Brasília – As denúncias contra políticos suspeitos de integrarem o esquema de corrupção na Petrobras começaram a ganhar mais substância com as revelações do empreiteiro Gerson de Mello Almada, da empresa Engevix, preso na sétima fase da Operação Lava-Jato. Almada disse que as empresas envolvidas no escândalo foram “extorquidas” pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e que a estatal foi usada para a “geração de montantes” destinados a comprar o apoio dos partidos políticos que integram a base aliada do governo federal.
Almada está preso preventivamente em Curitiba desde 14 de novembro. Ele é acusado de participar de um cartel criado para superfaturar obras que tinham como cliente a Petrobras. No sábado, a Justiça Federal no Paraná negou o terceiro pedido de habeas corpus de Almada.
O texto diz ainda que Paulo Roberto Costa e os demais integrantes do esquema coagiram as empreiteiras, ameaçando-as. “Nessa combinação de interesses escusos, surgem personagens como Paulo Roberto Costa, que, sabidamente, passou a exigir percentuais de todos os empresários que atendiam a companhia. Leia-se, exigir. O que ele fazia era ameaçar, um a um, aos empresários, com o poder econômico da Petrobras. Prometia causar prejuízos no curso de contratos”, diz outro trecho.
Procurado, o escritório Moraes Pitombo advogados disse que não comentaria a peça. O Palácio do Planalto também não quis se pronunciar.Sob condição de anonimato, um deputado da base governista que participou da CPI Mista da Petrobras, encerrada em 2014, rebateu as acusações das empreiteiras. “Como é que alguém pode ser coagido a ganhar dinheiro em obra superfaturada? Se houve pagamento de propina, houve também o proveito para as empresas”, disse. Já o líder do PPS, deputado Rubens Bueno (PR), criticou a postura de todos os envolvidos no caso. “Ninguém é anjo nessa história. Todo mundo sabe que, para fechar os contratos nessas obras superfaturadas, se pagava propina em proveito do PT, que ficava com o percentual maior, e dos partidos da base aliada. Agora, eles começam a dizer o que já sabiam desde o começo, porque não dá para negar”, comentou Bueno.
Pilhagem
Mesmo admitindo indiretamente o pagamento de propina, a petição descreve Gerson Almada como “testemunha ocular do possível maior estratagema de pilhagem de recursos públicos visto na história recente”, ao lado dos demais empresários investigados na Lava-Jato. Ao negar que tenha havido formação de cartel – tal como apontado nos depoimentos da delação premiada de Paulo Roberto Costa, os advogados sustentam que o único vínculo entre as empresas é o fato de todas terem sido coagidas pelo ex-dirigente da estatal. “Almada compõe, tão só, o grupo de pessoas que pecaram por não resistirem à pressão realizada pelos porta-vozes de quem usou a Petrobras para obter vantagens indevidas para si e para outros bem mais importantes na República Federativa do Brasil”, diz trecho da defesa do empreiteiro.
Sim de US$ 1,5 milhão
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa revelou à Polícia Federal que recebeu do lobista Fernando Soares, descrito como operador do PMDB, um total de US$ 1,5 milhão para “não causar problemas” em uma reunião que iria definir a compra, pela Petrobras, da Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Costa disse que a refinaria era “muito velha” e necessitava de obras de modernização que custariam até US$ 2 bilhões. Assim, seria “previsível” que ele “fosse apresentar uma objeção à compra”. A aquisição, acertada em 2006, e que acabou custando à estatal cerca de US$ 1,18 bilhão, também foi aprovada pelo Conselho de Administração da Petrobras, na época presidido por Dilma Rousseff. Costa disse ainda que “havia boatos na empresa de que o grupo de Cerveró, incluindo o PMDB e Baiano, teria dividido entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões, recebidos provavelmente da Astra”.