Cartel foi mais efetivo com Duque e Costa, diz delator

De acordo com Augusto Mendonça, o cartel "passou a ser mais efetivo a partir de 2004, graças às negociações dos ex-diretores da Petrobras Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Engenharia e Serviços)"

Em novo depoimento à Justiça Federal do Paraná nessa segunda-feira, 9, o executivo Augusto Mendonça, que fez acordo de delação premiada no processo da Operação Lava-Jato, afirmou que o cartel, chamado por ele de "clube" de empreiteiras que atuava nas licitações da estatal, existe desde meados da década de 1990, período que abrange a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Segundo Mendonça, ex-representante da Toyo Setal, o cartel "passou a ser mais efetivo a partir de 2004, graças às negociações dos diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Engenharia e Serviços)".

"Isso (o acerto entre as empresas) passou a ter efetividade, de fato, a partir de 2004, quando este grupo negociou com os dois diretores, Paulo Roberto e Renato Duque, de modo que a lista de convidados fosse restrita às empresas que participassem desse grupo. A partir daí, durante um período o resultado dessas reuniões, dessas escolhas, passou a ser mais efetivo", explicou o executivo, que firmou acordo de delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal.

Augusto foi arrolado como testemunha de acusação nas ações penais contra as empreiteiras decorrentes da sétima etapa da Lava-Jato. Segundo ele, desde meados da década de 1990, em meio a uma crise do setor, as empresas se reuniram por meio da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) e realizaram grupos de trabalho com a estatal petrolífera "no sentido de discutir e melhorar as condições contratuais, de modo que as empresas poderiam performar melhor e a Petrobras obter melhores preços e condições contratuais". Paralelo a estas negociações, segundo o delator, as nove empresas que faziam parte do grupo, na época, se reuniam cerca de três vezes por ano tinham o compromisso de não competir umas com as outras.

Propinas

Em 2014, explicou, os contatos com as diretorias de Paulo Robert Costa e Renato Duque intensificaram a atuação do cartel em contrapartida às propinas que passaram a ser pagas para a diretoria de Costa, que encaminhava para o PP, e para a de Duque, que o delator afirmou não ter nenhum político envolvido, mas que as investigações apontam que ia para o PT.

"Pelo lado da diretoria do Paulo Roberto existia a figura do José Janene que procurou as companhias dizendo que o partido dele (PP) tinha sido o responsável pela indicação de Paulo Roberto e que por conta disso iam passar a pedir uma comissão nos contratos da Petrobras", contou o delator.

Augusto detalhou como se davam os pagamentos da propina nas duas diretorias, sendo que na de Abastecimento o processo começou com Janene e depois passou a ser operacionalizado por Youssef, e que na de Serviços eles conseguiam emitir notas fiscais "de cinco empresas", sem detalhar quais, e que os pagamentos podiam ocorrer tanto por meio de transferências para contas no exterior como em dinheiro vivo no Brasil.

Por fim, ele relatou que, a partir do fim de 2011 e começo de 2012, a atuação do clube foi perdendo eficácia. "(As reuniões) foram interrompidos porque perderam completamente a eficácia. Ainda na gestão do Paulo e do Duque foram perdendo eficácia com inclusão de novas companhias propositadamente pelo lado da Petrobras. E também a partir da saída deles, que aconteceu no começo de 2012, essa interlocução com a companhia acabou, a partir daí essas reuniões se tornaram absolutamente ineficazes e deixaram de acontecer, não houve mais nenhuma tentativa de acordo a partir dessa época", relatou..