A LISTA DE JANOT

Base aliada suspeita de 129 crimes

STF autorizou abertura de 23 inquéritos contra 34 integrantes da composição governista. Entre as acusações estão corrupção passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha

Eduardo Militão
Entre os 35 nomes do Congresso Nacional incluídos na relação, 24 são deputados federais e 10, senadores - Foto: Breno Fortes/CB/D.A Press
Brasília
– Trinta e quatro integrantes da base aliada da presidente Dilma Roussef são suspeitos de envolvimento em quatro crimes na Operação Lava-Jato, apurados em 23 diferentes inquéritos. São 50 indícios de corrupção passiva, 50 de lavagem de dinheiro, um de evasão de divisas e 28 de formação de quadrilha. Os alvos são os 24 deputados e 10 senadores de PT, PMDB, PP e PTB que integram a lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que apura pagamento de propina na Petrobras. A maior parte dos políticos é suspeita de receber propina e de tentar esconder a origem do dinheiro fruto de negociatas.

Janot obteve autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para abrir inquéritos contra 49 pessoas, sendo 35 parlamentares – o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) é o único nome da oposição. E ainda enviou pelo menos cinco investigações para outros tribunais, já que os personagens não têm mandato, como o ex-ministro da Casa Civil Antônio Palocci. O crime de corrupção passiva prevê de dois a 12 anos de cadeia. De lavagem, de três a 10 anos. Além da multa, o tempo de prisão pode aumentar se algum ato do agente público for retardado ou negligenciado em razão do suborno ou, ainda, se o crime for praticado por pessoas em cargos comissionados ou na direção de estatais.
É a corrupção passiva qualificada. É o caso da senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Gleisi Hoffman (PT-PR). Assim como ela, o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (PMDB-MA) é suspeito de corrupção qualificada e ainda responde por quadrilha. Nos documentos enviados ao ministro Teori Zavascki, do STF, Janot sugere que parlamentares, ex-parlamentares, ex-ministros e ex-governadores estariam envolvidos em uma “organização criminosa complexa”.

A ex-ministra Gleisi foi acusada por Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de participar do esquema de desvios na estatal. Empreiteiras em cartel superfaturavam contratos e repassavam propinas. “Agentes públicos, políticos e empresários atuavam em concerto”, afirma Janot no pedido de abertura da investigação. O doleiro disse que a então ministra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até a presidente Dilma conheciam o esquema, além dos ministros Edison Lobão e Ideli Salvatti (Direitos Humanos); José Dirceu e Antônio Palocci. “Paulo Roberto determinou a entrega de valores, recordando-se no caso da campanha para o Senado de Gleisi Hoffman no ano de 2010, quando o declarante pessoalmente entregou a quantia de R$ 1 milhão para um senhor em um shopping de Curitiba”, relatou Youssef. Janot afirma que as apurações da Lava-Jato obtiveram documentos que “aparentemente confirmam o teor das declarações dos colaboradores”. O procurador cita uma agenda de Paulo Roberto com anotações de propinas. Em relação a Gleisi, disse o ex-diretor, a indicação é “PB” e “1,0”, uma referência ao marido da senadora, Paulo Bernardo, e ao pagamento.

QUADRILHA O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o Ministério Público Federal a investigar ainda se os políticos suspeitos de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras formavam uma quadrilha para cometer os crimes. O Código Penal estabelece pena de 1 a 3 anos para o crime de formação de quadrilha, o que pode elevar a punição total dos investigados em caso de condenação.
Entre os nomes que serão investigados neste ponto estão o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Segundo o procurador-geral, a abertura de procedimento específico para apurar a existência de uma atuação coordenada dos políticos no esquema visa “à integral apuração do processo sistêmico de distribuição de recursos ilícitos a agentes políticos, notadamente com utilização de agremiações partidárias”.

O ex-presidente Fernando Collor é o único a ser investigado por evasão de divisas. Documentos bancários mostram que ele recebeu dinheiro do doleiro Alberto Youssef. Em depoimento em 15 de fevereiro, Youssef disse que os valores foram entregues em espécie ao senador em um apartamento em São Paulo. O senador afirmou, em uma rede social, que é “estranho” a inclusão do nome dele na lista de Janot. “Estou limpo, não temo nenhuma investigação e vou provar, mais uma vez, minha inocência”, completou..