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Estado de Minas

PT comemora 35 anos de fundação do partido na defensiva

Em meio ao maior escândalo da sua história, partido reúne seus caciques em uma festa marcada por discursos de exaltação à legenda e até críticas à atuação da Polícia Federal


postado em 07/02/2015 06:00 / atualizado em 07/02/2015 07:35

Na mesa, o governador Fernando Pimentel, os presidentes Pepe Mujica, do Uruguai, e Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula: militância conclamada a 'andar de cabeça erguida'(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Na mesa, o governador Fernando Pimentel, os presidentes Pepe Mujica, do Uruguai, e Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula: militância conclamada a 'andar de cabeça erguida' (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)

Acuado pelas denúncias que atingiram seu tesoureiro, João Vaccari Neto, o PT reuniu seus principais caciques em um evento em Belo Horizonte, marcado por críticas até mesmo à Polícia Federal. Em todos os discursos, o tom foi de defesa do partido e críticas ao que os petistas chamam de “criminalização” da legenda. O evento, com direito a bolo e parabéns, contou com a presença da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Uruguai, Pepe Mujica, além de governadores, ministros, parlamentares e militantes, que ocuparam todo o auditório do Minascentro.

Na quinta-feira, véspera da comemoração do aniversário, Vaccari Neto – que no evento ganhou um lugar no palco e foi lembrado em várias discursos – foi levado coercitivamente para depor na Polícia Federal sobre supostos recebimentos de propina por empresas que prestam serviços para a Petrobras. No mesmo dia, também foi revelado o depoimento do ex-gerente de Engenharia da estatal Pedro Barusco, que, em delação premiada, acusou o PT de receber R$ 200 milhões em propinas da petrolífera, entre 2003 e 2013. “Ontem (quinta) fiquei indignado, mais do que em outros dias, mas tomei cuidado para não repassar aqui a indignação de ontem. Seria muito mais simples a PF ter convidado nosso tesoureiro para se apresentar do que ir buscar em casa, mas eles estão repetindo o mesmo ritual desde 2005 quando começaram as denúncias que eles chamaram de mensalão”, afirmou o Lula, logo no início de sua fala, antes de começar a ler seu discurso, hábito pouco comum em eventos do partido. O ex-presidente repetiu o que havia dito à tarde, durante a reunião da Executiva Nacional da legenda, quando alertou a militância: “Quando um companheiro é atacado, na dúvida, fica com o companheiro”.

Durante todo o ato no Minascentro, os dirigentes exaltaram o PT e conclamaram a militância a “andar de cabeça erguida” e não aceitar a pecha de partido corrupto.  Não faltaram também ataques ao que o partido chama de cruzada contra a Petrobras. Durante os discursos, todos defenderam a regulamentação econômica da mídia e criticaram a imprensa, que, segundo Lula, tem como critério noticiar escândalos de corrupção e criminalização da legenda.

Apesar do tom de exaltação ao partido, dirigentes – entre eles o próprio Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) – pregaram a autocritica em relação aos erros cometidos, sem, porém, citar quais seriam, e a retomada dos valores e origens da fundação do partido. Também saíram em defesa das medidas econômicas pouco populares adotadas pela presidente Dilma logo no início do governo, mas cobraram a não retirada de direitos dos trabalhadores. Uma delas foi a alteração das regras do seguro-desemprego sob a alegação de excesso de fraudes.

Última a falar, a presidente pediu aos militantes “coragem política”, disse que o partido não pode ter medo e deve ter força para resistir “ao oportunismo e golpismo”. Em relação a Petrobras, afundada em denúncias de desvios e irregularidades, que resultaram no maior escândalo da história do partido, a presidente disse que, se houver erros, “aqueles que erraram que paguem por eles”. Dilma disse que o brasileiro tem de ter orgulho da empresa. “Não podemos aceitar que alguns tentem colocar a Petrobras como sendo uma vergonha para o país.” Defendeu ainda a apuração de “tudo que foi feito de errado” e a criação de mecanismos para evitar irregularidades.

A presidente também falou sobre os ajustes fiscais de seu governo e disse que eles são são necessários para manter o rumo e ampliar as oportunidades. Segundo ela, as mudanças que o país precisa dependem da estabilidade da economia.  Antes, Lula já havia dito que as medidas adotadas por Dilma eram necessárias. “Mesmo reclamando nos corredores, Dilma, tenha a certeza de que nós sabemos que o que você vai fazer vai levar o país a um momento muito melhor. Faça o que tiver que fazer, porque por um erro desastroso nosso, quem vai sofrer é o povo mais humilde deste país”, afirmou.

‘Nunca se sintam os patrões do Brasil’

O presidente uruguaio José Mujica foi o convidado de honra da festa petista e fez um discurso distante do tom de defesa dos petistas. Pepe, como é conhecido o político de 79 anos que deixa o governo no final deste mês, pediu aos militantes petistas que cuidem da alma da legenda. “Mas nunca se sintam os patrões do Brasil”, ponderou Mujica. O presidente uruguaio conclamou os militantes para que eles não sejam enganados pela sociedade de consumo. “Aprendam a viver com pouco”, ensinou o presidente, que dispensa as regalias do cargo e dirige um VW Fusca de 1978.


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