A Lava-Jato, no entanto, não é a única crise que vem desde o governo passado. O Planalto terá de reatar laços com o setor financeiro, reconquistar os empresários, conter a inflação, reavaliar a articulação com o Congresso, refazer pontes com os movimentos sociais e evitar fiasco na organização das Olimpíadas do Rio, em 2016.
Após assistir à maneira como a presidente encarou os primeiros dias de governo, um aliado desabafou: “Vimos a falência da articulação política com o Legislativo”. “Temos a esperança de que melhore, mas não vemos sinal disso. Temos visto atitudes públicas que só demonstram fragilidade. Não era preciso a presidente ter desautorizado o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) sobre o reajuste do salário mínimo. Atitudes como essa deveriam ter ficado lá atrás, em 2014”, completa. Segundo o aliado, a expectativa para 2015 já era difícil, e não precisava ter se tornado ainda pior. “Teremos pela frente os cortes de gastos, o anúncio de aumento de impostos, da luz, de combustíveis, o fim das desonerações… Eram coisas que foram escondidas na campanha, mas que eram evidentes, e agora vamos ter que fazer esse anúncios com esse contexto”, reclama.
Outro petista questiona: “Onde está a presidente? Ela sumiu, o governo se calou. Só as notícias negativas falam”. A avaliação de integrantes do Planalto é de que a presidente não teve maleabilidade para lidar com as pressões e deixou os ruídos falarem mais alto. “Foram criando cada vez mais crises. Um dos problemas que o governo não tinha, mas construiu, é a briga pela presidência da Câmara. A força da candidatura de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi resultado do esforço do governo em ignorar o Parlamento.
Além do imbróglio que envolve a briga pela presidência da Câmara, Dilma se desgastou com o PMDB, dono da segunda maior bancada na Casa, por causa da reforma ministerial. Parte do partido não ficou satisfeita com as mudanças e pressiona por mais espaço no segundo escalão.
Outras críticas vêm de movimentos sociais que ajudaram a reeleger a presidente. Na véspera das posse, militantes dispararam uma série de reclamações nas redes sociais. A festa organizada para 1º de janeiro na Esplanada deveria ter sido um espaço de reconciliação. A ideia era fazer um aceno aos movimentos da juventude, das mulheres, dos negros e dos trabalhadores que estiveram ao lado do governo na campanha. Mas os próprios militantes vaiaram quando foram anunciados os nomes dos ministros George Hilton, do Esporte; Kátia Abreu, da Agricultura; e Gilberto Kassab, das Cidades.
PETROBRAS Dilma também terá de se esforçar para lidar com os desdobramentos da Operação Lava-Jato. A denúncia de que há dezenas de políticos envolvidos no esquema de pagamento de propina na Petrobras é um dos temas que mais a preocupam.
A própria presidente mostrou que está atenta à repercussão da operação. Ao escalar os ministros que compõem a nova formação da Esplanada, ela externou a preocupação em não ter integrantes do governo envolvidos no escândalo. Um dos nomes que ficaram de fora do primeiro escalão por ter sido citado é o do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Se não aparecer na lista dos denunciados, ele volta a fazer parte do grupo de possíveis ministeriáveis, e a tendência é que ele ocupe o posto do ministro do Turismo, Vinícius Lages.
Enquanto o Supremo não se manifesta quanto às delações premiadas, a expectativa de aliados para que a presidente contorne o desgaste é investir em projetos que endureçam as regras contra a corrupção. Além da aposta na reforma política, eles esperam que ela, enfim, regulamente a Lei Anticorrupção.
Sucessão de turbulências
Confira os novos obstáculos a serem ultrapassados neste início de governo
Presidência da Câmara
O PMDB, principal aliado da presidente, também se tornou o principal calo do Planalto na corrida pelo comando da Câmara dos Deputados. A decisão do partido de apoiar o líder da legenda, Eduardo Cunha, não foi bem digerida pelo governo, especialmente devido ao histórico de conflito entre o parlamentar e o Executivo federal. É o presidente da Casa, por exemplo, quem define a pauta de votações, engaveta projetos, escolhe as prioridades e analisa pedidos de impeachment.
A agricultura e a militância
A indicação da senadora e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Kátia Abreu, para o Ministério da Agricultura deixou aliados da petista inconformados. Conhecida pela atuação entre os ruralistas, a nomeação de Kátia foi interpretada como uma afronta aos militantes que defendem a reforma agrária e que têm laços com movimentos rurais.
A cultura do conflito
A revolta da senadora Marta Suplicy, do PT-SP, externou fragilidades do partido. Enquanto parte dos correligionários se uniram para apoiar a indicação de Juca Ferreira para o Ministério da Cultura – duramente criticada por Marta –, outros petistas endossaram a insatisfação da parlamentar. Segundo ela, o PT precisa se reinventar, ou morrerá.
Reforma ministerial e segundo escalão
Além de Kátia Abreu e Juca Ferreira, outros nomes que integraram o rearranjo da Esplanada incomodaram aliados da presidente. PT, PMDB e PP têm a cota de reclamações. Já os cargos em superintendências e órgãos ligados aos ministérios se tornaram alvo de uma disputa feroz entre os partidos aliados.
Medidas impopulares na economia
Passada a campanha, a presidente começou a adotar medidas econômicas que prometeu não tomar, como mudança nas leis trabalhistas e aumento de juros. E vem mais arrocho por aí, com o aumento de impostos, da luz e da gasolina.
Políticos na mira da Lava-Jato
A expectativa é de que, a partir de fevereiro, o Ministério Público Federal lance nova etapa da Operação Lava-Jato. Desta vez, estarão na mira políticos envolvidos no esquema de corrupção na Petrobras. Delatores do escândalo, como Paulo Roberto Costa, mencionaram a participação de PT, PMDB e PP, e o Planalto teme que o aprofundamento da crise respingue em aliados
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