Essas iniciativas, somadas às declarações polêmicas do parlamentar, que é evangélico, sobre gays e feministas, já deram início a um movimento de reação nas redes sociais, que começa a se estender para as ruas.
Um ato organizado por movimentos sociais contra Cunha reuniu ontem cerca de 100 pessoas no centro de São Paulo. O protesto contou com a presença três deputados federais: Jean Wyllys (PSOL-RJ), Erika Kokay (PT-DF) e Ivan Valente (PSOL-SP).
Antes de discursar, Wyllys disse que o presidente da Câmara pretende criar uma cortina de fumaça: "Ele tem uma ficha corrida com mais de uma dezena de processos de corrupção. Investe numa pauta homofóbica para criar uma cortina de fumaça".
No ato, que teve estrutura precária - o sistema de som não funcionou em boa parte do tempo -, Wyllys acusou Cunha de ser "muito esperto". "Conseguiu uma aliança suprapartidária que ameaça os direitos individuais e das minorias.
Bruno Maia, do coletivo Pedra no Sapato - criador da Comissão Extraordinária de Direitos Humanos e Minorias em 2013, em protesto contra a posse do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara -, faz parte do grupo que agora quer voltar às ruas. Para ele, o presidente da Câmara já deu sinais suficientes de que vai agir contra os interesses das mulheres e dos gays e impedir iniciativas de revisão da política de drogas.
Maia preocupa-se sobretudo com a presidência da Comissão de Direitos Humanos, que será decidida nos próximos dias. "Ele já avisou que sob o comando dele as pautas de interesses desses grupos nem serão discutidas. O próximo passo será entregar o comando das comissões para forças ultraconservadoras."
Adoção. Uma das iniciativas de Cunha que mais provocaram reações foi a criação de uma comissão especial para acelerar a tramitação do Projeto de Lei 6.583, o Estatuto da Família. Apresentado em 2013 pelo deputado Anderson Ferreira (PR-PE), também evangélico, o projeto quer oficializar como família apenas núcleos formados pela união entre um homem e uma mulher. Na prática, o objetivo é impedir a adoção de crianças por casais formados por pessoas do mesmo sexo. No Brasil isso já é possível desde 2011, após o Supremo Tribunal Federal ter dito que a Constituição impede restrições aos gays.
Para Maria Julia Giorgi, do movimento Mães pela Igualdade, o maior temor é de que ocorra um retrocesso na área dos direitos civis: "Queremos que nossos filhos, que pagam impostos, tenham cidadania plena, com direito ao casamento e à adoção".
A deputada Erika Kokay (PT-DF), que se destaca nos debates sobre direitos humanos, diz que Cunha usa a Presidência da Casa como palco para a defesa de projetos pessoais e de grupos religiosos. "O Legislativo é um poder plural. As atitudes dele ferem essa pluralidade e a democracia." As informações são do jornal
O Estado de S. Paulo..