Uberlândia, 27 - O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, participou nesta sexta-feira, 27, de um ato de repúdio ao atentado sofrido pelo promotor Marcos Vinícius Ribeiro Cunha, que conduziu investigação que levou à cassação do mandato do ex-presidente da Câmara de Monte Carmelo Valdelei José de Oliveira.
O evento, organizado na sede da subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi realizado sob forte aparato de segurança, que se estendia também para outros pontos de Uberlândia, principalmente o trajeto feito por Janot e outras autoridades, como o procurador-geral de Justiça de Minas, Carlos André Mariani Bittencourt, e integrantes dos ministérios públicos de vários Estados, além de magistrados e representantes de outros órgãos de segurança.
Segundo o tenente Thiago Lana, da Companhia de Missões Especiais da Polícia Militar mineira e encarregado de coordenar a operação, 80 militares foram mobilizados para participar do esquema de segurança, além de dezenas de policiais civis, federais e de seguranças das demais instituições, como o Ministério Público e a magistratura.
No caso da PM, além de integrantes da companhia de área, também foram mobilizados integrantes do Grupamento de Ações Táticas Especiais (Gate), do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) e do canil. Todo o entorno da OAB estava repleto de militares fortemente armados, inclusive com fuzis automáticos, além de dezenas de viaturas.
Até atiradores de elite e um helicóptero do Comando de Radiopatrulhamento Aéreo (CORPAer) foram mobilizados para garantir a segurança. O aparato, que já era bastante ostensivo no aeroporto, foi montado também na sede do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Triângulo, onde Janot se encontrou com o promotor Marcos Vinícius Cunha, que teve alta do hospital na quinta-feira, 26. "Infelizmente, o fato com o promotor já ocorreu. Agora, temos que pensar para frente. Estamos trabalhando para que nada aconteça. Não só por causa do procurador-geral da República, mas também de todas as outras autoridades presentes", salientou o tenente Thiago Lana.
Lava Jato
Na próxima semana, o procurador-geral da República deve apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedidos de abertura de inquérito ou denúncia contra dezenas de políticos acusados de envolvimento no bilionário esquema de desvio de recursos da Petrobrás investigado pela Operação Lava Jato. O caso já levou ex-diretores da estatal e executivos de algumas das maiores empreiteiras do País para a prisão.
Nesta semana, Janot se encontrou com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para falar sobre o aumento no risco à sua segurança. Durante o evento, o procurador revelou que sua casa foi invadida em janeiro e que nada de valor foi levado, levantando suspeitas. Questionado se acredita que o aumento das ameaças teria relação com o caso Lava Jato, Janot foi sucinto: "Não sei. Isso eu não posso dizer". Mas, em seu discurso, defendeu um combate a duas "chagas que hoje destroem a sociedade brasileira". "De um lado é a corrupção e de outro o crime organizado em suas diversas atuações."
Ato
Além do forte aparato de segurança, o tema de todos os discursos feitos no ato, assim como o das conversas entre os diversos representantes de órgãos de segurança presentes ao evento era um só: o atentado a Marcos Vinícius e a ameaça à segurança dos agentes públicos. O promotor foi baleado duas vezes nas costas e uma no braço no último dia 21, ao deixar a sede da promotoria de Monte Carmelo, no Alto Paranaíba. No dia seguinte, Juliano Aparecido de Oliveira, de 21 anos, admitiu ter atirado em Cunha para se vingar de uma ação do promotor que levou à cassação do mandato do pai do acusado, o ex-presidente da Câmara do Município Valdelei José de Oliveira, também preso.
Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o ataque ao promotor foi um "duplo atentado". "Além da integridade física do colega Marcos Vinícius, (o atentado) atinge a instituição Ministério Público. E não é uma instituição qualquer. É a instituição que a Constituição Federal vocacionou para ser aquela responsável na defesa do Estado democrático de Direito. Atingir essa instituição é, sim, atingir o Estado democrático de Direito", declarou.
Sem citar os riscos à própria vida que o levaram a aumentar as medidas de segurança, Janot salientou que o ato promovido nesta sexta foi importante para que "não deixemos que estes atentados e coações sejam banalizados". "A partir do momento em que aceitemos a banalização desses atentados e dessas ameaças, a nossa estrada será sombria e o resultado não será bom. Não podemos tolerar de forma alguma ameaças e atentados aos agentes públicos", afirmou. "Foi um atentado contra tudo e contra todos", concordou o presidente da Associação Mineira do Ministério Público, o procurador de Justiça Nedens Ulisses Freira Vieira, segundo o qual a atividade do MP "é de risco porque atrai a ira".