Brasília – O cabo de guerra entre Executivo e Congresso Nacional potencializado na última semana em Brasília tem elementos que não devem em nada ao roteiro do drama político da série norte-americana House of cards. A terceira temporada da novela de ficção traz o protagonista Frank Underwood, interpretado por Kevin Spacey, como presidente dos Estados Unidos passando por uma crise de impopularidade e tendo dificuldades para conquistar o apoio do próprio partido para a aprovação de projetos importantes. Na realidade brasileira, a presidente Dilma Rousseff enfrenta batalhas inglórias semelhantes. Depois de ter vencido a reeleição, a chefe de Estado vem encontrando obstáculos para ter a aceitação de seus projetos no Parlamento, principalmente pela insatisfação da base aliada.
Em um dos episódios da ficção, Underwood cogita mexer nas regras de programas assistenciais, mas sente a rejeição do projeto pela oposição e a base aliada. Dilma também encontrou resistência dos parlamentares ao anunciar medidas provisórias que afetam, por exemplo, o pagamento e pensão por morte, auxílio-doença e abono salarial. Para se tornarem leis, as MPs deverão ser votadas no Congresso. A presidente já disse que está disposta a negociar com deputados e senadores. Na semana passada, a presidente se reuniu com o maior partido aliado, o PMDB, com a promessa de melhorar a interlocução do governo com o Legislativo.
CARGOS Aqui como lá, tanto oposição quanto governo foram contrários aos planos dos presidentes por questões políticas, disputa pela sucessão e cobiça de cargos-chave no Parlamento. A série mostra que a briga entre Congresso e Executivo não é uma exclusividade da política brasileira. “O jogo nos bastidores da política se assemelha”, comenta o cientista político da Universidade de Brasília João Paulo Peixoto.
Na última semana, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), protagonizou uma cena digna de House of cards. Devolveu à Presidência da República a medida provisória que aumentaria o custo da folha de pagamentos das empresas. O peemedebista anunciou a decisão no plenário do Senado. Afirmou que aumentar impostos por medida provisória é inconstitucional e o governo estaria gerando insegurança em quem investe no país. A atitude do presidente, que compõe a base aliada, mostrou a insatisfação do PMDB na relação com Dilma. A petista, por sua vez, assinou um projeto de lei com o mesmo texto da medida provisória horas depois. Um enredo de manobras políticas, traições e jogo de poder que não deve em nada à ficção estadunidense.
Realidade x ficção
Confira as semelhanças entre a gestão da petista e a série norte-americana
Dilma
Dificuldades de interlocução com o Congresso
» Na última semana, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se ausentou de jantar no Palácio do Alvorada com líderes e ministros do PMDB. Depois, ele ainda devolveu uma medida provisória enviada pela presidente
Popularidade
» Meses depois de ser reeleita, Dilma passa pela pior crise de popularidade de seu governo, ao tomar medidas de ajuste fiscal e contenção de gastos
Cortes trabalhistas
» Dilma anuncia que vai dificultar a concessão de uma série de benefícios previdenciários
Dificuldades com o próprio partido
» Em campanha para a reeleição, partidários pediam a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Frank Underwood
Dificuldades de interlocução com o Congresso
» No fim da segunda temporada, Frank Underwood assume o cargo de presidente dos EUA. Sem passar por eleições, o político se sente isolado
Popularidade
Justamente por não ter sido aclamado, Frank é desconhecido pela população
Cortes trabalhistas
Underwood cogita mexer nas regras de programas assistenciais para realizar um projeto próprio
Dificuldades com o próprio partido
Os Democratas pedem para que Frank desista da candidatura à reeleição