São Paulo, 24 - "Que País é esse?", reagiu o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, na manhã de 14 de novembro de 2014, ao ouvir voz de prisão da Polícia Federal, em sua casa no Rio de Janeiro, em ligação ao seu advogado Renato de Morais - a quem chama de "xará".
A indignação do ex-diretor - apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como homem-forte do PT no esquema de corrupção na Petrobras - ocorreu após ele ser comunicado pelos agentes, já dentro de sua casa, que seria levado para a carceragem da PF em Curitiba, base da investigação.
Duque seria o diretor responsável pela arrecadação de 2% de propina em todos os contratos das demais diretorias da Petrobras. Só na Diretoria de Abastecimento, nos esquemas de desvio comandados por outro ex-diretor, ele teria captado R$ 640 milhões entre 2004 e 2012.
O ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, que era braço-direito de Duque, afirmou em sua delação premiada que o tesoureiro do PT, João Vaccari, arrecadou "até US$ 200 milhões" para o partido, via Diretoria de Serviços.
Naquele 14 de novembro, a PF deflagrou a sétima fase da Lava Jato, batizada de Juízo Final, que tinha como principal alvo o braço empresarial do esquema. Eram 7h, quando os policiais encerraram as buscas dentro da residência de Duque. Ele liga para o advogado, que o questiona. "É busca e apreensão só? Não tem mandando de condução coercitiva, nem prisão?"
Depois de consultar o delegado que comandava a operação, Duque responde ao advogado: "Tem mandado de prisão temporária".
Ao ouvir do delegado que seu destino é a custódia da PF no Paraná, Duque reclama com o advogado, ao telefone: "O que é isso, cara?, que País é esse?".
O advogado o orienta a manter "a calma" e diz que prisão temporária "não tem maldade". Duque tem reiterado que não tem qualquer relação com o esquema denunciado pela Lava Jato. Ele foi solto por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).