“O maior efeito Graça Foster nos papéis da companhia ocorreu ontem (terça-feira). Hoje (quarta-feira), foi só consequência e especulação em torno dos nomes dos prováveis indicados para a nova diretoria da companhia”, avaliou o economista-chefe da Órama, Álvaro Bandeira. Na véspera, a especulação da renúncia de Graça Foster provocou uma forte valorização dos ativos da Petrobras, que ganhou, em apenas um dia, mais de R$ 16 bilhões em valor de mercado, com alta de 15,47% nas preferenciais e 14,23% nas ordinárias.
Na avaliação do economista da DMBL Investimentos Demetrius Borel Lucindo, a volatidade dos papéis da estatal vai continuar enquanto a nova composição da diretoria for apenas especulação. “Veja o poder que a falta de informação tem: quando surgiu o boato de que Olívio Dutra poderia ser o novo presidente, os papéis recuaram para R$ 9,56 depois de chegarem a R$ 10,78”, destacou o analista.
Futuro
A crise de confiança dos investidores na Petrobras, provocada pela revelação de casos de corrupção envolvendo a estatal, deverá continuar abalando suas finanças e suas perspectivas operacionais nos próximos anos.
Os reajustes nas tabelas das refinarias e o avanço na exploração do pré-sal, conquistas da gestão Graça Foster, iniciada em fevereiro de 2012, não conseguirão amenizar desafios deixados ao sucessor. Mas há quem veja sucesso certo no futuro, a partir das vantagens inerentes. “Recuperada a confiança do comando, a Petrobras reúne condições para retomar o papel de vetor do desenvolvimento”, defendeu Adilson de Oliveira, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mas ele admite que a vertiginosa queda do preço do petróleo “não facilitará essa tarefa”.
A produção de petróleo da empresa já voltou a crescer, após quase dois anos estagnada, alcançando uma média diária de 2,6 mil barris, 3% acima da registrada em 2013. Essas boas notícias continuam sendo dadas, bem como na área de refino, sem, contudo, animar os analistas. O fato é que a empresa continua sendo importadora de gasolina e diesel, situação que perdura desde 2011. Graça esperava a volta do equilíbrio este ano, mas os investimentos em refinarias foi suspenso em razão da crise atual.
Edmar Almeida, professor do Grupo de Economia de Energia da UFRJ, teme que a divulgação de R$ 88,6 bilhões em ativos sobreavaliados da petroleira alimente embates políticos. Por isso, entregar um balanço anual avalizado por auditorias independentes deverá ser a maior prioridade dos novos Conselho de Administração e diretoria executiva da estatal.
O cenário de incerteza em relação às consequências da Operação Lava-Jato praticamente desmontou estratégias da empresa e a tendência ainda é de deterioração financeira. Almeida lembrou que, mesmo nos tempos em que o barril do petróleo estava valorizado e o dólar mais amigável, o endividamento subiu de R$ 103 bilhões em fevereiro de 2012 para R$ 261 bilhões em setembro último. E vai crescer mais.