Brasília – Ao mesmo tempo em que desperta a cobiça de políticos, a Petrobras possui um peso enorme na economia brasileira. Maior empresa do país, a estatal responde por 13% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Tamanha é a importância da petroleira para a atividade produtiva que, para cada R$ 1 investido, o país ganha outros R$ 3 a partir dos negócios gerados a partir da companhia. Com toda essa relevância, analistas acreditam que a redução do plano de negócios da empresa terá impacto direto e significativo na atividade econômica.Nas contas do Itaú Unibanco, os cortes de investimentos e a queda na produção de petróleo, capitaneados pelo Petrobras,
exercerão peso negativo de 0,2 ponto percentual no crescimento do país. Estimativas de mercado apontam que uma queda de 10% nos negócios da companhia pode tirar de 0,1 a 0,5 ponto percentual do PIB. Como a mediana das previsões dos economistas apurada pelo Banco Central aponta que o país crescerá apenas 0,03% em 2015, mudanças nos rumos da petroleira afetarão o desempenho do Brasil em cheio.Desde 2013, quando abriu os cofres e colocou R$ 104,4 bilhões em obras e projetos, a Petrobras vem reduzindo gastos. O estouro do esquema de corrupção só piorou a situação. No ano passado, as previsões apontavam investimentos de R$ 84,5 bilhões e, para 2015, R$ 83,4 bilhões. O cronograma não deve se confirmar, uma vez que a presidente da empresa, Graça Foster, admitiu rever o plano de negócios para adequá-lo à realidade do mercado e aos problemas de caixa.
Para René Rodrigues, funcionário aposentado da Petrobras e pesquisador da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mesmo com todos os prejuízos revelados na Operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal, a empresa pode voltar a gerar riquezas no longo prazo. Conforme ele, a nova política econômica, que acaba com o controle de preços dos combustíveis, será importante para que a companhia retome o fôlego para honrar compromissos firmados.
Rodrigues ainda lembrou que, com o crescimento da estatal, uma série de empresas e indústrias se desenvolveu apenas para atender as demandas da Petrobras. “Com a redução do plano de investimentos, vários setores da economia serão atingidos, afetando o emprego e a produção de produtos e serviços. Mas a empresa pode se recuperar para voltar a dar alegria aos brasileiros e aos funcionários”, disse.
Campeã nacional
A Petrobras conseguiu se firmar como a maior empresa brasileira, exercendo um peso enorme na economia nacional, reforçou o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. As decisões da estatal mexem com o mercado financeiro, com o nível da atividade e do emprego no país. “A Petrobras conquistou glamour e, nos últimos anos, o governo fez questão de vender a empresa como orgulho nacional”, comentou.
Embalada por uma política que fortaleceu o monopólio do petróleo, a estatal brasileira se transformou em uma gigante mundial do setor, com ações em bolsas de valores fora do Brasil. “A Petrobras é um ícone, um objeto de desejo”, afirmou Pires. Não é à toa que a petroleira tem o poder de provocar um efeito cascata na economia: se a empresa sofre alguma crise, como a atual, atinge fornecedores, colocando em risco milhares de empregos e de negócios.
A internacionalização da companhia e o fato de diversificar cada vez mais os serviços a tornou ainda mais poderosa. O aumento da produção e toda a expectativa em torno do pré-sal fizeram com que diversos segmentos da economia se atrelassem ao desempenho da estatal, o que explica, em grande parte, a apreensão de investidores e o temor de que o esquema de corrupção na companhia tenha reflexos bastante negativos na economia.