Acuado pelas denúncias que atingiram seu tesoureiro, João Vaccari Neto, o PT reuniu seus principais caciques em um evento em Belo Horizonte, marcado por críticas até mesmo à Polícia Federal. Em todos os discursos, o tom foi de defesa do partido e críticas ao que os petistas chamam de “criminalização” da legenda. O evento, com direito a bolo e parabéns, contou com a presença da presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do presidente do Uruguai, Pepe Mujica, além de governadores, ministros, parlamentares e militantes, que ocuparam todo o auditório do Minascentro.
Na quinta-feira, véspera da comemoração do aniversário, Vaccari Neto – que no evento ganhou um lugar no palco e foi lembrado em várias discursos – foi levado coercitivamente para depor na Polícia Federal sobre supostos recebimentos de propina por empresas que prestam serviços para a Petrobras. No mesmo dia, também foi revelado o depoimento do ex-gerente de Engenharia da estatal Pedro Barusco, que, em delação premiada, acusou o PT de receber R$ 200 milhões em propinas da petrolífera, entre 2003 e 2013. “Ontem (quinta) fiquei indignado, mais do que em outros dias, mas tomei cuidado para não repassar aqui a indignação de ontem. Seria muito mais simples a PF ter convidado nosso tesoureiro para se apresentar do que ir buscar em casa, mas eles estão repetindo o mesmo ritual desde 2005 quando começaram as denúncias que eles chamaram de mensalão”, afirmou o Lula, logo no início de sua fala, antes de começar a ler seu discurso, hábito pouco comum em eventos do partido. O ex-presidente repetiu o que havia dito à tarde, durante a reunião da Executiva Nacional da legenda, quando alertou a militância: “Quando um companheiro é atacado, na dúvida, fica com o companheiro”.
Durante todo o ato no Minascentro, os dirigentes exaltaram o PT e conclamaram a militância a “andar de cabeça erguida” e não aceitar a pecha de partido corrupto. Não faltaram também ataques ao que o partido chama de cruzada contra a Petrobras. Durante os discursos, todos defenderam a regulamentação econômica da mídia e criticaram a imprensa, que, segundo Lula, tem como critério noticiar escândalos de corrupção e criminalização da legenda.
Apesar do tom de exaltação ao partido, dirigentes – entre eles o próprio Lula, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, e o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) – pregaram a autocritica em relação aos erros cometidos, sem, porém, citar quais seriam, e a retomada dos valores e origens da fundação do partido. Também saíram em defesa das medidas econômicas pouco populares adotadas pela presidente Dilma logo no início do governo, mas cobraram a não retirada de direitos dos trabalhadores. Uma delas foi a alteração das regras do seguro-desemprego sob a alegação de excesso de fraudes.
Última a falar, a presidente pediu aos militantes “coragem política”, disse que o partido não pode ter medo e deve ter força para resistir “ao oportunismo e golpismo”. Em relação a Petrobras, afundada em denúncias de desvios e irregularidades, que resultaram no maior escândalo da história do partido, a presidente disse que, se houver erros, “aqueles que erraram que paguem por eles”. Dilma disse que o brasileiro tem de ter orgulho da empresa. “Não podemos aceitar que alguns tentem colocar a Petrobras como sendo uma vergonha para o país.” Defendeu ainda a apuração de “tudo que foi feito de errado” e a criação de mecanismos para evitar irregularidades.
A presidente também falou sobre os ajustes fiscais de seu governo e disse que eles são são necessários para manter o rumo e ampliar as oportunidades. Segundo ela, as mudanças que o país precisa dependem da estabilidade da economia. Antes, Lula já havia dito que as medidas adotadas por Dilma eram necessárias. “Mesmo reclamando nos corredores, Dilma, tenha a certeza de que nós sabemos que o que você vai fazer vai levar o país a um momento muito melhor. Faça o que tiver que fazer, porque por um erro desastroso nosso, quem vai sofrer é o povo mais humilde deste país”, afirmou.
‘Nunca se sintam os patrões do Brasil’
O presidente uruguaio José Mujica foi o convidado de honra da festa petista e fez um discurso distante do tom de defesa dos petistas. Pepe, como é conhecido o político de 79 anos que deixa o governo no final deste mês, pediu aos militantes petistas que cuidem da alma da legenda. “Mas nunca se sintam os patrões do Brasil”, ponderou Mujica. O presidente uruguaio conclamou os militantes para que eles não sejam enganados pela sociedade de consumo. “Aprendam a viver com pouco”, ensinou o presidente, que dispensa as regalias do cargo e dirige um VW Fusca de 1978.