Brasília – O risco de uma derrota fragorosa nas votações do ajuste fiscal encaminhado ao Congresso fez com que o governo capitulasse ao PMDB. A legenda deverá ter prioridade no debate dos cargos do segundo escalão federal, paralisado desde que as novas mesas diretoras do Congresso foram eleitas, no início de fevereiro. Em troca, o Planalto e o PT torcem para que os peemedebistas apoiem as propostas econômicas encaminhadas ao Congresso e não se aliem à oposição para complicar a vida do Executivo e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPI da Petrobras.
“Estamos buscando recompor a base aliada e isso jamais será possível se não nos reconciliarmos com o principal partido da coligação, o PMDB”, afirmou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Ele fez um périplo peemedebista ontem. Encontrou-se com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), almoçou com o líder do partido na Casa, Leonardo Picciani (RJ) e correu, no fim do dia, para reunir-se com o vice-presidente Michel Temer. Cunha também reuniu-se no Planalto com o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Guimarães estava no encontro da corrente majoritária do PT na sexta-feira, em que foi diagnosticado que, se o governo não reconstruir as pontes com o PMDB, ficará isolado e será engolfado pelo principal aliado. Com a presença do ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini, os petistas avaliaram que esgarçar as relações com o PMDB seria o primeiro passo para atirar o aliado no colo da oposição. “Se eles se bandearem para o outro lado, corremos o risco de ver o Lula convocado para depor na CPI da Petrobras”, disse um petista, lembrando que o ex-presidente já vem aparecendo nos jornais como “lobista” dos interesses das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato.
O PMDB já havia demonstrado força política ao oferecer um jantar, na noite de ontem, para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Principal alvo das investidas do Planalto, Eduardo Cunha, que derrotou o candidato petista na disputa pela presidência da Câmara, disse que a movimentação da equipe de Dilma é “natural”. “O governo tem um problema, que são duas medidas provisórias (que alteram a legislação trabalhista e a previdenciária) para serem votadas na Casa e que demandar articular com a base. Se ão o fizer corre o risco de as medidas serem emendadas e desfiguradas”, afirmou.
Tentando não passar recibo de que foram atropelados pelos peemedebistas, os petistas também marcaram, para esta terça-feira, um jantar com Levy. “Não será com toda a bancada, será com alguns integrantes do PT”, explicou Guimarães, que confirmou para esta semana, provavelmente para amanhã, um encontro da base aliada com a presidente Dilma Rousseff. O PT e o Planalto também devem ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a não votação, nesta terça-feira, durante sessão do Congresso, do veto presidencial ao reajuste de 6,5% na tabela do Imposto de Renda (IR).
Comissões
Alijado das principais comissões permanentes da Câmara, como a de Constituição e Justiça (CCJ) e de Finanças e Tributação (CFT), o PT trabalhará nos próximos dias para garantir o controle de colegiados considerados estratégicos para o governo. “Estamos reivindicando, principalmente, as de Minas e Energia, Educação, Relações Exteriores e Defesa, e Fiscalização e Controle”, informou o líder petista Sibá Machado (AC). Pelo menos duas pretensões petistas, porém, entram em choque com o bloco liderado pelo PMDB: a pasta de Minas e Energia é considerada estratégica em ano de crise hídrica; e a de Fiscalização e Controle é reivindicada pelo próprio aliado petista, no momento em que se apuram crimes cometidos na Petrobras. A ordem de escolhas será definida pelos líderes em reunião na quinta-feira, às 10h.
Para contemplar apoiadores da época da campanha, o PMDB vem cedendo espaço a partidos que ajudaram na eleição de Cunha. O PP, por exemplo, indicará o presidente da CCJ, considerada a mais importante da Casa.
O ajuste de cada um
O que as principais forças políticas do país pensam sobre o arrocho econômico necessário ao país
Governo
» Propôs um arrocho fiscal que gira entre R$ 60 bilhões e R$ 70 bilhões. Já encaminhou duas medidas provisórias com mudanças na legislação trabalhista e previdenciária. Pode até ceder em alguns pontos, desde que a conta final feche no patamar imaginado pela equipe econômica
PT
» Aceita o ajuste, mas não quer retrocessos sociais nem perda dos direitos dos trabalhadores. Propõe mudanças nas MPs que impeçam a debandada das centrais sindicais. Entre elas, está a taxação das grandes fortunas
PMDB
» Fechou apoio às centrais sindicais e também, a exemplo do PT, não quer penalizar os trabalhadores. Defende mudanças nas MPs em tramitação na Casa, mas ainda não apresentou propostas, já que a liderança na Câmara não reuniu a nova bancada. A cúpula partidária reuniu-se ontem com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. E os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ) e do Senado, Renan Calheiros (AL), vão se encontrar com empresários esta semana
PSDB
» Reconhece a necessidade de ajustes, mas discorda de punição aos trabalhadores. Os tucanos defendem a diminuição dos gastos federais, com o enxugamento da máquina e a limitação do nível de endividamento da União