No primeiro depoimento de impacto na CPI da Petrobras, o ex-gerente de Serviços da estatal Pedro Barusco admitiu nessa terça-feira (10) que recebeu propina pessoal a partir de 1997, durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e que, a partir de 2003, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os pagamentos passaram a ocorrer de forma “institucionalizada”. Segundo Barusco, por meio do esquema, houve repasses para a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010. Ele apontou como “protagonistas” no esquema de desvio de recursos da estatal o ex-diretor de Serviços Renato Duque e o tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que teriam se reunido várias vezes em restaurantes para discutir a divisão dos valores desviados.
“Como faz parte do meu termo de colaboração, comecei a receber (propinas) em 1997, 1998. Foi uma iniciativa pessoal junto com representante da empresa. De forma mais ampla, em contato com outras pessoas, de forma mais institucionalizada, isso foi a partir de 2003 e 2004”, afirmou Barusco. Segundo ele, os encontros ocorriam principalmente nos hotéis Meliá, em São Paulo, e Windsor, no Rio de Janeiro, mesmos locais onde o ex-diretor Renato Duque e Vaccari se encontravam, conforme relatado pelos dois à Polícia Federal (PF). O ex-gerente da estatal disse que os assuntos tratados nos encontros eram sempre combinados com Vaccari, responsável por gerenciar a distribuição da propina no PT. “Não sei como ele recebia, para quem ele distribuía, se era oficial ou extra-oficial.
De acordo com o relato do executivo, o esquema de repasses para a campanha presidencial de 2010 ocorreu por meio da empresa holandesa SBM. Ele explicou que o representante da empresa no Brasil, Júlio Faerman, repassou os recursos a ele e que foi feita uma negociação com Vaccari, definindo o pagamento ao seu partido. “Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha. Não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas de outro recebimento. Foi para a campanha presidencial de 2010, na que teve José Serra e Dilma Rousseff. A doação foi ao PT, pelo João Vaccari Neto”, afirmou.
Em seu depoimento, Barusco pediu para fazer um esclarecimento sobre sua declaração de que o PT teria recebido entre US$ 150 e US$ 200 milhões por meio do esquema e disse não ter certeza desses valores. “Gostaria de esclarecer um detalhe: dizem que eu acusei o PT de receber US$ 150 ou US$ 200 milhões. O que eu disse é que eu estimava esse valor, que por eu ter recebido a quantia divulgada, como o PT estava na divisão da propina, cabia a ele receber o dobro ou um pouco mais. O cálculo foi feito por estimativa. Se eu recebi, porque os outros não teriam recebido?”, justificou o ex-gerente, provocando risos entre os integrantes da CPI.
Barusco disse que recebeu cerca de US$ 97 milhões em propinas entre 2003 e 2011 e desabafou sobre sua atuação no esquema. “Esse é um caminho que não tem volta. A gente começa a receber recurso no exterior, vai indo, vai indo, vai crescendo, de um ano para outro.
BATE-BOCA A sessão da CPI da Petrobras durou mais de seis horas e foi marcada por momentos tensos. Houve bate-boca quando Barusco se negou a dar detalhes sobre o recebimento de propina durante a gestão de Fernando Henrique, alegando estar sob investigação. Parlamentares do PT questionaram os atos de corrupção entre 1997 e 2002 admitidos por Barusco, mas o ex-gerente disse não poder se pronunciar sobre tais questões e recebeu duras críticas dos petistas.
Antes de iniciar a reunião, os parlamentares negaram o pedido feito pela advogada de Barusco, Beatriz Catta Preta, para que o depoimento fosse secreto. Houve discussões sobre a possibilidade de dois parlamentares investigados na Operação Lava Jato participarem dos trabalhos da CPI. “Essa CPI não pode começar em pizza. Não há condição de investigado investigar”, reclamou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). O relator Luiz Sérgio (PT-RJ), no entanto, afirmou que não tem poder para substituir os membros investigados e somente os líderes partidários poderiam decidir por trocas.
Depois da discussão, a bancada do PP decidiu então retirar da comissão os deputados Lázaro Botelho (TO) e Sander Júniro (GO), que participavam da comissão e estavam incluídos na lista de 34 congressistas que tiveram pedido de abertura de inquérito acolhido pelo Supremo Tribunal Federal e serão investigados. Segundo o líder do PP, deputado Eduardo da Fonte (PE), os próprios parlamentares manifestaram o desejo de deixar a CPI. Suas vagas foram ocupadas por Beto Rosado (PP-RN) e Covatti Filho (PP-RS), cujo pai, Vilson Covatti (PP-RS), também está na lista de investigados. Também permaneceu na comissão o deputado Cacá Leão (PP-BA), filho do vice-governador da Bahia João Leão (PP), que, depois de ter seu nome incluído na lista, afirmou estar “cagando e andando” para a investigação..