O pronunciamento da presidente Dilma Rousseff, em rede nacional, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher e em defesa das medidas fiscais da economia, colocou ainda mais lenha na crise política que o país vem atravessando desde sua reeleição. O panelaço, promovido pelos descontentes com a administração petista, provocou ontem reações fortes da própria presidente, do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e uma onda de comentários nas redes sociais. Durante solenidade para sanção da Lei do Feminicídio, Dilma disse que as manifestações são legítimas, mas ressaltou que a defesa de um terceiro turno da eleição presidencial é “uma ruptura da democracia.”
Em defesa da democracia, a presidente Dilma contou com o apoio até do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um dos principais líderes da oposição. Para FHC, um eventual impeachment não seria solução. “Tirar a presidente da República não adianta nada. O que vai fazer depois?”, disse durante seminário no Instituto FHC, em São Paulo. No entanto, ao fazer uma análise da conjuntura política, o tucano criticou o modelo de presidencialismo que chamou de “cooptação”, o qual estaria exaurido, e completou: o sistema político está espatifado. O candidato derrotado do PSDB à vice-presidência da República, senador Aloysio Nunes, também afastou a hipótese de impeachment, mas foi duro. Afirmou que queria ver a petista “sangrar” durante os próximos quatro anos de governo.
Já o senador Aécio Neves (PSDB-MG) criticou a postura da presidente. Disse que “as manifestações que ocorrem nas redes sociais, nos panelaços e nas ruas não defendem um terceiro turno. O PT não é uma instância suprema que pode decidir quais opiniões são legítimas e quais não são”. E foi além: “o PT continua tentando tapar o sol com a peneira ao tentar responsabilizar a oposição pelas repetidas, e cada vez mais frequentes, manifestações críticas ao governo. Fazer uma mea-culpa, admitindo os graves erros cometidos do ponto de vista gerencial e ético, talvez seja um bom recomeço para se tentar resgatar, pelo menos em parte, a confiança perdida”.
No meio do turbilhão, a presidente Dilma Rousseff anunciou ontem que deve se encontrar hoje com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de participar em São Paulo da abertura de uma feira para o setor de construção civil. “O presidente Lula é uma liderança que a presença dele, eu acho, contribui, porque ele tem noção de estabilidade, ele tem compromisso com o país. Ele não é uma pessoa que gosta de botar fogo em circo”, justificou. Dilma disse também que na democracia é preciso conviver com as diferenças e que não se podem aceitar atos de violência em protestos. “Eu acredito que a sociedade brasileira não aceitará rupturas democráticas. E eu acho também que nós amadurecemos suficientemente para isso”, completou.
Falando no mesmo tom da presidente, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também defendeu o direito de manifestação dos descontentes. “O protesto é um direito do cidadão. Discordar do governo, expressar opiniões. Reconhecemos plenamente o direito de manifestação, mas preocupa porque a eleição foi bastante polarizada, Segundo ele, os protestos foram realizados em cidades e bairros onde Dilma foi derrotada na eleição. Mesma avaliação do vice-presidente da República, Michel Temer. “A eleição acaba quando alguém vence, e nós vencemos”, afirmou o ministro.
Internet
Outro bom termômetro para avaliar o tamanho do rastilho de pólvora causado pelo pronunciamento de Dilma é o bate-boca virtual que há dois dias domina o próprio perfil oficial da presidente no Facebook. O post de seu pronunciamento registrava ontem, às 18h, 633.707 visualizações, 12.650 compartilhamentos, 18.688 curtidas e 13.830 comentários. Em diferentes tons, mais ou menos exaltados, mais ou menos educados, cada um deixou o seu recado. “Dá um jeito nessa bagunça, começa enxugando ministério, reforma política, caça a corruptos. Não me peça paciência, tenho dois empregos, luto por minha família, não me peça paciência”, reclamou Ernesto Almeida Lisboa. “ Parabéns presidente Dilma Roussseff, a senhora honra o meu voto e os mais de 54 milhões de brasileiros que lhe confiaram a missão de governar esta grande nação chamada Brasil, ainda que tenha enfrentar a fúria dos poderosos da mídia e do Congresso... “, devolveu Cristiam Fellipe. (Com agências)