Mensagem do governo Dilma para o Congresso é de defesa da política econômica

Amanda Almeida André Shalders
Brasília – Com a previsão de que enfrentará dificuldades para dar andamento aos projetos de interesse do governo no Congresso, a presidente Dilma Rousseff focou a mensagem enviada aos parlamentares no primeiro dia de trabalho da legislatura na defesa das medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Parte das decisões precisarão ser aprovadas pelos congressistas. Dilma garantiu que não haverá recessão e justificou as medidas, atacadas pela oposição, como meio de dar continuidade à inclusão social.


O texto foi lido ontem pelo primeiro-secretário do Congresso, deputado Beto Mansur (PRB-SP), ao plenário lotado de parlamentares. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, foram os representantes da presidente na solenidade de abertura dos trabalhos legislativos. Pelo Poder Judiciário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, compôs a Mesa e entregou um balanço dos trabalhos da Corte e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aos parlamentares.


No texto, Dilma minimiza os problemas na economia do país. “A inflação, por exemplo, foi mantida em 2014, mais uma vez, dentro do intervalo admitido pelo regime das metas inflacionárias, assim como em todos os demais anos do meu mandato”, diz a presidente. Ela admite, no entanto, que o controle da inflação será a prioridade da “gestão macroeconômica”. Dilma atribuiu à seca a alta dos preços dos alimentos.

“Enfrentamos, em anos sucessivos, um choque no preço dos alimentos, devido ao pior regime de chuvas de que se tem registro.”

Dilma diz que o outro problema é a “redução expressiva nas taxas de crescimento” da economia mundial. Na lista de países afetados, ela citou a China. A presidente disse que as “medidas corretivas” do governo não afetarão “a redução das desigualdades, a eliminação da pobreza e a ampliação dos direitos sociais”. “Não promoveremos recessão e retrocessos”, afirmou.

Beto Mansur levou uma hora e 18 minutos para ler a mensagem de Dilma. Foi ignorado pela maioria do plenário. Dispersos, os parlamentares conversavam em tom alto, enquanto poucos prestavam atenção no texto lido pelo colega. Alguns chegaram a cobrar agilidade do orador. No meio da leitura, quando Mansur reproduzia trecho em que Dilma defende a construção Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, os deputados José Carlos Aleluia (DEM-BA) e Antônio Imbasahy (PSDB-BA) gritaram “Petrolão” e “mentirosa”. A obra foi citada por delatores da Operação Lava-Jato como uma das que foram alvo de superfaturamento.

Mais brevemente do que o texto enviado por Dilma, Cunha, Renan e Lewandowski também discursaram. Os comandantes da Câmara e do Senado garantiram que darão prioridade à reforma política e prometeram uma gestão independente e harmônica com os outros poderes.

‘Peça de ficção’

A oposição reagiu à mensagem enviada pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso. Escolhido para liderar o DEM no Senado durante 2015, Ronaldo Caiado (GO) afirmou que o texto “carece de credibilidade”. “O que ela apresentou aqui não tem nenhuma compatibilidade com o que está ocorrendo no país”, disse. O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), reforçou a visão de Caiado.
“O Brasil ao qual a presidente Dilma se refere, o das mil maravilhas, não é o Brasil real, que sofre com as incompetências e omissões de seu governo”, afirmou. Para Sampaio, a mensagem “reforça a desconfiança da sociedade”.  

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