Brasília – Marcada por tumulto e bate-boca, a primeira sessão deliberativa da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, aprovou ontem a convocação de pelo menos 21 pessoas, que deverão prestar depoimento ao colegiado ao longo das próximas semanas, entre eles os ex-presidentes da estatal Graça Foster e Sérgio Gabrielli, o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, o ex-gerente da companhia Pedro Barusco e o doleiro Alberto Yousseff. Além de chancelar o plano de trabalho proposto pelo relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), com a previsão das convocações, a CPI elegeu ontem os três vice-presidentes.
Os desentendimentos que esquentaram a sessão começaram depois de o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB) anunciar que criaria quatro sub-relatorias. Insatisfeitos por terem sido deixados de fora da decisão e do acordo para a escolha
Motta costurou, ao longo dos últimos dias, um acordo com partidos de oposição, como o PSDB e o DEM, para viabilizar a criação das sub-relatorias, cuja ideia original foi apresentada pelos tucanos. Deixados de fora do acordo, PPS e Psol reagiram. O deputado Edmilson Rodrigues (Psol-PA) foi até a mesa de Motta e o chamou de “moleque”.
Motta aproveitou a indicação dos vice-presidentes ontem para contemplar setores de oposição. Assim, a primeira vice-presidência será do tucano Antonio Imbassahy (BA). A segunda ficará com o pedetista Félix Mendonça Júnior (BA), e a terceira com Kaio Maniçoba (PHS-PE). A decisão, que desagradou partidos como o PT, o PPS e o Psol, teve por objetivo “diversificar” a direção do colegiado, segundo Motta. “Não vamos permitir que se faça, nesta comissão, um terceiro turno”, disse ele. Deputados do PT chegaram a reivindicar o direito de o relator, Luiz Sérgio, indicar os sub-relatores.
Depoimentos
O primeiro depoimento da CPI deve ser de Pedro Barusco. Na sequência, serão ouvidos Graça Foster e Sérgio Gabrielli. Por estar em prisão domiciliar, Barusco precisará de autorização da Justiça para comparecer à CPI. Além de convocar boa parte da antiga diretoria executiva da estatal, que esteve à frente da empresa durante o período em que ocorreram as irregularidades, o plano de trabalho contempla também a convocação de ao menos cinco dirigentes atuais da companhia, mesmo que estes não estejam, por ora, sendo investigados na operação Lava-Jato, deflagrada pela Polícia Federal. A CPI quer ouvir, entre outros, João Adalberto Elek Júnior, diretor de Governança, Risco e Conformidade da estatal; o atual diretor de Gás e Energia, Hugo Repsold; e Gustavo Adolfo Villela de Castro, gerente de Engenharia Naval da empresa. Inicialmente, a CPI tem prazo de 180 dias para concluir os trabalhos. Esse período pode ser ampliado caso um requerimento nesse sentido seja aprovado no plenário da Câmara.
A ida de Barusco interessa aos petistas e aos tucanos. Depois de o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), informar que não aceitaria “estender” o período investigado à gestão do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, os petistas avaliaram que o depoimento de Barusco pode ajudar a trazer a suposta corrupção na Petrobras durante a era tucana para a investigação. Em depoimento à Justiça Federal do Paraná, Barusco disse que teria começado a receber propina na Petrobras ainda em 1997, na gestão de FHC. Os tucanos, por sua vez, pretendem mostrar que o caso foi isolado.
Durante a reunião de ontem, Eduardo Cunha compareceu à CPI e se colocou à disposição para prestar esclarecimentos ao colegiado.
Atrás do dinheiro
Por sugestão do presidente Hugo Motta, a CPI contratará uma empresa de consultoria com a função de “rastrear” os recursos supostamente desviados da Petrobras. Trata-se da Kroll Advisory, sediada em Nova York (EUA) e conhecida como a maior companhia de investigações privadas do mundo. O objetivo é que a empresa encontre os recursos supostamente expatriados por Paulo Roberto Costa, Barusco e Youssef, entre outros, por meio de empresas off-shore e contas em paraísos fiscais. Esta não será a primeira vez que a Kroll atuará em investigações da Câmara; em 1992, a empresa contribuiu com a chamada “CPI do PC Farias”, cujas apurações ajudaram no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello.