerveró, todos em celas separadas. “Cada um deles compartilha cela com um preso comum, sem ligação com a Operação Lava-Jato.”

Em depoimento, o ex-diretor declarou que “mantinha certa relação de amizade” com o lobista Fernando Soares. De acordo com delatores da Operação Lava-Jato, Baiano era o operador do PMDB no esquema de pagamento de propina por empreiteiras a políticos para obterem contratos com a Petrobras.
À frente da Diretoria Internacional até 2008, ele afirmou que todas as aquisições de equipamentos, construção de refinarias e de gasoduto passavam pela aprovação de toda a Diretoria Executiva, formada por seis diretores e pelo presidente da estatal, que à época era Sérgio Gabrielli, apadrinhado político do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Cronologia

Confira a trajetória de Nestor Cerveró na Petrobras


Assumiu a Diretoria Internacional da Petrobras no início do governo Lula, em 2003. Chegou ao comando da diretoria por indicação do PMDB e do senador Delcídio Amaral (PT). O partido e o senador negam

Em 2006, foi o responsável pelo projeto executivo que embasou a compra da Refinaria de Passadena, no Texas (EUA)

Dois anos depois, Cerveró deixou a Diretoria Internacional da petroleira e recebeu elogios em ata de reunião. No mesmo dia, tornou-se diretor Financeiro da BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras.

Após polêmica em torno da negociação de Pasadena, que veio à tona no início do ano passado, acabou sendo exonerado em março.

Um pouco antes da demissão, a presidente Dilma Rousseff afirmou em nota que avalizou o negócio em razão de ter recebido um “resumo técnico e juridicamente falho, pois omitia qualquer referência às cláusulas marlim e put option que integravam o contrato”.
 
Em abril de 2014, durante depoimento na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, Cerveró rebateu afirmando que “as cláusulas não têm representatividade no negócio e não eram importantes do ponto de vista negocial”.

Em dezembro do ano passado, o ex-diretor passou a responder processo por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava-Jato.

Na madrugada da última terça-feira, Cerveró foi surpreendido por agentes da Polícia Federal, no momento em que desembarcava no Rio de Janeiro. Ele vinha de Londres, onde passou o
Natal e o ano-novo.

 

Piscina aterrada
A Polícia Federal não encontrou indícios de que o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa tenha ocultado valores no terreno de sua casa, no Rio de Janeiro. A PF, por meio de nota oficial, informou ter feito duas diligências na residência do ex-diretor, num condomínio na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, e confirmou que a piscina fora aterrada. Reportagem publicada pela Folha de S.Paulo mostrou que o policial afastado da PF Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, disse ter “ouvido” que Costa teria aterrado uma piscina para guardar dinheiro. A assessoria de imprensa da PF explicou que os peritos usaram um equipamento capaz de identificar volumes a até dez metros de profundidade do solo, mas não encontraram nada. Disse ainda que as diligências ocorreram entre 17 e 19 março do ano passado e “a partir de 1º outubro”, sem precisar a data da mais recente. O depoimento em que Careca citou a piscina ocorreu no dia 18 de novembro. A PF argumenta que, antes de ouvi-lo, já tinha a informação sobre as suspeitas de que Costa teria escondido valores no local.

Família de Costa
Os procuradores da força-tarefa da Lava-Jato pediram à Justiça Federal do Paraná que suspenda por 60 dias a ação penal contra os parentes do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa (foto). A mulher, duas filhas e os dois genros do ex-diretor são acusados de participar do esquema de corrupção e lavagem de dinheiro articulado por ele, além de prejudicar as investigações da Lava Jato. Na petição encaminhada à Justiça Federal, o MPF alega que os acordos de delação com cada um dos familiares do executivo ainda não foram homologados pela Justiça e, por isso, pede que o processo seja suspenso por dois meses. A colaboração dos parentes do executivo faz parte de uma das cláusulas do acordo de delação de Costa, já homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Atualmente, Costa cumpre prisão domiciliar em um condomínio de luxo no Rio. Seus parentes aguardam a homologação dos acordos em liberdade. Assim como o ex-diretor fez, seus familiares terão que abrir mão de valores ilicitamente obtidos. Costa autorizou a repatriação de US$ 25,8 milhões que ele mantém depositados na Suíça e em Cayman, além de entregar uma lancha, imóveis e até a Range Rover, avaliada em R$ 300 mil, que ele ganhou de presente do doleiro Alberto Youssef.


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