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Estado de Minas

Para MPF, corrupção na Petrobras não acabou

Procurador acredita que problemas na estatal não foram sanados e se espalham por suas subsidiárias. Empresa suspeita fechou contrato de R$ 85 milhões com a BR Distribuidora


postado em 06/02/2015 06:00 / atualizado em 06/02/2015 07:16

Equipe da Lava-Jato dá entrevista sobre a sétima fase da operação: indícios são de que propinas continuam a ser pagas na estatal (foto: Wagner Rosário/Futura Press/ Estadão Conteúdo)
Equipe da Lava-Jato dá entrevista sobre a sétima fase da operação: indícios são de que propinas continuam a ser pagas na estatal (foto: Wagner Rosário/Futura Press/ Estadão Conteúdo)

Brasília – A deflagração da Operação Lava-Jato, em março do ano passado, não foi suficiente para acabar com o esquema de pagamentos de propina na Petrobras e nas subsidiárias. A afirmação é do procurador Carlos Fernando Lima, do Ministério Público Federal (MPF), ao comentar o período de ação dos suspeitos investigados na nona fase da operação, apelidada de My Way. Ele diz que a corrupção não acabou. “Eu diria que vai até a data de hoje. É muito recente”, disse Carlos Fernando, da equipe de procuradores e delegados que integra a Lava-Jato.

O objetivo da apuração era levantar provas sobre a ação de 11 operadores e de 25 empresas que fecharam negócios com a Diretoria de Engenharia da Petrobras, muitos de forma independente. A tese da investigação é que os contratos foram obtidos mediante pagamento de propina. Da mesma forma, os delegados e os procuradores apuram a relação da empresa Arxo, com sede em Piçarras (SC), e a BR Distribuidora.

A empresa fechou contrato de R$ 85 milhões com a BR Distribuidora para fornecer 80 caminhões de abastecimento de aviões. A suspeita é que a empresa pagou suborno em troca de informações privilegiadas para obter contratos com a BR, segundo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado do Paraná, Igor de Paula Romário.

A Polícia Federal ainda procura o operador Mário Góes, do Rio de Janeiro, cujo mandado de prisão preventiva ainda não foi cumprido. O delegado Carlos Fernando disse ao Estado de Minas que esse operador atuou tanto para a Arxo, na BR Distribuidora, quanto para outros “clientes” na Diretoria de Serviços.

Carlos Fernando diz que ainda não se sabe exatamente quando começaram os supostos crimes investigados na My Way. Em entrevista coletiva ontem, o procurador reforçou que a importância da apuração é que a análise da Lava-Jato agora se estende além das diretorias de Abastecimento, antes comandada por Paulo Roberto Costa, e Internacional, que era subordinada a Nestor Cerveró. O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima disse que os operadores “têm muitas ligações com agentes públicos dentro da Petrobras” .

Segundo Carlos Fernando, os operadores tinham proximidade com a Diretoria de Serviços e Engenharia, que foi comandada por Duque. Apesar disso, os investigadores não pediram a prisão dele, ao menos por enquanto, por não terem provas suficientes.

Sondas

Os contratos bilionários para a construção de navios-sonda, firmados entre a Petrobras e a Sete Brasil, saíram com 1% de propina, segundo delação premiada de Pedro Barusco, ex-diretor de Engenharia da petroleira e ex-diretor da Sete Brasil, empresa criada para intermediar os navios. A empresa tem R$ 234 bilhões em contratos com a Petrobras pelos próximos 14 anos para “gerenciar” a entrega de 28 sondas de exploração para o pré-sal. Mas, segundo Barusco, havia “uma combinação de pagamento de 1% de propina para os contratos firmados entre a Sete Brasil e cada um dos estaleiros”, onde os navios são construídos. Houve negociações e o percentual foi reduzido para 0,9%.

Dois terços do suborno ficavam com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. O resto, com o ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque, o ex-gerente Roberto Gonçalves, o ex-presidente da Sete João Carlos Ferraz e o ex-diretor da Sete Eduardo Musa. Os valores eram pagos por estaleiros, como Jurong, EAS, Keppel Fels, todos, com participações das grandes empreiteiras, como a Odebrecht, a UTC e a OAS.

A Odebrecht negou “veementemente as alegações caluniosas feitas pelo réu confesso”. A assessoria da empresa disse que a empreiteira não participou de cartel e que obteve negócios licitamente. A Sete afirmou que desconhecia as irregularidades e informou que pedirá informações sobre o depoimento de Barusco para “tomar medidas judiciais cabíveis”. A UTC disse que não comentaria o caso. A Petrobras e as demais empreiteiras não prestaram esclarecimentos.

Transpetro

Sob pressão na Transpetro, o ex-senador do PMDB Sérgio Machado desistiu da tentativa de voltar ao cargo depois de três meses licenciado e pediu demissão ontem. Em novembro, a Price Waterhouse Coopers se negou a auditar o balanço da Petrobras com a presença dele na diretoria da subsidiária da estatal. O ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa afirmou ter recebido R$ 500 mil de propina das mãos de Machado, que também foi denunciado pelo Ministério Público por irregularidades na contratação de balsas em Araçatuba (SP).

A carta de demissão foi entregue ontem ao Conselho da Transpetro. Indicado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para o cargo em 2003, Machado perdeu apoio político para retomar a posição.

Suborno sistemático

O ex-gerente de Engenharia da Diretoria de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, que fechou acordo de delação premiada, informou que começou a receber propina em 1997 ou em 1998. De acordo com Barusco, o suborno era pago pela empresa holandesa SBM. Na época, ele ocupava o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações, no âmbito da Diretoria de Exploração e Produção. Barusco revelou que o representante da SBM chamava-se Júlio Faerman. O pagamento de propina, segundo o delator, tornou-se sistemático a partir de 2000. “Esses contratos eram de longa duração e, desse modo, o pagamento de propinas também perdurou por longos anos”, afirmou. Ele disse que os recebimentos eram mensais e proporcionais aos valores do contrato. Barusco, por exemplo, recebia entre US$ 25 mil e US$ 50 mil por mês. A SBM fechou um acordo com o Ministério Público da Holanda para devolver US$ 240 milhões. No Brasil, de acordo com ex-funcionários da SBM, a empresa pagou US$ 139 milhões para servidores da Petrobras em propinas.

 


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