São Paulo e Curitiba, 12 - O doleiro Alberto Youssef detalhou em sua delação premiada, anexada aos autos da Operação Lava Jato, que cuidou de dois repasses de aproximadamente R$ 400 mil para João Vaccari Neto, em nome do PT. O valor de R$ 880 mil, ao todo, foi pago pela empresa Toshiba Infraestrutura em uma contratação paras obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), entre 2009 e 2010.
"O valor do PT foi negociado com João Vaccari, que na época representava o PT nos recebimentos oriundos dos contratos com a Petrobras", revelou o doleiro, em depoimento prestado em novembro de 2014 e mantido sob sigilo até essa quarta-feira, 11.
Um dos pagamentos foi recebido pela cunhada de Vaccari, Marice Corrêa Lima, no escritório do doleiro em São Paulo, e outro pelo próprio tesoureiro em uma "sacola lacrada" em restaurante perto da Avenida Paulista. Segundo Youssef, na contratação da Toshiba para as obras da Casa de Força, do Comperj, entre 2009 e 2010, a empresa corria o risco de ser desclassificada e buscou Youssef e o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa para vencer o contrato - que segundo ele, era de R$ 130 milhões, aproximadamente, e com descontos teria baixado para R$ 117 milhões.
Youssef afirmou à força-tarefa da Lava Jato que "o presidente da Toshiba no Brasil, que ficava em São Paulo, e também o diretor comercial, de nome Piva, trataram diretamente" com ele que "iriam dar 1% do valor da obra para o PP e 1% para o PT". José Alberto Piva Campana é o executivo da Toshiba.
A cota do PT era referente aos valores de propina exigidos pelo ex-diretor de Serviços Renato Duque, indicado pelo partido para o cargo. Youssef disse que, na época, os dois executivos da Toshiba pediram para usar uma das empresas de fachada de sua lavanderia - a MO Consultoria - "para fazer o repasse tanto do PP quanto do PT".
Cunhada
Logo após o depósito da Toshiba, Youssef sacou da conta da empresa fantasma "pouco mais de R$ 400 mil e entregou a uma emissária de Vaccari, chamada de Marice". O doleiro detalhou que "atendeu (Marice) no seu escritório em São Paulo e lhe entregou o dinheiro". "Quem passou o nome desta Marice como sendo a pessoa a quem deveriam ser entregues os valores destinados ao PT foi o diretor comercial da Toshiba, chamado Piva", afirmou Youssef.
O executivo da empresa - já investigada anteriormente pela Lava Jato - teria dito a ele que a "emissária" chegaria pela garagem e "passou o dia e hora que a mesma iria encontrar" com o doleiro.
Restaurante
O doleiro relatou ainda uma segunda entrega de dinheiro ao tesoureiro do PT. "Alguns meses depois, Piva marcou em um restaurante em São Paulo o recebimento de mais uma parcela dos valores destinados ao PT que haviam sido transferidos", explicou Youssef.
"Piva informou que almoçaria com João Vaccari e ali aproveitaria para fazer a entrega de parte do restante destinado ao PT", acrescentou o delator da Lava Jato.
Contou o doleiro que o executivo da Toshiba dias antes havia ido até seu escritório "mas ficou receoso de sair com uma quantia alta, e por isso, marcou uma segunda oportunidade para receber os valores e de imediato já entregar a Vaccari".
Foi Rafael Ângulo Lopes - um dos carregadores de dinheiro de Youssef - que levou a quantia, segundo afirmou o delator. Ele diz ter pedido ao "funcionário" para levar a quantia em um restaurante indicado por Piva, que fica perto da Avenida Paulista e ali lhe entregar uma sacola lacrada com os valores devidos". "Este valor também girava em pouco mais de R$ 400 mil", revelou o doleiro.
João Vaccari Neto afirmou em seu depoimento à Polícia Federal, no dia 5,, que "Marice nunca prestou serviço de courrier". Perguntados por delegados da Lava Jato, e informou que "não confirma a declaração prestada por Alberto Youssef, onde esse teria afirmado que Marice seria (sua) emissária". O tesoureiro do PT negou no depoimento à PF a informação do ex-diretor de Abastecimento. Disse não ter recebido 2% dessa "propina" nos contratos da Petrobrás.
Ontem, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que vai acionar na Justiça o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco pelas afirmações de que o partido arrecadou até US$ 200 milhões em propina durante dez anos, em cerca de 90 contratos da Petrobras.