Procurador-geral da República é o novo alvo de Renan Calheiros

Supostamente citado na lista de políticos envolvidos na Lava-Jato, presidente do Senado %u2018lamenta%u2019 não ter sido ouvido e ameaça criar dificuldades para recondução de Rodrigo Janot

Paulo de Tarso Lyra André Shalders Eduardo Militão Ana Maria Campos
"Quem sabe se nós não vamos ter que, como estamos fazendo com as eleições do Executivo, regrar esse sistema (de escolha do procurador-geral) que o Ministério Público tornou eletivo" - Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado - Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Brasília – Mantendo a escalada ascendente de críticas e ataques proferidos há duas semanas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), reclamou ontem de não ter sido ouvido antes pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pela lista de investigados na Operação Lava-Jato entregue ao Supremo Tribunal Federal. E ameaçou atrapalhar o processo de recondução de Janot ao cargo. “Nós estamos com o procurador-geral da República em processo de reeleição. Quem sabe se nós, mais adiante, não vamos ter também, a exemplo do que estamos fazendo com as reeleições do Executivo, que regrar esse sistema que o Ministério Público tornou eletivo”, insinuou.

As ameaças, nada veladas, ao procurador Rodrigo Janot, já haviam sido comunicadas por Renan a pessoas próximas ao longo da quarta-feira. Depois de negar que tenha sido avisado com antecedência sobre a inclusão de seu nome na lista entregue ao Supremo, o presidente do Senado mudou a postura de atuação nos bastidores e decidiu partir para o confronto aberto. “A política é muito criativa. Mas não vejo no horizonte possibilidades de recuo de Renan”, disse um interlocutor do presidente do Senado.

A nova rodada de ataques de Renan foi feita em um momento em que os senadores discutiam uma proposta incluída na reforma política, que prevê a desincompatibilização do cargo para os mandatários que disputam a reeleição. “Essa é uma prática, senador Reguffe (PSB-DF), que devia valer para todas as eleições do Executivo e até mesmo do Ministério Público”, provocou.

Ao deixar o plenário, o peemedebista fez as críticas diretas ao procurador-geral.

“Só lamento que o MP não tenha ouvido as pessoas, como é praxe, para que as pessoas questionadas possam se defender, apresentar as suas razões. Mas isso tudo é da democracia. Quando há excesso, quando há pessoas citadas injustamente, a democracia depois corrige tudo isso”, afirmou.

O episódio de ontem foi o capítulo mais recente do surgimento de um novo Renan. Alguns correligionários do presidente do Senado lembram que a impaciência do peemedebista está mais ligada à Operação Lava-Jato do que à economia. “Cada vez mais me convenço de que Renan soube que seria citado no início da semana passada, antes do jantar com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A inflexão no comportamento começou ali”, declarou um senador da base de apoio ao governo.

Desconforto

Os primeiros recados foram dados ao chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, eterno desafeto, nos dias subsequentes. Renan disse que a “coalizão era capenga” e que o ajuste fiscal era pífio”. A semana mal começou e Renan recusou-se a jantar com a presidente Dilma Rousseff na segunda, devolveu uma medida provisória de ajuste fiscal na terça e atacou Janot ontem. “Renan abandonou o morde e assopra tradicional da política e está mordendo cada vez mais forte. E em alvos diferentes. É uma tática arriscada”, disse um correligionário que não apoia o comportamento do presidente do Senado.

Se Renan está pressionado, a situação de Janot mostra-se longe de ser confortável. Antes mesmo das declarações contra Janot desferidas pelo presidente do Senado, procuradores do Ministério Público temiam a reação de um enfrentamento com o Congresso. Para eles, havia o perigo de os projetos de interesse da instituição ficarem sob risco de retaliação por causa dos desdobramentos da Lava-Jato.

O Estado de Minas apurou que uma das principais bandeiras hoje é o aumento salarial para os servidores, parte deles em greve.

Outros projetos importantes são quatro propostas que autorizam, explicitamente, as investigações criminais no Ministério Público. As medidas sepultariam de vez “futuros filhotes” da PEC 37 e sofrem oposição da Polícia Federal, que luta para derrubá-las.

A carta de Janot aos colegas anteontem foi uma maneira de pedir apoio. Alguns colegas não gostaram de sua aparição na frente da PGR na segunda-feira à noite, segurando um cartaz que o elogiava. “Janot, você é a esperança do Brasil”, dizia o texto. Por outro lado, alguns viram na atitude dele uma forma de ganhar apoio popular, como fez o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão.

O ministro relator da Operação Lava-Jato, Teori Zavascki, pretende concluir a análise dos 28 pedidos de abertura de inquérito hoje, quando a lista de envolvidos deve ser divulgada.

 

O kamikaze do PMDB
Estrela dos bastidores e subterrâneos da política, Renan Calheiros eleva tom contra o Planalto e o procurador-geral

23 de fevereiro
» No dia seguinte ao jantar com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o presidente do Senado afirma que o ajuste fiscal do governo é pífio e a base aliada está capenga

26 de fevereiro
» Renan recebe o ex-presidente Lula na residência oficial. Ao lado de outros peemedebistas, cobra maior participação do partido na articulação e nas formulações internas das políticas públicas do governo

2 de março
» Renan surpreende até os companheiros de partido ao recusar o convite da presidente Dilma para um jantar no Palácio da Alvorada

3 de março

» Após o vazamento da informação de que Renan estaria na lista da Operação Lava-Jato, presidente do Senado resolve devolver a medida provisória que altera as alíquotas incidentes sobre a folha de pagamento

5 de março

» Renan critica o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, defendendo que ele deveria ouvir antes as pessoas que, porventura, tenham sido denunciadas. E sinaliza dificuldades para a recondução de Janot para mais um mandato na Procuradoria-Geral da República

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