Brasília – A deflagração da Operação Lava-Jato, em março do ano passado, não foi suficiente para acabar com o esquema de pagamentos de propina na Petrobras e nas subsidiárias. A afirmação é do procurador Carlos Fernando Lima, do Ministério Público Federal (MPF), ao comentar o período de ação dos suspeitos investigados na nona fase da operação, apelidada de My Way. Ele diz que a corrupção não acabou. “Eu diria que vai até a data de hoje. É muito recente”, disse Carlos Fernando, da equipe de procuradores e delegados que integra a Lava-Jato.
O objetivo da apuração era levantar provas sobre a ação de 11 operadores e de 25 empresas que fecharam negócios com a Diretoria de Engenharia da Petrobras, muitos de forma independente. A tese da investigação é que os contratos foram obtidos mediante pagamento de propina. Da mesma forma, os delegados e os procuradores apuram a relação da empresa Arxo, com sede em Piçarras (SC), e a BR Distribuidora.
A empresa fechou contrato de R$ 85 milhões com a BR Distribuidora para fornecer 80 caminhões de abastecimento de aviões. A suspeita é que a empresa pagou suborno em troca de informações privilegiadas para obter contratos com a BR, segundo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado do Paraná, Igor de Paula Romário.
A Polícia Federal ainda procura o operador Mário Góes, do Rio de Janeiro, cujo mandado de prisão preventiva ainda não foi cumprido.
Carlos Fernando diz que ainda não se sabe exatamente quando começaram os supostos crimes investigados na My Way. Em entrevista coletiva ontem, o procurador reforçou que a importância da apuração é que a análise da Lava-Jato agora se estende além das diretorias de Abastecimento, antes comandada por Paulo Roberto Costa, e Internacional, que era subordinada a Nestor Cerveró. O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse que os operadores “têm muitas ligações com agentes públicos dentro da Petrobras” .
Segundo Carlos Fernando, os operadores tinham proximidade com a Diretoria de Serviços e Engenharia, que foi comandada por Duque. Apesar disso, os investigadores não pediram a prisão dele, ao menos por enquanto, por não terem provas suficientes.
Sondas
Os contratos bilionários para a construção de navios-sonda, firmados entre a Petrobras e a Sete Brasil, saíram com 1% de propina, segundo delação premiada de Pedro Barusco, ex-diretor de Engenharia da petroleira e ex-diretor da Sete Brasil, empresa criada para intermediar os navios. A empresa tem R$ 234 bilhões em contratos com a Petrobras pelos próximos 14 anos para “gerenciar” a entrega de 28 sondas de exploração para o pré-sal. Mas, segundo Barusco, havia “uma combinação de pagamento de 1% de propina para os contratos firmados entre a Sete Brasil e cada um dos estaleiros”, onde os navios são construídos. Houve negociações e o percentual foi reduzido para 0,9%.
Dois terços do suborno ficavam com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O resto, com o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque, o ex-gerente Roberto Gonçalves, o ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz e o ex-diretor da Sete Eduardo Musa. Os valores eram pagos por estaleiros, como Jurong, EAS, Keppel Fels, todos, com participações das grandes empreiteiras, como a Odebrecht, a UTC e a OAS.
A Odebrecht negou “veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu confesso”. A assessoria da empresa disse que a empreiteira não participou de cartel e que obteve negócios licitamente. A Sete afirmou que desconhecia as irregularidades e informou que pedirá informações sobre o depoimento de Barusco para “tomar medidas judiciais cabíveis”. A UTC disse que não comentaria o caso. A Petrobras e as demais empreiteiras não prestaram esclarecimentos.
Transpetro
Sob pressão na Transpetro, o ex-senador do PMDB Sérgio Machado desistiu da tentativa de voltar ao cargo depois de três meses licenciado e pediu demissão ontem.
A carta de demissão foi entregue ontem ao Conselho da Transpetro. Indicado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para o cargo em 2003, Machado perdeu apoio político para retomar a posição.
Suborno sistemático
O ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, que fechou acordo de delação premiada, informou que começou a receber propina em 1997 ou em 1998. De acordo com Barusco, o suborno era pago pela empresa holandesa SBM. Na época, ele ocupava o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações, no âmbito da Diretoria de Exploração e Produção. Barusco revelou que o representante da SBM chamava-se Júlio Faerman. O pagamento de propina, segundo o delator, tornou-se sistemático a partir de 2000. “Esses contratos eram de longa duração e, desse modo, o pagamento de propinas também perdurou por longos anos”, afirmou. Ele disse que os recebimentos eram mensais e proporcionais aos valores do contrato. Barusco, por exemplo, recebia entre US$ 25 mil e US$ 50 mil por mês.
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