Brasília - A presidente Dilma Rousseff decidiu manter o controle sobre a Petrobrás ao escolher como novo presidente da empresa Aldemir Bendine, que até ontem comandava o Banco do Brasil com obediência às agendas do Palácio do Planalto. A escolha dividiu o Conselho de Administração. Três dos dez membros votaram contra a indicação.
Com a inesperada renúncia coletiva da diretoria da estatal, Dilma teve 48 horas para buscar um nome que fosse de sua confiança e também tivesse prestígio técnico e independência política para agradar ao mercado. Diante de algumas sondagens frustradas, não encontrou ninguém disponível que atendesse inteiramente aos requisitos.
A presidente decidiu baseada nos seguintes critérios: confiança de que Bendine repetirá a fidelidade ao governo já demonstrada no comando do BB; a experiência dele no mercado com expertise para tentar sanar a confusão contábil da empresa; e, por fim, sua disponibilidade em assumir a estatal e assinar os balanços daqui para frente.
Bendine começa a despachar na sede da Petrobrás na segunda-feira. E terá como primeira tarefa resolver o impasse sobre a aprovação do balanço e os reais valores dos ativos inflados, que a ex-presidente Graça Foster estimou em R$ 88,6 bilhões.
Ações
A solução caseira decepcionou o mercado e as ações da Petrobrás, que haviam subido cerca de 15% anteontem diante de rumores da saída de Graça. Ontem caíram mais de 7%, assim que a nova escolha começou a circular. Dilma se surpreendeu com a reação negativa do mercado ao nome de Bendine. Ontem, em almoço com o núcleo político de seu governo, no Palácio da Alvorada, afirmou que não esperava essa resposta do mercado financeiro.
Sabendo não se tratar do desfecho ideal, a estratégia para tentar minimizar a rejeição a Bendine foi anunciar ao mesmo tempo o nome de Ivan de Souza Monteiro como diretor financeiro da petroleira. Como vice-presidente de Finanças e de Relações com Investidores do BB, Monteiro ganhou respeito no mercado por, entre outras ações, viabilizar captações estrangeiras para o banco público. A escolha do novo conselho, na próxima semana, também terá como objetivo transferir credibilidade à nova direção da estatal.
No governo, considera-se que ambos têm experiência para lidar com isso. Um exemplo foi o saneamento do banco Votorantim, braço financeiro das empresas da família Ermírio de Moraes. A operação parou no BB em 2009, quando 49,99% do capital votante e 50% do capital social total foram adquiridos pelo banco estatal a pedido do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Vale
A opção por Bendine contrariou parte dos conselheiros da presidente, mas foi da vontade irreversível de Dilma, que o recebeu na quarta-feira para uma primeira conversa secreta no Alvorada. O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, defendeu até o fim o nome de Murilo Ferreira, presidente da Vale.
Entretanto, o executivo da mineradora enviou recados de que recusaria a proposta. Usou como argumento o delicado momento de reestruturação da empresa, com a queda no preço do minério de ferro no mercado mundial, precisando renegociar seu perfil de endividamento.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tentou contribuir com sugestões de nomes tanto para a presidência como para o conselho da Petrobrás, e até chegou a fazer algumas conversas com potenciais substitutos, mas também não participou da decisão sobre Bendine.
Já alguns ministros petistas alinhados ao ex-presidente Lula trabalhavam para emplacar no comando da estatal petrolífera o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, mas a alternativa foi rejeitada. Quando Dilma ainda era ministra, travou várias batalhas com Meirelles dentro do Executivo e perdeu quase todas.
Crise
Bendine assumiu o Banco do Brasil em abril de 2009, na fase mais aguda da crise financeira global, com a missão de executar duas tarefas da agenda do ex-presidente Lula: ampliar a oferta de crédito para estimular a economia e liderar uma competição aguerrida com os bancos privados, para forçá-los a reduzir os juros. Seu antecessor no cargo, Antonio Francisco de Lima Neto, não seguiu a cartilha do Palácio do Planalto e foi retirado do cargo.
Na avaliação do governo, a experiência de Bendine durante quase seis anos à frente do Banco do Brasil o cacifa para resolver o maior problema da petroleira neste momento: a confusão financeira decorrente de problemas na contabilidade por causa do impacto da Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção e desvios na Petrobrás. Com livre acesso no sistema financeiro, caberá a ele resolver o endividamento significativo da companhia.