Saída de Graça Foster da presidência da Petrobras já tem data marcada

Pressionada por Lula, Dilma decide afastar a presidente e toda a diretoria da estatal até março. Agnelli, Meirelles e Landim são cogitados para encabeçar o novo comando

Paulo Silva Pinto
Graça Foster chega ao aeroporto de Brasília para embarcar para o Rio, depois da reunião de mais de duas horas com Dilma que selou sua demissão - Foto: André Coelho/Agência O Globo

Brasília – Depois de o país conviver por meses com um ex-ministro da Fazenda ainda investido oficialmente do cargo, agora a Petrobras tem na engenheira química Maria das Graças Foster uma presidente demitida ainda sentada na principal cadeira da companhia. Diferentemente de Guido Mantega, não houve ainda um anúncio formal de demissão – o Planalto nega qualquer decisão sobre isso. Mas o martelo foi batido.

Em meio a rumores sobre sua saída, Graça Foster, como é conhecida a comandante da estatal de petróleo, foi chamada ontem às pressas a Brasília. Reuniu-se entre as 15h e pouco depois das 17h com a presidente Dilma Rousseff, que acabava de chegar de Campo Grande. No encontro, ficou decidido que toda a diretoria sairá do cargo até março, trabalhando, no período em que ainda permanecerá no cargo, em uma avaliação dos prejuízos sofridos com o superfaturamento de obras da empresa, no esquema conhecido como Petrolão. Isso dará maior tranquilidade aos nomes que vão chegar e não pretendem responder por irregularidades cometidas antes de tomarem posse.

“Desde que o escândalo estourou, Graça e os atuais diretores não têm mais condições de governar a empresa. Já foram demitidos pela comunidade interna e pelo mercado”, disse um economista com amplo trânsito na companhia, que pediu para não ser identificado.
Os operadores da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) responderam fortemente ontem às indicações de que a desejada substituição nos cargos será realizada, levando as ações da empresa a uma valorização que não se via há muito tempo.

A estatal ganhou R$ 16 bilhões em valor de mercado ao longo do pregão de ontem, também com a ajuda da boa aceitação dos nomes cotados para a substituição: o ex-presidente do Banco Central (BC) Henrique Meirelles; o ex-presidente da Vale, Roger Agnelli; e o ex-diretor da Petrobras Rodolfo Landim.

Como no caso de Mantega, a demissão de Graça Foster deve muito à pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante (PT), é um dos que mais vêm insistindo para que se apresse a substituição no comando da estatal. Ele vem trabalhando intensamente na busca do nome para substituir Graça. Também se dedicam a essa tarefa o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, e o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, além disso, vêm analisando os números do balanço da estatal.

Resistência

Dilma era a principal peça de resistência a essa troca até a semana passada. Até que saiu o mais do que atrasado balanço do terceiro trimestre de 2014 da empresa. Embora não assinado por auditores independentes, portando com validade questionada, há ali, nos anexos, um número que é uma bomba: a estimativa de que, por conta das perdas com a corrupção, devem ser reduzidos R$ 88,6 bilhões dos ativos da empresa.

A publicidade desse número deixou a presidente enfurecida, por considerar que o valor é exagerado e que serviu, basicamente, para aumentar a credibilidade dos ataques da oposição ao governo. Na avaliação de pessoas próximas a Graça Foster, ela tomou a decisão de divulgar o valor porque se sentiu desprotegida. Passou a concordar com avaliações de que vem suportando um fardo excessivo. Recai sobre ela, quase integralmente, a repercussão negativa pelos desmandos na empresa, o que tem ajudado, inclusive, a poupar Dilma, que presidiu o Conselho de Administração da petroleira no governo Lula. Ao trilhar esse caminho, tentando salvar sua biografia, Graça perdeu, porém, a principal proteção, garantida pela primeira mandatária da República.

Há quem argumente, porém, que cabia a Graça Foster a escolha de esconder os R$ 88,6 bilhões. Afinal, esse número foi levantado por uma consultoria contratada pela Petrobras e discutido na reunião do Conselho de Administração. De acordo com a lei que rege as sociedades anônimas, qualquer fato relevante deve ser levado ao conhecimento do público.
Se o número não constasse no balanço, ainda que com ressalvas quanto à sua exatidão, outros conselheiros recorreriam à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que fosse divulgado, buscando se livrar da responsabilidade por omissão.

Dilma tem, é verdade, outras razões para remover da presidência da Petrobras sua amiga Graça Foster, que, quando dorme em Brasília, costuma ficar em um quarto no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência. Uma das principais preocupações é com a saúde de Graça, que tem se mostrado bastante abalada com o aumento da temperatura do escândalo. Ela já viveu sob a ameaça de ter os bens indisponibilizados. Sob forte estresse, pediu demissão duas vezes. Ontem, ao encontrar Dilma, reiterou sua intenção de sair.

Fúria

Graça é uma pessoa bem-humorada e afável, mas às vezes se enfurece e perde o controle nas discussões. Quando era diretora de Gás e Energia da Petrobras, envolveu-se em um bate-boca com outra funcionária da estatal que lhe atribuía uma declaração que ela negava. Depois de uma sequência de “falou” e “não falei”, a interlocutora sacou um celular com uma gravação que demonstrava que ela tinha, de fato, dito aquilo. Graça arrancou o aparelho da mão da pessoa e o jogou na parede. Mais tarde pediu desculpas e pagou o prejuízo.

A executiva entrou na Petrobras como estagiária, e lá passou toda a sua vida profissional.
É engenheira aposentada da empresa pelo teto da remuneração do Petros, o fundo de pensão: R$ 19 mil. Além disso, recebe salário mensal de R$ 100 mil..