Brasília – Advogados dos réus da Operação Lava-Jato, o procurador da força-tarefa da investigação Athayde Ribeiro Costa e o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, tiveram uma audiência tensa ontem.
Servidores da Justiça Federal classificaram a oitiva de ontem como uma das mais tensas das últimas duas semanas. Com a sessão de sexta-feira, terminaram os depoimentos consecutivos de acusação nas seis ações criminais contra executivos de empreiteiras e Cerveró. Todas as denúncias são derivadas da Operação Juízo Final, a sétima fase da Lava-Jato, deflagrada em 14 de novembro passado.
Segundo a denúncia, com ajuda de Youssef, Camargo pagou US$ 40 milhões em propinas a Cerveró e a Baiano em troca de fechar negócio de duas sondas da Samsung com a Petrobras – uma de US$ 586 milhões (US$ 1,2 bilhão em valores atuais). Os negócios ocorreram em 2006 e em 2007. Cerveró e Baiano negam ter recebido suborno.
No início da audiência, os advogados de Baiano, com apoio dos de Cerveró, queriam adiar o encontro. O primeiro motivo foi argumentar que Moro era suspeito para conduzir o caso, que deveria tramitar no Rio de Janeiro – alegação várias vezes derrubada por tribunais superiores. O segundo, porque os defensores queriam terminar de ler as delações premiadas de Youssef e de Costa, tornadas públicas na quinta-feira, mas cujo conteúdo não tinha sido usado na denúncia. Em mais de 20 minutos de discussão, Moro rejeitou o adiamento da sessão e disse que só analisaria os pedidos mais tarde, sem suspender o processo. O procurador Athayde disse que a defesa tentava uma “chicana”. “O argumento é inócuo. Estamos prezando pela razoável duração do processo”, afirmou Athayde. O advogado de Fernando Baiano, Davi de Azevedo, disse que ele “cuidasse” das palavras e usasse termos “mais sensíveis, mais elegantes”. As queixas só terminaram quando Moro cortou o microfone e iniciou o depoimento da testemunha.
Pasadena Na oitiva, Paulo Roberto Costa repetiu vários termos dos depoimentos em delação premiada prestados em setembro. Ele confirmou que recebeu US$ 1,5 milhão do lobista Fernando Baiano para “não atrapalhar” a compra da Refinaria de Pasadena, nos Estado Unidos. No total, o operador lhe repassou US$ 4 milhões, incluindo um suborno referente a contrato da Andrade Gutierrez, negócio que ainda envolveu o PMDB. A construtora, mais uma vez, repudiou as acusações, dizendo que são “baseadas em ilações e não em fatos concretos”.
Costa voltou a mencionar que as propinas eram pagas em quatro diretorias: Abastecimento; Exploração e Produção; Gás e Energia; e também na Internacional. Algumas em conjunto com a Diretoria de Engenharia. Ele disse ainda que, “pelo que tem conhecimento”, Cerveró também recebia propina. Entretanto, em relação às sondas da Samsung, Paulo Roberto Costa informou que desconhecia o assunto porque era de outro setor. Chegou a dizer que as decisões eram colegiadas e que Cerveró não poderia ter absoluta influência sobre o negócio para convencer os demais diretores.